É fantástico!
A espionagem americana focou na presidente Dilma Rousseff seus ouvidos e olhos sensíveis e poderosos para descobrir: como é que ela se comunica com “seus principais assessores”?
Nem no próprio Palácio do Planalto se sabe quando, onde e como se estabelece contato da presidente com o ministro da Pesca, Marcelo Crivella. A superpotência, com 15 secretários, equivalentes a nossos ministros, tem muito a aprender com um País com 39 Ministérios e Secretarias. Talvez por isso o escopo dos espiões tenha sido “melhorar a compreensão dos métodos de comunicação” brasileiros.
Uma contradição: se fossem assim tão bons, esses métodos estariam imunes à espionagem. Se um jornalista americano no Rio consegue blindar-se hermeticamente, exceto quando manda seu namorado buscar dados em Berlim, como é que um governo pode ser tão poroso e frágil?
Os espiões devem ter ido mais a fundo, procurando dados ultrassecretos, porque a presidente, ultrajada, convocou ministros (só alguns) e proclamou “situação de emergência”. Mas o que será que aconteceu em junho de 2012 para atiçar tanto a espionagem americana?
Ah, o Brasil perdeu da seleção mexicana, 2 a 0. Daí a operação ser batizada de Goal? Não deve ter sido mera coincidência os espiões, ao mesmo tempo, se dedicarem ao então presidente eleito do México, Peña Nieto. Leram seus e-mails tratando de nomes para formar o novo governo (com 20 ministérios). Ou será que estavam atrás do ex-ministro Gilberto Gil? Afinal, ele estreava o Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo.
Mais provável, os EUA queriam se antecipar aos resultados da Rio + 20, em que Dilma revelaria, afinal, qual O Futuro que Queremos. Suspeito também aquele encontro do ex-presidente Lula com Little Mouse, o Ratinho. E o que dizer da Marcha das Vadias, no Rio?
Dois acontecimentos políticos devem ter atiçado a espionagem americana: (1) o encontro do rei Juan Carlos e de Dilma, encerrado com beija-mão e a promessa de que os brasileiros serão melhor tratados no aeroporto de Barrajas, antes de deportados; e (2) o impeachment do presidente Fernando Lugo pelo Senado paraguaio.
Para o Brasil, fora um golpe. E para muitos governos latino-americanos, um golpe dos Estados Unidos, que logo apoiou o sucessor. O que o evidenciava? Um convite para a festa de 4 de julho, em Assunção, com certeza: “Estou sendo convidado para ir como presidente ou como cidadão?”, perguntou Lugo. E o embaixador Thessin o tranquilizou: “Como presidente, é claro”. Ambos não compareceram.
Nessa época, a presidente Dilma trocou e-mails com o então presidente Chávez, que, vivo, ainda não era o passarito que dialoga com seu sucessor, Maduro. E tem mais: com Cristina Kirchner ela falou ao telefone. Mas que espião aguentaria escutá-las?
A presidente Dilma está tão inconformada com a espionagem que mandou convocar o “querido” embaixador americano em Brasília para um pito, algumas horas apenas depois das revelações na noite de domingo. Agora ela quer que os nossos Correios desenvolvam um sistema de e-mail indevassável. E já cogita não visitar mais o presidente Obama, na Casa Branca, em outubro. Mas espera que a próxima pesquisa de opinião reflita o embate entre ela e o império. Realmente, é Fantástico.
Moisés Rabinovici