Oposição rejeita oferta de Morsi e agrava impasse no Egito
Uma aliança de oposição rejeitou a proposta de diálogo do presidente do Egito, Mohammed Morsi.
A rejeição aumenta o impasse no país e reduz as perspectivas de reduzir a tensão deflagrada em diferentes pontos do país desde que, no final da semana passada, 21 pessoas foram condenadas à morte por seu suposto envolvimento em um tumulto entre torcidas durante uma partida de futebol no ano passado que deixou 74 mortos.
Após o anúncio da sentença, milhares de pessoas tomaram as ruas em protestos contra a decisão. No sábado, os confrontos entre forças de segurança deixaram ao menos 30 mortos em Port Said no. E outros três foram mortos em um funeral coletivo no domingo.
Em resposta à onda de violência, Morsi decretou estado de emergência em três cidades do país, Port Said, Suez e Ismailia, além de ter decretado um toque de recolher.
Assim que foi eleito, Morsi havia dito que o estado de emergência que vigorou durante vários anos durante o regime do presidente Hosni Mubarak não voltaria a entrar em vigor.
Durante um pronunciamento no domingo, o líder egípcio anunciou a entrada em vigor do estado de emergência, frisando que, em nome do Egito, era seu ”dever” fazê-lo.
”Já disse que sou contra quaisquer medidas de emergência, mas já disse que para pôr fim ao banho de sangue e para proteger o povo, eu agirei. Se preciso, farei muito mais pelo bem do Egito. É meu dever e não hesitarei”, afirma.
Unidade nacional
Segundo a correspondente da BBC no Cairo, Yolande Knell, Morsi tinha uma expectativa de que o convite de diálogo no Palácio Presidencial feito a 11 forças políticas do país – entre eles islâmicos, liberais e esquerdistas – pudesse restaurar a unidade nacional. Mas ainda não se sabe quem irá aceitar o convite.
Na segunda-feira, voltaram a ocorrer enfrentamentos entre forças de segurança e manifestantes, mesmo diante das restrições impostas pelo governo. E um homem foi morto por um disparo perto da praça Tahrir, na capital egípcia, Cairo.
Ainda nesta segunda-feira, o gabinete egípcio aprovou um projeto de lei que dá ao Exército poderes de polícia e de efetuar detenções.
Mohamed El Baradei, um dos principais representantes do bloco de oposição Frente de Salvação Nacional, disse a jornalistas que antes de participar de qualquer projeto de diálogo, Morsi teria que indicar um governo de unidade nacional e adotar medidas para emendar a polêmica Constituição recém aprovada pelo Parlamento dominado por políticos da Irmandade Muçulmana, o partido de Morsi.
”O diálogo para o qual o presidente nos convidou tem a ver com forma, não com conteúdo. Apoiamos qualquer diálogo se ele contar com uma agenda clara que possa nos levar para o caminho da segurança”, afirma.
Ao lado de El Baradei, o ex-candidato presidencial Hamdeen Sabahi disse a jornalistas que ”todos aspiramos ao diálogo, mas não há garantias de que ele será um sucesso enquanto sangue continua sendo derramado”.
A oposição acusa Morsi de ser um líder autocrático que está repetindo ações do regime de Mubarak e que a Constituição que ele ajudou a aprovar não protege de forma apropriada a liberdade de expressão ou religiosa no país.
(BBC)