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Vereadora Débora Santana(PDT) fala ao site Visão Cidade sobre a crise na saúde pública da Bahia

Durante discurso na tribuna da Câmara Municipal, a vereadora Débora Santana destacou a grave situação enfrentada pelo Hospital Roberto Santos, em Salvador. Segundo ela, o fechamento do ambulatório tem gerado um grande transtorno não apenas para a capital, mas para todo o estado da Bahia. O hospital, que é referência em diversas especialidades médicas, sofre agora com um déficit grave no atendimento à população.

Débora também chamou atenção para a migração desordenada de pacientes oriundos dos 416 municípios baianos em busca de atendimento em Salvador, o que, segundo a vereadora, escancara a ineficiência do governo estadual em gerir a saúde pública e a má distribuição de serviços de média e alta complexidade. Ela ainda criticou o funcionamento das policlínicas regionais, que, de acordo com denúncias, não estão prestando atendimento de forma eficaz.

Entrevista exclusiva ao Visão Cidade

Visão Cidade: Vereadora Débora Santana, a senhora mencionou na tribuna as dificuldades enfrentadas por pacientes, especialmente diabéticos, após a suspensão de atendimentos no Hospital Roberto Santos. Pode comentar mais sobre isso?

Débora Santana: Com certeza. Hoje, no Dia Mundial da Saúde, é muito triste ver um hospital de referência como o Roberto Santos, que já foi o maior ambulatório do Norte e Nordeste, ter suas especialidades reduzidas. Pessoas de toda a Bahia precisam de atendimento, principalmente vascular, e não encontram suporte no interior. Elas migram para Salvador, mas agora, com o fechamento do ambulatório, a situação piora ainda mais. Eu trabalhei lá por 14 anos — antes havia 183 especialidades. Hoje são pouco mais de 50. Isso é um absurdo. O governo do estado precisa rever essa decisão. O hospital não atende apenas Salvador, ele atende todo o estado. Enquanto isso, pessoas morrem esperando por uma consulta, um curativo, uma cirurgia de catarata. O Roberto Santos era referência em oftalmologia, e hoje os atendimentos são precários. Médicos existem lá dentro, o problema é a má gestão. Estão subutilizados, enquanto poderiam estar atendendo no ambulatório.

Visão Cidade: E quanto às policlínicas do interior? Elas estão realmente funcionando?

Débora Santana: Infelizmente, não. O SUS tem como princípio básico a descentralização, e isso deveria ser feito através das policlínicas. Mas o que vemos é diferente. Por exemplo, em Ribeira do Pombal, onde morei por muitos anos, no papel há vários médicos, mas na prática o atendimento é mínimo. Às vezes, só dois ou três médicos atendem. O Ministério Público precisa agir com urgência. No papel há 15 ou 20 médicos, mas a realidade é outra.

Visão Cidade: Ou seja, os municípios estão transferindo sua responsabilidade para Salvador?

Débora Santana: Sim. Muitas pessoas usam o endereço de parentes ou amigos para conseguir o cartão SUS em Salvador. Isso acontece porque sabem que aqui conseguem atendimento, seja nas Prefeituras-Bairro, seja nas unidades municipais. Se fizermos uma conta, vamos perceber que há mais cartões SUS registrados em Salvador do que moradores na cidade. É um reflexo do abandono da saúde nos municípios do interior.

Visão Cidade: Recentemente, uma pesquisa apontou o aumento de mortes por tuberculose, uma doença tratável. Como estão os atendimentos nas unidades de saúde do município?

Débora Santana: O tratamento está sendo feito, mas é uma doença que já não deveria estar matando. Ainda falta estrutura e reforço nos atendimentos. É preciso ampliar o diagnóstico e melhorar as Unidades Básicas de Saúde. Falta pneumologista, que é uma especialidade difícil de encontrar, assim como neuropediatras. É um problema tanto do município quanto do estado.

Visão Cidade: A senhora acredita que a dificuldade de acesso faz com que muitos pacientes desistam do tratamento?

Débora Santana: Sim, mas não só isso. Existe também o estigma da doença. Quando a pessoa diz que tem tuberculose, muitos se afastam. Ela sente vergonha, sente-se excluída. Às vezes, o próprio atendente a expõe, e isso afasta o paciente. Esse sentimento de exclusão, somado à dificuldade no atendimento, leva muita gente a abandonar o tratamento — o que é extremamente preocupante.

Visão Cidade: Falta informação, então?

Débora Santana: Falta muita informação — tanto para a população quanto para os próprios profissionais de saúde. Há atendentes despreparados, que não sabem lidar com casos delicados. Isso assusta o paciente. Ninguém escolhe estar doente, e todo ser humano merece cuidado e acolhimento.

Visão Cidade

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