Questões estruturais por trás do déficit
O saldo negativo de transações correntes de R$ 43,5 bilhões acumulado de janeiro a junho deste ano é preocupante e já responde por 3,17% do Produto Interno Bruto (PIB). Se continuar crescendo nesse ritmo no segundo semestre, a relação pode chegar a 4% no início de 2014, de volta a patamar visto só em 1999. Essa é a projeção de Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). Segundo ele, a média histórica da proporção do saldo de transações correntes e o PIB é de 1,2% desde janeiro de 2000. “É um patamar preocupante, mas razoável se comparado a países emergentes”, afirma.
Para Lima, o que tem feito o déficit em transações correntes crescer são questões estruturais que não mudam no curto prazo, como a desaceleração da China – que faz diminuir as exportações – e o fato das importações brasileiras ainda não serem tão competitivas, além de uma Argentina mais protecionista. Outro fator estrutural é a recuperação da economia dos Estados Unidos, que deve continuar pressionando a taxa de juros dos títulos norte-americanos. “Se a recuperação continuar, isso deve consolidar a taxa de câmbio em um patamar mais alto, com tendência de depreciação maior para frente”, diz.
Para o presidente da Sobeet, a taxa de câmbio deixou o patamar de R$ 2 a R$ 2,10 para o intervalo de R$ 2,20 a R$ 2,30 para cima. A notícia pode ser boa para a balança comercial, que também decepcionou neste mês, com déficit de R$ 3,1 bilhões no ano até junho. “Todo mês a balança traz surpresas, negativas ou positivas. A reação é um pouco demorada”, acrescentou.
Passivo externo – Segundo Lima, a volatilidade da taxa de câmbio pode interferir também no estoque de passivo externo – o volume que o País tem de obrigações com acionistas e investidores via investimentos estrangeiros diretos (IED), ações na Bolsa de Valores e aplicações em títulos de renda fixa. “É melhor que o dólar fique estável. Com o câmbio volátil, o investidor não consegue fazer a conta da taxa de retorno do investimento”, diz.
Segundo o presidente da Sobeet, a posição do estoque de passivo externo está fortalecida, no patamar de 68,2% do PIB no ano até o mês de maio. Na distribuição, o mais relevante é o IED, que responde por 31,9% do passivo externo, seguido por renda variável (14,5%), renda fixa (12,4%) e créditos comerciais (9,2%).(DC)