Sozinho, o agronegócio não vai salvar o PIB
Não há preocupação para os produtores rurais, mas sim com os rumos da economia para as outras atividades.
Procurem. Tentem com uma lupa. Achem nas folhas e telas cotidianas importância para o fato de no crescimento de 0,6% para o PIB do primeiro trimestre de 2013 a agropecuária ter contribuído com “modestos” 9,7%.
Estarão lá evidentes os perrengues dos setores de serviços e industrial. Também o consumo das famílias, que aumentou somente 0,1% sobre o trimestre anterior, período quando bimbalham os sinos das festas de fim de ano.
Dos investimentos, que foram bem (+ 4,6% na formação bruta de capital fixo), falarão um pouco mais, embora surpresos, pois os imaginavam mudando-se para o México. Tijuana, talvez. Junto com o árbitro Amarilla.
Os mais afoitos trataram de anualizar a taxa para um inglório crescimento amarelo, verde, azul-anil, de 2,2%, em 2013.
Que seja. Desde o início do ano o que acontece, lemos e vemos refere-se a 2014 e à ação política visando o cobiçado Poder num país de largas dimensões e curtas ideias.
Bom seria se a agropecuária continuasse a ajudar a economia nessa mesma proporção. Não nos animemos tanto assim. Tal crescimento, 17,3 % superior ao do mesmo período de 2012, deve-se a uma safra recorde comparada à anterior, de tantos problemas climáticos, e que havia caído quase 9% em relação ao primeiro trimestre de 2011.
Não que devamos reproduzir as espantadas sobrancelhas de William e Patrícia, no Jornal Nacional, ao anunciarem os preços de tomate e feijão.
As culturas de inverno e a safrinha de milho correm bem em todo o país e mais um bom plantio de verão está garantido com a renda obtida pelos agricultores na última safra.
Nem mesmo a tendência já presente de queda nos preços das commodities agrícolas, provocada pela maior oferta norte-americana e menor demanda asiática, e que deveria acalmar os arautos da espiral inflacionária, precisa assustar a cadeia produtiva do agronegócio.
Horas depois do anúncio do PIB, pelo IBGE, o Banco Central divulgou o segundo aumento deste ano na taxa Selic. “Agressivo” 0,5%, segundo saltitantes economistas-chefes de consultorias e instituições financeiras.
Interpretavam, afinal, o fim da farra do consumo e da inflação fora da meta e o retorno da farra rentista. Exato momento para refletirmos sobre as ondas inflacionárias em que surfou a maior parte da mídia nos últimos meses.
Valeu, senhores. De duas uma: ou vocês conseguiram convencer o BC, mesmo com Tombini; ou, sabiamente, ele tenta driblar o desânimo dos empresários, percebendo haver insinceridade em suas queixas sobre as taxas de juros. Afinal, suas tesourarias remam com um pé em cada barco.
Hoje em dia, perpassa a economia mundial discussão que procura o ponto ótimo entre inflação, crescimento e emprego. Não será encontrado, mas é possível dele se aproximar.
O Brasil passou décadas de baixo crescimento, desemprego alto e inflação maior do que a atual.
Nunca se preocupou em criar um vigoroso mercado interno. Sempre que crises nas economias mundiais provocavam quedas no mercado exportador de bens primários, cessavam os fluxos de capital, o País quebrava e apelava ao FMI e suas equivocadas lições de casa.
Em recente seminário no Banco Central, Laurence Ball, renomado professor da John Hopkins University, deixou embasbacada a plateia ortodoxa ao recomendar flexibilização nas metas de inflação em favor de metas de emprego, sobretudo em países emergentes de frágil rede de proteção social.
Depois de chegar a um nível de quase pleno emprego, começar a colocar as taxas de juros em patamares mais civilizados, distribuir renda através de programas assistencialistas, sempre recomendados enquanto existirem miseráveis num país, e passar pela pior crise internacional desde 1929, o que se propõe para a economia?
Aumentar o desemprego e segurar os salários para ampliar a produtividade do trabalho e conter a demanda para evitar a “memória” da inflação, que uma não é desenfreada e a outra não traz fundamentos preocupantes, através da alta dos juros.(Carta Capital)