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Escolas mudam forma de ensinar conteúdos após adoção do Enem


A decisão da Ufba, que foi anunciada no dia 19 de junho, forçou mudança também nas grades curriculares das escolas com relação a abordagem dos conteúdos. Pela primeira vez, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) — que usa o resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — será a única forma de seleção dos futuros universitários. 

“Havia um boato, desde o início do ano, de que a Ufba iria abolir o vestibular. Mas ficamos aguardando. Quando a decisão foi anunciada, precisamos adequar a abordagem de conteúdos. Tivemos que ampliar a lista de exercícios com foco na forma de abordagem das questões propostas pelo Enem”, explica o professor Robério Cinfrônio, coordenador de ensino médio do colégio Salesiano Dom Bosco, da Paralela. 

Robério argumenta que a Ufba imprimia exigências de conteúdos que agora não serão mais necessárias. “Havia uma cobrança de leitura obrigatória de dez livros. Isso tira uma carga de leitura dos estudantes, por exemplo, e faz com que ele tenha mais tempo para estudar outros conteúdos”. 

Adequação
A superintendente de educação básica da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), Amélia Maraux, indica que na rede pública de ensino também foi necessário mudar o planejamento para fazer a adequação dos conteúdos sem o vestibular da Ufba, que tinha demandas exclusivas.  

“Precisamos fortalecer o aprendizado nas áreas prioritárias, conforme o que é cobrado pelo Enem. Desde o ano passado, quando houve a greve dos professores (que durou 115 dias), estamos focando nesses conteúdos de formas universais”, explica.

Segundo Amélia, os professores e alunos que irão fazer o Enem estão usando materiais didáticos exclusivos para auxiliar no estudo no estilo do exame. “As questões do Enem discutem os conteúdos tradicionais de forma diferenciada. Os assuntos são cobrados dentro de uma discussão com o contexto social”, explica. Na rede pública, 144 mil estudantes estão aptos para a prova.  

A Ufba sempre teve duas fases para o vestibular. Ano passado, a primeira fase foi substituída pelo Enem. Manteve-se a segunda fase — que era formada por questões abertas (a depender do curso eram, no máximo, 15 questões em dois dias) mais uma redação. Já no Enem, ano passado, foram 180 questões de múltipla escolha para serem respondidas em dois turnos de cinco horas, além de uma redação. 

O estudante  Alberto Freaza concluiu este ano o ensino médio, mas, mesmo antes de terminar o período escolar, ele chegou a ser aprovado no curso de Biologia. “Isso aconteceu quando eu estava no primeiro ano. Agora, fico preocupado, pois o Enem tem uma forma de cobrança muito diferente daquela que a Ufba cobrava. Não gosto muito da prova do Enem, porque não dá tempo para fazer as questões direito. As questões da Ufba eram mais lógicas e  diretas”, opina. 

Concorrência
O pró-reitor de graduação da Ufba, Ricardo Miranda, prevê que haja um aumento na concorrência este ano. “Em todas as universidades que aboliram o vestibular para usar o Enem houve um ‘boom’ no volume de inscrições. Isso deve acontecer na Ufba, mas nós não temos ideia de quantas pessoas irão se inscrever”. 

Para Miranda, os estudantes vão sentir diferenças cruciais na forma de cobrança do Enem em relação às provas de vestibular da Ufba. “Os tradicionais vestibulares cobravam memorização de fórmulas e conteúdos. O Enem, por sua vez, analisa o contexto, a compreensão e a capacidade de correlacionar conteúdos. Se for cobrado o conteúdo de células, por exemplo, no Enem não vai ser perguntado os seus componentes e sim sua relação com a natureza”, diz. 
O pró-reitor da Ufba indica ainda que o fim do vestibular vai proporcionar uma ampliação da concorrência e abertura da universidade para estudantes de outras cidades da Bahia e do país.

“No último vestibular, tivemos estudantes aprovados de 26 cidades da Bahia. Com a adoção do Enem é possível que esse número aumente, já que a prova é nacional e tem um caráter universal”. A data de inscrição para a Ufba ainda não está definida. O Enem acontece nos dias 26 e 27 de outubro em todo o Brasil.

Fim de vestibular põe conteúdos do ensino médio em discussão

“O ensino médio não deve ser encarado como um local onde o aluno vai se preparar para o vestibular, e sim para a formação do cidadão. Abolindo essa prova você livra o estudante dessa praga que é o vestibular”. A análise do professor Ricardo  Miranda, pró-reitor de graduação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), reflete os atuais questionamentos sobre o tipo de conteúdo que deve ser ensinado aos jovens do ensino médio.

A superintendente de educação básica da Secretaria de Educação da Bahia (SEC), Amélia Maraux, explica que a mudança no currículo no ensino médio é necessária para o futuro. 

“Hoje se trata de áreas de conhecimento e não das disciplinas fechadas. Isso não é uma mudança que consegue acontecer de forma imediata pois será necessário até mudar a formação dos professores”, explica Maraux, ressaltando que estão sendo feitas discussões no âmbito dos estados e do Ministério da Educação (MEC) para tratar sobre essa reformulação.

Para a  superintendente, um dos pontos mais sensíveis dessa mudança é tornar o conteúdo mais próximo dos estudantes. “O grande desafio das escolas é tornar-se mais próxima dos estudantes, inclusive na transmissão de conteúdos. Temos, por exemplo, que repensar a forma de ensino do turno noturno, que, historicamente, tem indicadores educacionais problemáticos e um alto nível de abandono”, explica Maraux. Ela lembra que ainda não há prazos para que a reformulação aconteça.

Responsável pela execução do Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos (Inep) informou, através de nota, que as questões abordadas no exame têm relação direta com os saberes apreendidos pelos participantes ao longo de sua formação escolar. “O princípio da contextualização das questões bem como  as situações-problema buscam exatamente vincular o conteúdo estudado durante o ensino médio à realidade do participante do exame, estabelecendo uma relação estreita entre realidade social e saber escolar”, disse o Inep.
(Correio)

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