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As vozes roucas do lulismo

Depois de uma reunião da executiva nacional da legenda em Brasília, marcada por ácidas críticas à falta de diálogo do governo Dilma Rousseff com o partido em particular e com o mundo político em geral, o PT decidiu montar uma operação para abafar o coro cada vez mais persistente de “Volta Lula” entoado por petistas e por partidos aliados, principalmente depois de  as ruas ecoarem seus gritos de insatisfação com “tudo que está aí”.
 
A conclusão é que esses movimentos pró-Lula, menos discretos a cada vacilação do Palácio do Planalto, enfraquecem ainda mais politicamente a presidente da República. Na África e na Europa, onde esteve na semana passada – um tanto fisicamente distante das dificuldades enfrentadas pela sua pupila no Palácio do Planalto –  o ex-presidente Lula também andou, de uma forma até mesmo ríspida, desautorizando a ladainha por seu retorno em 2014.
 
 Mas mais do que dar demonstrações de incômodo e desconforto com esse novo queremismo (há quem diga, o que é natural, que no fundo Lula se envaidece com isso), se quiser mesmo manter protegida a sua protegida, Lula terá de calar (ou pelo menos desautorizar) as vozes roucas do lulismo que, mais diretamente impossível, andam, como se diz popularmente, “empurrando a vaca do governo para o brejo”. São pessoas que, por suas ligações pessoais e políticas com o ex-presidente, dão um peso quase oficial ao que explicitam publicamente a respeito do governo Dilma e de uma possível recandidatura lulista.
 
É o caso, por exemplo, do deputado Devanir Ribeiro, do PT de São Paulo. Sindicalista, amigo pessoa de Lula há mais de 30 anos, de copa e cozinha, Devanir foi autor da proposta de mudança constitucional para permitir que o ex-presidente disputasse o terceiro mandato. Um sonho que Lula acalentou de verdade, mas foi aconselhado a desistir dele pelos riscos que poderia trazer. E mesmo depois de Lula negar tal intenção, o deputado petista nunca abandonou a ideia – e nunca recebeu um pedido para abandoná-la.
 
 Agora, o amigão de Lula põe em xeque as ações da presidente Dilma em seu momento de maior dificuldade desde que assumiu a presidência, dois anos e meio atrás. Em entrevista do jornal O Estado de S. Paulo da semana passada, Devanir bateu sem dó: “Quem pediu plebiscito?” – perguntou, E atirou: “Falta gestão” (ao governo Dilma). E não escondeu o que pensa: “Está na hora de Lula voltar”. 
Devanir ecoou o que pensa uma parte de peso no petismo mais próximo de Lula. Aliás, o petismo próximo de Dilma, que teve um tamanho significativo até a queda da popularidade presidencial, está se esvaziando – no momento restringe-se aos ministros do partido – e olhe lá! – e alguns auxiliares diretos dela. O restante ou está francamente na linha Devanir ou tucanamente em cima do muro.
 
 Na mesma linha de Devanir Ribeiro manifestou-se também o senador Wellington Dias, ex-governador do Piauí e líder do partido no Senado. Sem meias palavras – aliás, com palavras inteiras– anunciou que “Dilma será a candidata do PT (em 2014) se estiver bem posicionada (até lá)”. Mais direto? Impossível! E  o curioso é que  não houve vozes condenando nem Dias nem Devanir.
 
De forma um tanto quanto direta também deu sua posição o cientista político e professor da USP André Singer. Jornalista, filho do professor Paul Singer, que ocupa uma das secretarias ligadas ao Ministério do Trabalho, André foi porta-voz do governo Lula em seus primeiros anos e é autor de um livro muito discutido sobre o fenômeno do lulismo. Em um debate na universidade sobre os movimentos de rua do último mês, em dado momento o professor disse que o nome de Lula já está “colocado” (para a disputa em 2014]) e ficará mais “colocado ainda”. Ou seja, no caso de Dilma não conseguir se livrar a tempo e a contento da enrascada política e econômica em que atualmente está metida.
 
 Outro jornalista, também das relações de Lula, foi na mesma linha de críticas a Dilma. Trata-se do competente repórter Ricardo Kotscho, assessor de imprensa de todas as campanhas eleitorais do ex-presidente e seu assessor de imprensa também no Palácio do Planalto no início do governo. Em recente artigo, foi severo com a presidente. Entre outras coisas,  escreveu: “Mais preocupada em montar uma cada vez maior base aliada para disputar a reeleição, me parece que Dilma perdeu o timing das mudanças necessárias em seu ministério, que é muito fraco, na virada do ano, quando se limitou a trocar seis por meia dúzia, trazendo de volta partidos varridos na faxina do primeiro ano de governo.”
 
E continuou: “Dilma confiou demais nas pesquisas, nos comerciais e nos pronunciamentos produzidos por seu marqueteiro João Santana, sem dar a devida atenção para o que acontecia no mundo político do outro lado do Palácio do Planalto, no meio empresarial e na vida real dos trabalhadores e estudantes”. 
 
Não é preciso ser nenhum gênio em política para sentir que esta saraivada de “fogo amigo” não favorece Dilma. E fortalece o coro “queremista” mesmo que Lula não queira.  A dinâmica do jogo político costuma ser incontrolável. E é contra essas forças que Dilma tentar erguer sua barricada. Inicialmente, mais contra elas do que contra as das ainda desorganizadas oposições. (DC)

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