Como as mudanças climáticas afetam a saúde da população?
Você já parou para refletir sobre como as mudanças do clima podem impactar sua saúde? O Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, 16 de março, instituído pela Lei nº 12.533/2011 , é uma oportunidade para analisar essas alterações e pensar o que pode ser feito para enfrentá-las. Neste contexto, e em ano de Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 no Brasil (Cop 30), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), faz um alerta: as mudanças climáticas são um desafio para a saúde pública.
Nesta primeira reportagem da série especial “Clima e Saúde”, especialistas de hospitais universitários federais gerenciados pela Ebserh explicam como as mudanças climáticas, que geram aumento de doenças respiratórias e infecciosas, por exemplo, exigem atenção e ação imediatas.
Aumento de doenças infecciosas
Segundo Moara Santa Bárbara, infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), os eventos climáticos extremos estão alterando o cenário epidemiológico brasileiro. “Chuvas intensas seguidas por altas temperaturas criam condições ideais para a proliferação de vetores, como o Aedes aegypti , transmissor de dengue, zika e chikungunya”, explicou. O mosquito se reproduz em pequenas quantidades de água limpa e parada, e seus ovos podem resistir ao ressecamento entre as estações chuvosas. “Os desastres naturais causados pelas mudanças climáticas aumentam a oferta de criadouros devido ao acúmulo de entulhos e reservatórios de água estagnada”, completou.
Além das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti , outras enfermidades causadas por vetores como mosquitos e carrapatos, incluindo febre amarela, malária, leishmaniose, filariose e febre maculosa, também vêm expandindo sua área de ocorrência. “Nos últimos anos, a expansão geográfica dessas doenças tem sido evidente, com registros de casos em áreas onde antes eram raros ou inexistentes”, observou Moara. A infectologista reforçou a importância de medidas preventivas. “A prevenção das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti exige atenção especial a reservatórios de água parada, eliminação de entulhos e resíduos e uso de produtos saneantes para higienizar áreas alagadas”, orientou Moara.
O infectologista Hilton Alves Filho, chefe da Unidade de Vigilância em Saúde do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), também destacou a importância de medidas preventivas durante períodos de chuvas intensas e inundações. “Nessa situação, há o risco de contaminação da água e a necessidade de proteção contra doenças infecciosas, como leptospirose, hepatite A e gastroenterites. As ações preventivas podem ser implementadas em diferentes níveis: pessoal, domiciliar e comunitário”, disse.
Ele ressaltou que garantir o acesso à água potável e adotar práticas adequadas de higiene e saneamento são importantes para prevenir doenças. Fervura, filtração e o uso de hipoclorito de sódio ajudam a garantir a qualidade da água, enquanto a lavagem das mãos com água e sabão previne a transmissão de infecções. Campanhas educativas também são necessárias para conscientizar a população sobre o cuidado com a água e os reservatórios.
No caso de doenças específicas, é importante evitar o contato com águas contaminadas para prevenir a leptospirose, enquanto a vacinação infantil é a principal forma de proteção contra a hepatite A. As gastroenterites podem ser evitadas com a higienização correta dos alimentos e seu adequado cozimento. “Eventos climáticos extremos impactam a saúde pública. A educação e a preparação da comunidade podem mitigar esses efeitos”, afirmou Hilton.
Impactos na saúde respiratória
“Estima-se que, até 2030, as mudanças climáticas poderão causar cerca de 250 mil mortes adicionais por ano, principalmente devido a doenças respiratórias”, alertou o pneumologista do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), Emanuell Felipe Silva Lima.
O especialista detalhou que a queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás, libera gases poluentes, como dióxido de carbono (CO₂), monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NOx), que contribuem para a formação de smog (mistura densa de poluentes visíveis) e ozônio troposférico (poluente que se forma na camada mais baixa da atmosfera). Esses poluentes podem irritar as vias respiratórias, agravando condições como asma, bronquite crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de aumentar a vulnerabilidade a infecções como pneumonias e tuberculose.
O aumento da temperatura global também está relacionado à piora dessas condições. “O calor extremo pode levar a uma maior demanda por oxigênio, o que é desafiador para pessoas com doenças respiratórias pré-existentes”, explicou o pneumologista. Além disso, o calor intensifica a concentração de poluentes atmosféricos, como o ozônio, que irrita as vias respiratórias.
As mudanças nos padrões de chuva também têm seu impacto. O aumento da umidade favorece a proliferação de mofo e bactérias, agravando doenças respiratórias crônicas como fibrose pulmonar e DPOC. “É fundamental adotar medidas para reduzir as emissões de gases poluentes e promover a saúde respiratória”, orientou Emanuell. Entre as recomendações para mitigar esses efeitos estão:
- Mantenha a carteira de vacinação atualizada, especialmente para doses contra Covid-19 e gripe.
- Adote hábitos saudáveis de alimentação e pratique exercícios físicos regularmente.
- Beba água na proporção de um litro para cada 20 quilos de peso corporal.
- Priorize noites adequadas de sono.
- Evite fumar, consumir álcool em excesso ou usar drogas ilícitas.
- Controle as condições emocionais e psiquiátricas, como ansiedade e depressão.
- Monitore comorbidades, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.
Atenção à saúde cardiovascular
A cardiologista do HDT-UFT, Alinne Katienny, alertou sobre os impactos das ondas de calor. Segundo a especialista, esse fenômeno pode causar desidratação severa, tornando o sangue mais viscoso e aumentando os riscos de infarto e de derrame. “Outra coisa que acontece muito é vasodilatação e, com isso, uma hipotensão. Então os pacientes podem desmaiar nesse calor”, explicou.
Como prevenção, a médica recomendou medidas simples: “É necessário vestir roupas leves, praticar atividade física fora dos horários de pico do calor e manter uma hidratação rigorosa com água ou água de coco”. Também destacou que pacientes cardiopatas ou obesos estão entre os mais vulneráveis aos efeitos do calor extremo. Entre os sintomas mais comuns associados às ondas de calor estão boca seca, tremores, desmaios, tontura, dor de cabeça, dor no peito e palpitações.
Evento científico apoiado pela Ebserh debate clima e saúde
Para aprofundar essa questão, de 29 a 31 de maio, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sediará o Congresso Brasileiro sobre Catástrofes Climáticas (ConBrasCC), organizado em parceria com o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm-UFSM) e a Rede Ebserh. O evento reunirá especialistas e gestores da empresa pública para discutir os desafios e soluções relacionados a desastres como os que afetaram o Rio Grande do Sul há quase um ano.
Na próxima reportagem da série especial “Saúde e Clima”, você vai saber mais sobre o impacto do calor e como proteger as pessoas mais vulneráveis, especialmente idosos e crianças, dos danos causados pelas alterações climáticas.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh
(Agência Gov)
(Foto: internet)