Corrigir injustiça com o Vasco sim, mas vamos devagar com o doce, Palmeiras
Esses dias vi um link no facebook listando o ranking das conquistas internacionais de times brasileiros. Tudo ia bem na leitura até que cheguei na altura do décimo colocado em uma lista de 12. Quando vi os títulos internacionais do Vsco… opaaaaaaaaa! (como diria o narrador do Sportv, Milton Leite). Constavam as conquistas da Libertadores 98 e da Mercosul 2000. Faltou uma que é muito antiga, mas foi reconhecida pela Confederação Sulaemericana de Fuebol (Conmebol). Sim! Em 1948, segundo o site Globoesporte.com, o Vasco foi o primeiro time brasileiro a ganhar uma competição no interior, incluindo até a seleção brasileira (como diria o vilão GLBTT da novela da Globo, “Hummm, que chique!). Trata-se do Campeonato Sulamericano de Clubes Campeões, que foi disputado no Chile, tendo como organizador o principal clube daquele país, o Colo Colo, muito conhecido da torcida brasileira aqui.
Na competição disputaram ainda o Nacional (por ter sido campeão uruguaio em 1947), o Emelec (classificado graças aos títulos de Guayaquil de 1946 e 1948, principal competição do Equador naquele período), El Litoral (campeão do Torneio La Paz, principal campeonato da Bolívia na época) e o Municipal (que era o atual vice-campeão do Peru). O Vasco ganhou o direito de representar o Brasil por ter sido campeão carioca invicto em 1947. Fechando a lista, nenhum time menos que o River Plate da Argentina, atual campeão nacional de seu país à época e que era conhecido como “A Máquina”. Tinha como principal jogador o legendário Alfredo Di Stéfano, que mais tarde se tornaria o até hoje maior jogador da história do Real Madrid, da Espanha (equipe maior vencedora da Europa em todos os tempos!)
O caminho do Vasco teve os jogos contra o Litoral (BOL), vencendo por 2 a 1; contra o Nacional (URU), goleando por 4 a 1; Contra o Municipal (PER), derrotando fácil por 4 a 0; contra o Emeleq (EQU), vencendo por vitória simples de 1 a 0; e empatando os dois últimos jogos contra o dono da casa, Colo Colo (CHI), por 1 a 1, e com “A Máquina”, por 0 a 0. Todos os jogos foram disputados na capital do Chile, Santiago, no estádio Nacional. A disputa da competição era por pontos corridos em turno único, sendo que quem somasse mais pontos ao final seria o campeão.
Pô, uma conquista inédita como essas, ainda de forma invicta, já reconhecida pela Conmebol desde 1996, considerada pela própria entidade (e, com toda certeza por qualquer especialista de futebol que estudar o assunto) como o embrião da Taça Libertadores da América, não poderia passar despercebida dessa forma da equipe do UOL Esportes em seu Ranking Torneios Internacionais dos Times Brasileiros. Se o leitor for lá, perceberá que a simples inclusão do título já faria com que o Vasco ocupasse sozinho a nona colocação, deixando para trás o Palmeiras, com sua Mercosul em 1998 e sua Libertadores em 1999. Mas enganos acontecem.
E por falar em Palmeiras, devo dizer que depois de tudo o que aqui coloquei, é preciso ir devagar com o doce. Não é porque o título do Vasco em 1948 representou o embrião da Libertadores que os vascaínos agora podem dizer que tem outra Libertadores. Sim porque recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) validou como Campeonato Brasileiro os títulos da Taça Brasil e do Torneio Gomes Pedrosa (conhecido como Taça de Prata) que agora vai virar festa. Atitude que para mim foi equivocada, porque se esses torneios aconteceram antes de 1971, antes do primeiro Brasileirão, essa unificação dos tútulos significou uma descontinuidade, no mínimo, esquisita para tudo o que conhecíamos sobre a disputa nacional do futebol brasileiro até acontecer. Como é possível alguém ser campeão de uma competição que nem sequer existia? Mas tudo bem, descontado isso, a CBF homenageou Pelé com essa unificação, e nisso acertou.
Mas em cima da lógica, o Ranking de Torneios Internacionais da UOL Esportes acertou em deixar de fora a Copa Rio de 1951 contando como “Mundial de Clubes”. Assim, como jornalista, gostaria muito de um dia ver o site do Palmeiras parar de gerar desinformação para sua torcida, abrindo a página de títulos conquistados pelo clube dizendo que a equipe tem um “Mundial Interclubes” em sua galeria de troféus. A Copa Rio de 51 foi o embrião da origem das Confederações que representam os continentes futebolísticos do planeta, foi o embrião do início dos torneios continentais (Libertadores, Liga dos Campeões da UEFA, etc), foi o embrião dos torneios Intercontinentais (considerados mundiais pelas torcidas e pela imprensa até hoje) e foi embrião da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, realizada desde o ano 2000. Mas não é “Mundial de Clubes”! Ou então, fala que o Vasco é bicampeão da Libertadores também! E o Corinthians tricampeão do mundo por causa da Pequena Taça do Mundo em 1953, e por aí vai a bagunça.
Por Paolo Gutiérrez