Vera Cruz: Ótica de quem estava na Reunião
Reunião com os pais e a secretaria de educação do município de Vera Cruz, discute o futuro do projeto Casa do Estudante e Transporte Estudantil para os estudantes dos Institutos Federais; IFBA e Ifbaiano
Ontem, às 14hs na Biblioteca central de Mar Grande, Vera Cruz, BA. A secretaria de educação do Município convocou os pais dos alunos estudantes dos institutos; IFBA e Ifbaiano da cidade de Valença – recôncavo baiano, para uma reunião a fim de esclarecer dúvidas sobre o decorrer do projeto que mantém os jovens (em ênfase, o transporte), dúvidas e queixas dos alunos e dos próprios pais.
A reunião contou com toda a cúpula que compõe a secretaria de educação. O secretario; Eder,Magno, Lita (diretora geral), Sandra (coordenadora do projeto), Nildes e Jesse (subsecretários), e toda a equipe técnica da secretaria de educação, incluindo a estagiária Graziela (Estudante universitária e residente da Casa de Apoio ao Estudante de Vera Cruz em Salvador – CAEVC/SSA).
Com uma rejeição notável pela parte dos pais, Eder começou a reunião aparentando não estar a par dos acontecimentos que decorreram no decorrer dos últimos meses, após a última reunião com os pais, para tratar dos mesmos assuntos abordados.
Seriam eles: O transporte, a péssima administração, a falta de comprometimento com os processos estudantis, e o assunto mais importante; A possibilidade da secretaria cumprir com o acordado do projeto em manter esses estudantes no município onde os institutos se localizam, ou seja, a extinção dos ônibus e a ida e vinda dos estudantes do IFBA.
Antes mesmo que todo o assunto fosse apresentado, o prefeito Antonio Magno chegou para dar uma “palavrinha” com os pais dos alunos (“palavrinha” essa que durou mais de meia hora). E, como se fosse um comício, elucidou demandas de cunho propagandístico, demonstrando que já está em campanha eleitoral para sua possível reeleição.
Iniciou seu discurso elaborando um contexto de semiótica, tentando mostrar que; “os problemas da gestão são herança da gestão passada”. Isso de forma cuidadosamente sutil, pois como ele mesmo falou: “não estou colocando a culpa em ninguém”. (O possível culpado seria o ex-prefeito e atual concorrente às eleições municipais, Nicandro De Moreira Macedo).
DISCURSO DO PREFEITO MAGNO:
“VOCÊS SABEM O QUE É A FIFA?…” – “QUEREMOS A PONTE, NÃO COMO O GOVERNADOR QUER!…” – “VERA CRUZ SERÁ A ÚNICA CIDADE COM UMA PISCÍNA OLÍMPICA…” – “COMPARO VERA CRUZ COM UM DENTE CARIADO…”.
Um modelo praxe de sensacionalismo é quando o propagador da informação ou idéia usa a história ‘sofrida’ da vida pra mostrar sua dignidade e tentar validar suas futuras elucidações em detrimento de aceitação. Vemos isso no decorrer da história política do Brasil, desde que a federação determinou-se DEMOCRÁTICA.
Assim começou o discurso de Magno. O filho de pescador, amante da terra, cidadão empenhado em desenvolver o serviço social de seu município. Mas para um gestor, faltou-lhe entendimento notório sobre questões básicas de mecanismos administrativos da máquina pública. (ou talvez ele achasse que as pessoas presentes não teriam discernimento o suficiente para entender uma linguagem mais apropriada para falar sobre certas demandas. Vai saber…) Mas não saber como se referir ao sistema do Governo Federal que trabalha para o desenvolvimento é um erro muito grave. Mas, deixemos isso pra situações pertinentes.
Falou da FIFA e sobre a possibilidade de uma das seleções escolherem Vera Cruz como hospedagem. Justificou que foi um árduo processo de luta com o governo, para conseguir isso (esquecendo-se que o Club Med e o novo empreendimento hoteleiro construído recentemente no município de Itaparica, já negociava a possibilidade deles ser hospedagem de algumas das Seleções de futebol). Que está preparando o município para essa hospedagem: “Não hospedarei eles em minha casa, que é um coiozinho (termo usado pra se referir a uma casa simples)”, disse. Vale lembrar que o ‘coiozinho’ do prefeito Magno fica no condomínio Arauá (um dos condomínios mais luxuosos e caros do município, que por sinal, possui vários e bem mais simples que o escolhido pelo prefeito, para morar).
Ao falar sobre a ponte, ousou a dizer que a ponte não será como planeja o Governo do Estado. Logicamente, tratou de definir as exigências que tomaria para que o empreendimento seja construído: segurança, saúde, transporte, infra-estrutura, desenvolvimento industrial e educação. Se o governador não disponibilizar isso, subentende-se à forma com que o prefeito elucidou nada feito!
É… Que venha logo essa ponte!!!
“Estamos de olho nas olimpíadas!”. Muito boa essa pro atividade de pensar em um evento dessa magnitude, mas vale por os pés no chão e observar que não houve nenhum desenvolvimento para a área de emprego e renda no município, mediante os últimos três anos. E o prefeito ainda ousou a pensar a frente de seu campo de gestão ao dizer: “percebemos que o Brasil é um país que não desenvolve o esporte. Por isso iremos construir a única piscina olímpica da região, no município”.
Para não perder a oportunidade de colocar os pais (notavelmente cansados do discurso fora do tema da reunião) para pensar, usou a semiótica comparativa da gestão anterior, dizendo que enxerga o município como “um dente cariado”. Onde elaborou um comparativo extraordinário; “A culpa do dente, hoje, estar cariado é porque lá atrás ele não foi escovado direito”.
Das gafes cometidas, vale ressaltar as cusparadas que dava em uma das mães presentes, que o mesmo, percebeu e se desculpou, e assim, se foi (para o alívio de alguns, podendo até dizer ‘da maioria’ dos pais).
RESOLUÇÃO DA REUNIÃO:
“NÃO HÁ CRISES!…” – “NINGUÉM ESTÁ PERDENDO TEMPO, ESTÃO GANHANDO…” – “ TEMOS PROFISSIONAIS CONTRATADOS PARA CUIDAR DOS ALUNOS…” – “NÃO SABIA DISSO, MAS VAMOS TOMAR PROVIDENCIAS…”.
Não foram poucas as queixas de pais e de alunos sobre o andamento e a organização do projeto que mantém e transporta estudantes de Vera Cruz, nos Institutos Federais, localizados na cidade de Valença, que é mantido e administrado pela secretaria de educação do município. Dentre várias, a mais pertinente foi a respeito da falta de responsabilidade com os horários de chegada dos estudantes nos institutos.
Segundo alguns pais e alunos, houve uma mudança nos ônibus que faziam o transporte e a irregularidade nos horários em que os estudantes eram apanhados para se dirigir aos seus cursos.
Ônibus quebravam motoristas dormiam e esqueciam-se do horário, alunos reclamavam da postura da administradora que os acompanhavam na viagem, a falta de profissionalismo da funcionaria ao tratar com desrespeito e abuso de autoridade em dadas situações, enfim. Os pais e alunos estavam muito insatisfeitos com todo o processo e decorrentes dele, no tocante do cuidado e bem estar de seus filhos.
Foi sugerido ao secretario Eder, que deliberasse do grupo dos pais, uma pessoa para representá-los num tocante geral, e que o mesmo serviria como elo entre a secretaria de educação e os pais, evitando o choque e a dificuldade de comunicação existente. No mesmo enfoque, foi perguntado se a prefeitura havia feito uma análise para contensão de crises, para a nova empresa que iria transportar os alunos.
Mas Eder não entendeu a sugestão e a pergunta, desafiando a lógica da mesma, negando contextos expostos anteriormente e desfazendo totalmente do porque inicial da pergunta e sugestão, disse que: “não há crises!”.
Os pais, por sua vez (com auxílio de alguns alunos) apresentaram fatos que fizeram o secretário reconhecer a falta de organização e necessidade de reavaliar suas diretrizes.
Alunos chegando atrasados para as aulas, ofensas diretas à alunos por parte da administradora, dificuldade de relacionar os estudos com os horários do dia, falta de comunicação e organização nos transportes, foram dentre as queixas, as mais pertinentes.
No mesmo tema, quando enfatizado a dificuldade de conciliar os horários (pois não havia tempo pra mais nada no dia a não ser viajar, estudar, voltar e dormir), Eder disse que ninguém estava perdendo tempo. Mas esqueceu que a realidade é diferente da perspectiva positiva que ele queria impor ao raciocínio dos pais presentes.
“Meu filho está reclamando de dor nas costas. Acorda cedo e chega a noite em casa, todo dia são mais de duas horas de viagem e ainda tem que estudar os assuntos quando chega em casa. Vive chorando e dizendo que vai desistir. Vocês, no projeto, disseram que eles iriam residir lá na cidade. Agora meu filho tem que passar por tudo isso”. Disse uma mãe, preocupada com a saúde física e psicológica de seu filho.
“Um dia, minha filha teve que ir andando para fazer uma prova, porque o ônibus quebrou” disse outra mãe.
Queixas sobre ofensas diretas e indiretas, deboches e autoritarismos, rechearam o bolo de indignação que se formava no contexto da reunião. Chegando ao ponto de um pai diferir um discurso inflamado, pedindo que a secretaria respeitasse os seus filhos e que a secretaria de educação, segundo ele, era irresponsável.
Diante das queixas, Eder tentava negar os fatos, principalmente quando se tratava da administradora – mas logo os pais validaram as queixas dos alunos e o mesmo se colocou contrário às atitudes dela, e inúmeras vezes ele perguntava aos seus subordinados da educação: “houve isso?”.
Falou-se sobre o rendimento escolar, e a secretaria apresentou aos pais a idéia de formar oficinas de estudos para reforçar o aprendizado dos que não estavam se saindo bem. Seria uma boa opção, a não ser por um simples e conciso detalhe elucidado por uma das mães: “como e com que tempo nossos filhos vão poder participar dessas oficinas? Eles não têm tempo nem para o conteúdo normal do instituto, quem dirá, tempo para ir aos reforços… estudam de segunda a sábado, saem oito da manha e chegam oito da noite. Se tivesse a casa lá em Valença não haveria necessidade para esse reforço”.
O Eder exemplificou qual era o comprometimento da secretaria de educação mediante tais fatos com uma frase justa e impactante: “Todos sabem que no Brasil, estudar não é fácil!”.
Indignados e nada satisfeitos, os pais exigiram que retornasse ao processo anterior do projeto (que seria a residência em Valença), e melhores condições para a segurança e tratamento aos seus filhos. Eder disse que o prazo dado para a experiência foi de três meses, sendo que restava metade de um mês para o prazo encerrar, que as contas não suportavam a demanda, mas como foi acordado dessa maneira, solicitaria uma nova reunião ao findar o prazo para decidir o futuro desses jovens
Por Joaquim Almeida