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Jogo de empurra

Se havia alguma dúvida de que está carcomido o sistema de apoio político da presidente Dilma Rousseff (PT), o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tratou de reduzi-la a pó.
Em entrevista à Folha e ao UOL, o presidente da Câmara afirmou que Dilma deveria preparar para o começo do segundo semestre uma reforma em sua equipe. Sem aparentar nenhum pudor com as próprias palavras, Alves sugeriu a diminuição do número de ministérios, dos atuais 39 para 25.
É difícil crer que o terceiro nome na hierarquia da República esteja falando sério. O sempre governista PMDB é o maior aliado da administração petista e está abrigado em cinco pastas: Agricultura, Minas e Energia, Previdência Social, Turismo e Aviação Civil (secretaria com status ministerial).
É razoável supor que, em uma eventual ordem de despejo, os titulares desses últimos dois ministérios terminariam desalojados.
Ainda que se possa argumentar que o PMDB veria aumentar seu poder relativo caso fossem cortadas 14 pastas –algumas siglas da base aliada poderiam ficar sem espaço no governo federal–, o mais provável é que Henrique Alves, com a anuência de seu partido, esteja apenas armando uma esparrela para a presidente.
Se Dilma reduzir os ministérios neste momento, não só ampliará os atritos com os aliados como terá agido somente após manifestação do PMDB –e não por iniciativa própria. Dois resultados indesejáveis do ponto de vista eleitoral.
Por outro lado, se a presidente nada fizer –e parece ser exatamente este o caso, como já sinalizou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti–, ela carregará o peso de não ter dado a devida atenção aos protestos recentes.
O presidente da Câmara devolve para Dilma, com isso, a responsabilidade de dar uma resposta às ruas –ônus que a petista tentou transferir para o Congresso Nacional ao sugerir uma reforma política pela via plebiscitária.
Sob a perspectiva orçamentária, a redução de ministérios teria pouco impacto nas contas públicas. Estima-se que o custo da gestão federal (a máquina das 39 pastas) represente menos de 10% das despesas primárias do governo (sem considerar gastos com juros).
Se cabe a paráfrase, não é tanto pelo corte em si, portanto, mas pelo que ele significa em termos de comprometimento com a austeridade. O governo da presidente Dilma Rousseff, contudo, parece incapaz de adotar até mesmo as iniciativas simbólicas.(Folha)

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