A História do Brasil prova: o gigante nunca dormiu
“A ideia de que o brasileiro é passivo é absolutamente errônea”, diz Monica Duarte Dantas, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP e autora dos livros Revoltas, Motins, Revoluções: Homens Livres Pobres e Libertos no Brasil do Século XIX (Alameda, 2011) eFronteiras Movediças: a Comarca de Itapicuru e a Formação do Arraial de Canudos (Hucitec, 2007). “A história do Brasil é repleta de movimentos de contestação, caso das revoltas escravas, como também de movimentos sócio-políticos nos quais a população se levantou contra impostos que considerava injustos, leis e decretos que interferiam no seu modo de vida e que, normalmente, visavam a uma maior opressão ou controle por parte dos governos.”
O historiador Fábio Pestana Ramos, um dos autores de Festa Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, vencedor do prêmio Jabuti em 2002, concorda. “Ao longo da história da formação do Brasil como nação, um processo ainda em andamento, seu povo nunca foi passivo. Ao inverso, da Independência do país, em 1822, até o fim do século XIX, foram registrados quarenta motins e revoltas. No século XX, tivemos um número superior de contestações. Muitas violentos, armadas e reivindicando mudanças políticas.”
De acordo com a pesquisadora da USP, a tese da passividade nacional começou a ser derrubada há pouco tempo por estudos que mostram sua falta de lastro. A ideia de que o brasileiro não reclama de nada é uma ideia construída (reproduzida em muitos livros didáticos) e que não encontra eco nas pesquisas recentes sobre o passado do país”, diz.
“Durante grande parte do século XX, os estudos sobre movimentos populares se debruçaram essencialmente sobre os chamados movimentos ‘messiânicos’ ou ‘milenaristas’, marcados pela existência de líderes carismáticos responsáveis pela mobilização de uma população taxada de ignorante e cuja principal característica seria o fanatismo religioso. Pesquisas recentes mostram que no cerne desses movimentos havia demandas não de cunho religioso, mas sócio-econômico ou político, como no caso de Canudos, em que a população originalmente se levantou contra a cobrança de novos impostos, e não por razões religiosas.”