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Resistência ou morte

Nesta quarta-feira, 20 de novembro de 2019, chegamos mais uma vez a esta data simbólica para falar sobre as mazelas que assolam a comunidade negra na sociedade brasileira. O senso de sobrevivência e a vontade de lutar são os sentimentos que nos mantêm de pé, impedindo que nos deixemos esmagar pelo peso segregacionista do preconceito e do racismo institucional.

Junto a isso, porém, não há como evitar certa sensação de desamparo frente a um país que, mesmo com o passar dos anos, parece cada vez mais relutante em se desapegar por completo de seu passado escravocrata. Mas antes de abordarmos os desafios que ainda temos a enfrentar, precisamos lembrar uma conquista significativa e digna de comemoração: na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que, pela primeira vez na história, negros e negras são maioria nas universidades públicas. É uma vitória, considerando que, até pouco tempo atrás, a face das instituições de ensino superior era branca e de alto poder aquisitivo – o retrato de uma pequena elite econômica e historicamente privilegiada da população brasileira.

O outro lado da moeda

Apesar do avanço, entretanto, o rendimento dos brancos é 73,9% maior que o dos negros. Ou seja, nem o acesso à educação de qualidade conseguiu equilibrar a balança ainda. Uma vez que aprendemos a encarar a educação como o remédio de todos os males – ou quase todos eles – onde então está o problema? A resposta é que não é apenas o fator econômico que marginaliza os negros. O buraco é muito mais embaixo: o racismo institucional é também um qualificador em entrevistas de emprego, ambientes acadêmicos e no mercado de trabalho em si, não só absorvendo menos cérebros negros como também dificultando sua conquista de espaço e ascensão a posições de poder e chefia.

Como resultado, em um contexto geral, os negros representam 75% dos mais pobres no Brasil, enquanto que os brancos são 70% dos mais ricos. Essa disparidade também anda de mãos dadas com outro flagelo: a violência urbana, que tem os negros como vítimas preferenciais. Para se ter uma ideia, a taxa de homicídios entre negros de 15 a 29 anos chega a 98,5 por 100 mil pessoas. Entre os brancos, 34 por 100 mil. Entre homens pretos e pardos, o número ultrapassa todos os precedentes e vai a 185 por 100 mil.

Como mudar essa realidade catastrófica? Em primeiro lugar, a educação continuará a ser um direito universal transformador. Não aceitaremos retrocessos em políticas afirmativas que viabilizaram o acesso de milhões de jovens negros e negras ao ensino superior. Por outro lado, esse importante avanço não pode ser utilizado em discursos demagógicos que tiram a educação básica do foco. Ela requer mais atenção do que nunca – mais investimentos em infraestrutura, material didático, gestão e valorização dos professores. Não podemos nos contentar com as migalhas de sempre.

É urgente a construção de uma escola cidadã, que ajude, inclusive, a mudar a forma como a sociedade enxerga e trata a questão racial, trabalhando as novas gerações em busca de uma mudança cultural efetiva. Nossos jovens, independentemente da cor de sua pele, devem concluir o ensino básico não apenas livres de vestígios racistas culturalmente introjetados, mas com a chama da luta por uma sociedade mais justa acesa dentro de si.

*Ireuda Silva (Republicanos), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara Municipal

Câmara Municipal de Salvador

 

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