Cremeb rejeita médicos cubanos
A notícia do acerto do governo federal e o de Cuba para importar 6 mil médicos para o país, atendendo uma reivindicação da Federação Nacional de Prefeitos (FNP), foi criticada pela classe baiana. Em vez disto, sugerem que o governo crie um plano de carreira para médico, a exemplo do judiciário, e desmentem que os profissionais não queiram atuar no interior por desinteresse, mas sim devido a contratos irrisórios de prefeituras, que não oferecem ao profissional condições de sustentar uma família.E além do mais há cerca de 50 prefeitos baianos que deixaram o cargo sem pagar aos profissionais.
E citam que na década de 1980, época de José Sarney, houve este mesmo tipo de contratação de médicos cubanos que vieram para o Brasil, inclusive em cidades como Uauá, Santa Maria da Vitória e outras, como conta o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindmed-BA), Francisco Jorge Silva Magalhães , “se inseriram no país, casaram com mulheres brasileiras e ficaram com a cidadania e não cumpriram o que deveriam”, lamentou.
O médico sinaliza que “o Brasil é a 7ª economia do mundo, não pode se comparar a uma republiqueta. E o problema de saúde no país se resolveria se o governo destinasse os 10%, e não menos de 4% como faz, do Produto Interno Bruto (PIB), à saúde e desenvolvesse um plano de carreira para os médicos atuarem no interior dos estado”.
Para o presidente do Sindimed a medida do governo trata-se de “ um discurso que foge à civilidade. O médico brasileiro se sair daqui tem que fazer todo um processo de adaptação, prestar vários exames para ser aceito. No caso dos médicos cubanos, destacamos que a prevalência de doenças em Cuba é diferente do país”, afirmou
Magalhães explicou que muitos médicos não querem trabalhar no interior por conta das contratações e muitas vezes têm que se submeter à política, dependendo da vontade dos prefeitos e a falta de pagamento. “Temos no sindicato mais de 50 ações contra cidades que com a mudança do prefeito deixaram de pagar o médico contratado pelo anterior. A Federação Nacional de Prefeitos (FNP) deveria pagar estes médicos que ficaram sem seus salários”, informou.
População
“O Conselho Regional de Medicina é contra a vinda de médicos cubanos para o Brasil, não se trata de cooperativismo. A não ser que o governo ache que a população a ser atendida seja de segunda categoria”, opina o médico Otávio Marambaia, diretor do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb).
Ele já deduz como seria o atendimento pelos médicos que falam outro idioma. “Imagina alguém perguntar em castelhano ao brasileiro do sertão, que já tem dificuldade em entender o português de outras regiões como ele está se sentindo?”, indagou.
Marambaia entende que os médicos cubanos não sabem da realidade nacional e além do mais falam outro idioma. “Isto aí é um absurdo e o absurdo se revela de várias formas. Porque se estes médicos fizerem uma prova sobre os problemas de saúde locais, com certeza perderão”, desabafou.
O diretor do Cremeb também acha que “o governo deve resolver os problemas que temos, para isto precisa desenvolver um plano de carreira para os médicos”, sinalizou. Ele desmistificou a ideia de que os médicos são contratados no interior com salários vultuosos. ‘
“Os prefeitos alardeiam que pagam salário grande, mas geralmente chamam para passar três a quatro meses e dizem que não é mais necessário o trabalho. Este negócio de dizer que médico ganha R$ 20 mil no interior é balela, o que pagam não é o suficiente para manter a família”, reclamou o diretor.
Médicos de Portugal e Espanha
O governo brasileiro pretende atrair não somente médicos cubanos para trabalhar nas regiões mais carentes do país, mas também profissionais de Portugal e da Espanha. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nessa terça-feira (7/5) (7), que desde o início do ano estuda alternativas para suprir a deficiência desses profissionais nas regiões mais remotas do país. “Esse é um dos nós mais críticos para levar a saúde para a população. Não se faz saúde sem médicos. O Brasil precisa de mais médicos com mais qualidade e mais próximos da população”.
Sobre as críticas do Conselho Federal de Medicina à decisão, Padilha disse que concorda que a contratação tem que considerar a qualidade e a responsabilidade desses profissionais. Ele destacou que o governo já descartou a validação automática de diplomas e a contratação de médicos de países que tenham menos profissionais que o Brasil, como é o caso da Bolívia e do Paraguai.
Dados do Ministério da Saúde mostram que no Brasil existe 1,8 médico para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção é de 3,2 médicos para mil habitantes e, em países como Espanha e Portugal, essa relação é de 4 médicos. No início do ano, os prefeitos que assumiram apresentaram ao governo federal uma série de demandas na área de saúde. Entre os pontos destacados estava a dificuldade de atrair médicos para as áreas mais carentes, para as periferias das cidades e para o interior.
Padilha disse que o governo estuda várias alternativas. “A principal medida que temos adotado é estruturar os serviços de saúde e ampliar o número de vagas nos cursos de medicina nas universidades”. Outra bandeira do ministério é o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira dos médicos que vão para o interior e as periferias. Até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa.
“Como ministro da Saúde, não vou ficar vendo a situação de Espanha e Portugal – que têm médicos de muita qualidade, que falam português e que vivem uma situação de 30% de desemprego – sem pensar em alternativas de intercâmbio para trazer esses profissionais”.
De acordo com Padilha, o Brasil está acompanhando experiências de países desenvolvidos como a Inglaterra, onde 40% dos médicos foram atraídos de outros países, Canadá onde 22% dos médicos são estrangeiros, e Austrália, onde essa participação é 17%. No Brasil, apenas 1% dos médicos veio de outros países.
(Tribuna)