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Ser suburbano é padecer no paraíso, por Jeremias Silva

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Várias foram as frases que ouvi durante os eventos das candidaturas a prefeito na última campanha eleitoral no segundo turno das eleições em Salvador. E notadamente no Subúrbio Ferroviário, as citações eram as mais elogiosas possíveis ao espaço geográfico e ao povo daquela localidade.
O candidato derrotado Nelson Pelegrino (PT) sempre se vangloriava de conviver com a população suburbana desde longas datas, e ainda, fazia questão de dizer que seu adversário nunca esteve em tal região da cidade. Lembro-me bem que ao lado do vereador Orlando Palhinha (PP) que terminou por apoiar o prefeito eleito ACM Neto, o petista dizia que faria o possível para mudar a realidade do Subúrbio, e que já o estava fazendo ao garantir algumas emendas parlamentares que contribuíam para projetos realizados em vários bairros que cortam a Avenida Suburbana. Pareceram acreditar, mas o canto vip da cidade escolheu que deveria eleger o carlista, digo democrata.
O prefeito eleito também teve seu momento de exaltação ao Subúrbio Ferroviário, quando esteve ao lado do progressista Palhinha que anteriormente apoiava Pelegrino, e afirmou seu “amor incondicional” ao pedaço mais lindo de Salvador. Foi ovacionado e prometeu fazer a festa da sua vitória por lá. E cumpriu.
Mas, o que será que o povo trabalhador do Subúrbio Ferroviário deseja do seu novo gestor? Somente a festa da vitória como reconhecimento das qualidades do local e de sua gente? Restará mais uma vez apenas o papel de gata borralheira da cidade?
O prefeito que deixou o cargo no último dia 31 – para nossa alegria – sempre “vendeu” na mídia, um tal carinho especial que ele tinha pelo Subúrbio Ferroviário. Como conceito de marketing político foi perfeito e garantiu a reeleição, pois a visão era meramente eleitoreira. E deu certo para ele. Mas, a realidade era de unidades de saúde onde imperava o caos, buracos, transporte coletivo insuficiente, lixo por toda parte, inexistência de salva-vidas na esquecida orla marítima. Abandono e desrespeito que ainda pintam o cenário desolador do Subúrbio que somente vira destaque no noticiário sanguinário que ocupa o horário do meio-dia, e agora, também antecede a hora da Ave- Maria.
Agora, o democrata ACM Neto terá um desafio: fazer a devida reparação para uma parte da força humana que faz a economia da cidade se movimentar. O trabalhador da Feira de São Joaquim, a diarista da Pituba, o gari do Stiep, o agente de trânsito do Iguatemi, a vendedora do shopping, o ambulante da Federação, o cobrador do ônibus de Stella Maris, o garçom da churrascaria do Rio Vermelho, o barraqueiro da praia de
Armação, enfim, a força dessa cidade tem o vigor do povo do Subúrbio Ferroviário.
Não cobrarei o prefeito eleito pelo que ele fizer após os quatro anos de governo, pois terá sido muito tempo de passividade, e a nossa última experiência não foi agradável. Devemos sim, criar canais de interação com o governo além daqueles oficiais ou oficiosos, e esse protagonismo deve ser urgente, pois restarão somente papéis
secundários com personagens de empregada, motorista, ladrão, escravo, ou seja, todos aqueles de subserviência, e o povo do Subúrbio Ferroviário não merece mais ser tratado como escória da cidade pelos governantes que ajudam a eleger.
Devemos ocupar de maneira respeitosa, as galerias da Câmara Municipal de Salvador, e de forma incisiva cobrar daqueles que pediram votos para suas eleições e de seu candidato a prefeito.
A imprensa tem papel fundamental nesse processo de informação e formação de consciências, e sua missão é servir ao povo que não dispõe de pontos de ressonância de seus reclames. Não cabe mais a marginalização ou a transformação do sofrimento do povo em patéticas matérias que não têm servido mais nem para manter posição não famigerada guerra de audiências entre as emissoras locais.
Palavras bonitas escritas em discursos bem feitos e ditas em falácias não emocionam mais o povo sofrido. E se a dica vale, o cidadão suburbano quer ouvir dizer quando suas demandas coletivas serão solucionadas, pois o restante, a alegria de viver e a dignidade do trabalho já completam, porque a visão do lugar em que vive é uma réplica mais que perfeita do paraíso onde padece diariamente por culpa dos incompetentes e mal-intencionados.
Jeremias Silva acredita que comenta sobre política em Salvador. Graduado em Gestão
Ambiental e graduando em Jornalismo.

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