Ilhas querem independência de Salvador
Os moradores das ilhas de Bom Jesus dos Passos, Paramana e Frades aproveitaram o dia de greve geral para fazer um protesto no mínimo inusitado. Cansados do sentimento de não pertencer a lugar algum, eles enfrentaram a chuva para pedir, entre outras coisas, que a prefeitura de Salvador oficialize o esquecimento do qual são vítimas. E deixe que sejam anexados ao município de Madre de Deus,onde muitas das suas necessidades são supridas, principalmente, as de saúde. O protesto foi em frente ao posto de saúde da Ilha de Bom Jesus dos Passos.
Segundo um dos líderes das três comunidades, o presidente da Colônia de Pescadores eAquicultores de Bom Jesus dos Passos e Frades (Z3), Antônio Jorge Teixeira, cerca de 90% dos moradores querem deixar de ser soteropolitanos. Texeira explica ainda que a situação se tornou insustentável desde que o Tribunal de Contas exigiu que a prefeitura de Madre de Deus não gastassem seus recursos com a população das três comunidades. “Isso já tem dois meses. Desde então, nossos enfermos só são atendidos em casos de urgência”, relatou.
O postos de saúde de Bom Jesus dos Passos chegou a ficar nove meses sem médico. Há dois meses a ilha tem contado com um médico que aparece uma vez por semana. “É toda terça-feira, mas é de 8h às 12h, dá para atender no máximo 25 pessoas”, conta Alice de Souza. A moradora conta ainda que desde que Madre de Deus deixou de atender os ilhéus, ela teve que parar com um tratamento psiquiátrico. “Não tenho como ir à Salvador, o jeito é aceitar e rezar para melhorar”, conta.
A comunidade de Paramana, que faz parte da Ilha dos Frades, também é atendida por um médico, uma vez por semana e durante meio turno. Mas essa não é única dificuldade no local. Segundo uma das moradoras, o posto de saúde está caindo os pedaços. “As paredes estão rachadas. E tem mais; as condições sanitárias da comunidade são péssimas; são muitos os esgotos a céu aberto”, conta Itana Monteiro de Assis. Ela se mostra ainda mais indignada porque, segundo ela, o prefeito ACM Neto esteve na região e prometeu resolver esses problemas.
Plebiscito
Segundo Antônio Jorge Teixeira, tanto em Madre de Deus como em Salvador existem pessoas que não acreditam que as comunidades não querem sair da tutela da capital baiana. O motivo torna a situação ainda mais absurda. “Aconteceu um plebiscito há 24 anos, e os moradores das ilhas optaram por ficar com Salvador”, conta Teixeira sem deixar de explicar melhor o caso. “Há 24 anos, cerca de 60% da população era de funcionários da prefeitura de Salvador. Hoje temos uma população de 4 mil pessoas, apenas em Bom Jesus dos Passos, e entre esses não se encontra 100 funcionários da prefeitura”, esclarece.
Teixeira informa ainda que um abaixo assinado está sendo preparado para que se prove a vontade do povo. “Já colhemos 1500 assinatura, mas não tenho dúvida que os opositores do desmembramento são uma pequena minoria”, disse. Ele acrescenta que tem mantido contato com o prefeito de Madre de Deus, Jeferson Andrade, e ele se mostra receptivo à ideia.
Contra a Petrobras
A chuva e fortes ventos impediram que os pescadores da Colônia Z3 fizessem ontem na Baia de Todos os Santos uma “barcada” em protesto contra a Petrobras. Os pescadores vêm tentando ser ressarcidos pelos prejuízos que o Terminal de Regasificação trouxe para a pesca na região. Sua atividade produtiva teve uma queda de mais de 50%, desde que o terminal começou a ser implantado, em 2012. Os pescadores, no entanto, não perderam a viagem e se uniram aos sindicalistas da região de Madre de Deus e impediram que os trabalhadores do terminal embarcassem, na manhã de ontem, para a sua área de trabalho.
Segundo o presidente da colônia de pesca, a barcada – protesto em barcos – iria unir pescadores de das ilhas de Bom Jesus dos Passos, dos Frades, além de representantes de Salinas das Margaridas, Acupe, Saubara, Madre de Deus e São Francisco do Conde. A luta dos pescadores da região, que tem sido acompanhada pela Tribuna da Bahia, é para que a estatal realize projetos sociais na região como contrapartida pelos prejuízos causados à pesca, que também reflete em outros setores das comunidades.
Candeias
Representantes de diferentes centrais sindicais fizeram três bloqueios na rodovia BA-522, região de Candeias. Os bloqueios resultaram em longas filas de caminhões e carros de passeio. A maioria dos caminhões estava carregada de combustíveis.
É pela rodovia que é feito o escoamento terrestre da produção da refinaria de Mataripe (RLAM) cujos derivados abastecem o estado de Sergipe e o Norte da Bahia. Em dois pontos carros de som foram usados pelos manifestantes para criticar o governo e divulgar a pauta de reivindicação do movimento. Os bloqueios foram abertos no começo da tarde.
(IG)