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Novas águas de março

Há situações no País que se fossem levadas a sério – como deveriam – muitas autoridades públicas, da presidente da República a prefeitos municipais, passando por governadores, vereadores e membros inoperantes do Ministério Público poderiam até ir para a cadeia. Todavia, no Brasil, a legislação parece feita para proteger quem a afronta, para guarnecer quem viola as regras, quem assalta os cofres públicos, quem faz seu paraíso pessoal à custa de verbas que deveriam ser usadas para minorar o sofrimento das populações carentes.
É verdade que esta parcela da população, até por falta de opção, ou por ignorância, acaba se instalando em áreas de risco, em regiões de proteção ambiental, em locais sujeitos à ação agressiva da natureza. Desde a música famosa de Tom Jobim (“são as águas de março fechando o verão”4 todos sabemos que, ano após ano, haverá chuvas, tragédias, com deslizamentos e soterramentos, e as autoridades públicas só fazem lamentar e fazer promessas depois dos fatos.
O dinheiro e recursos, como alimentos e roupas, enviados aos locais das tragédias, são desviados no meio do caminho. Dinheiro que enriquece pessoas desprovidas de espírito público e de compaixão, que se fartam enquanto os que precisam de verdade minguam na indigência do poder público. Autoridade chorando em local de desgraça é fácil. Visitar, fazer cara de tristeza, é fácil. Dizer que vai fazer isso ou aquilo, é fácil. Já agir com espírito público real e enfrentar os problemas de vez, é o que jamais se vê.
Instalar um alarme para o povo sair correndo é até ofensivo. Retirem as pessoas, construam casas em locais apropriados, vendam-nas em condições subsidiadas, mas com contrapartida. Os flagelados de chuvas de três anos atrás, no Rio de Janeiro ainda moram em alojamentos improvisados, enquanto governantes, políticos, que desviaram dinheiro destinado a um resgate decente , estão mais ricos e devem rir da cara de todos nós. São indecentes, mas o Ministério Público parece fingir que não vê.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, tão ativo na defesa do dinheiro do petróleo para seu estado, deveria empregar a mesma energia para, ao menos, se livrar do constrangimento público de a cada verão aparecer com cara de coitado e triste, quando seu dever, com tanto dinheiro que seu estado tem, seria nunca mais permitir esse tipo de ocorrência. Em São Paulo, na capital, o novo prefeito, que já parece bem velhinho, pois assumiu e sumiu, põe propaganda paga com dinheiro público nas rádios, avisando para as pessoas não saírem na chuva. Foi descoberta a América!
É tudo recorrente, plastificado. A falta de vergonha na cara de quem dirige a coisa pública em nosso País, não muda, não melhora. Só vai mudar, só vai melhorar, quando houver uma política nacional de educação, no sentido de alfabetizar de ampliar o conhecimento, de modo a dar à população em geral elementos de discernir, entender, ter consciência da realidade e, com isso, eliminar da vida pública, via voto (não somos Cuba para mandar ao paredão os contrários aos governantes) os políticos e dirigentes públicos corruptos, incapazes, descomprometidos com a causa pública e muitas vezes bandidos da pior qualidade, travestidos de pessoas importantes pelo voto e pela indicação política.
Agora, cá entre nós, como uma parcela bem grandinha desse tipo de gente está incrustada no poder , e a eles não interessa tirar a massa da ignorância e da miséria (apesar do discurso e dos slogans eloquentes) quem vai promover a mudança? O investimento na educação? Quem? Quem? Silêncio…
 Por Paulo Saab

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