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Ceni nega exigências de última hora no Bahia e faz projeção otimista: ‘Conviver com Libertadores’

O primeiro dia de Rogério Ceni como técnico do Bahia foi movimentado. Após ir dormir “3h30 montando treino”, foi apresentado aos jogadores e comandou a atividade de estreia à frente da equipe. Depois, foi apresentado oficialmente pelo clube em entrevista coletiva na Arena Fonte Nova, na tarde desta segunda-feira (11).

O comandante chega com um desafio claro e urgente: reerguer o time, que vem flertando com a zona de rebaixamento. Neste momento, o tricolor é o 16º colocado do Brasileirão, a apenas um ponto do Santos, que abre o Z4. Mas, se o objetivo for conquistado, Ceni tem uma projeção muito otimista para o futuro próximo – e que inclui até a Libertadores em pouquíssimo tempo.

“Se o Bahia conseguir suportar a pressão dos últimos três meses desse ano, em dois anos, eu afirmo: pelo profissionalismo que conheço da empresa e pela capacidade de mobilização da torcida, que o Bahia estará entre os dez principais clubes do Brasil”, afirmou.

“Já é um dos grandes clubes do Brasil, mas colocado em posição de tabela, com grandes chances de uma pré-Libertadores e Libertadores num breve futuro. O Bahia tem condições de conviver com Libertadores”, completou.

Ceni assinou contrato com o Bahia até 2025. Segundo ele, o projeto oferecido pelo Grupo City pesou em sua decisão de aceitar o convite.

“É um prazer, uma oportunidade especial na minha vida. O Bahia por si só pela sua grandeza, em conjunto com o Grupo City, talvez seja a melhor oportunidade de trabalho no país. Começou quarta-feira à noite [a negociação]. Eu estava no Mato Grosso, recebi a ligação de madrugada. De sexta para sábado tínhamos tudo certo (…) Para mim foi um desejo. Esperei um projeto que fosse melhor para mim, e escolhi o Bahia porque achava que era o melhor projeto para a minha carreira”.

Em um papo em tom leve e bem-humorado, o treinador também garantiu que não fez exigências de última hora para o acerto. Ele deixou claro que chega focado em comandar a equipe tricolor – e que a parte administrativa é por conta do clube.

“Assinei o contrato de sexta para sábado, 1h da manhã. Não posso ter feito exigências nas últimas duas horas depois de assinar um contrato, 30 e poucas horas antes de chegar aqui. Eu venho para ser o treinador do Bahia, para tentar desenvolver atletas que estão aqui, para tentar fazer o meu melhor com minha comissão técnica. Essa parte administrativa, o grupo que administra o clube por si só já mostra todo o seu profissionalismo e autonomia que tem para jogadores. Claro que haverá consultas sobre determinado jogador no futuro. Para esse ano, elenco já fechado, mercado fechado”.

O técnico também falou que o Bahia não será só mais um clube em sua carreira. Ainda fez uma comparação com o São Paulo, onde fez história e se tornou ídolo durante a carreira como goleiro.

“‘Nunca é mais um clube. Nenhum clube na minha vida foi mais um. Todos que eu passei sempre tentei dar o meu melhor. Eu trato isso aqui como a oportunidade da minha vida, da minha carreira. Vou tratar o Bahia sempre como se fosse o São Paulo, o mesmo sentimento. Que é o lugar onde trabalhei mais de 20 anos na minha carreira. O objetivo principal é que se mantenha na Série A. Segundo objetivo, que consiga uma vaga [na Sul-Americana] e dar um calendário completo no ano que vem. É difícil? Claro. Mas temos que aprender a superar todos os obstáculos”, comentou.

Problemas com jogadores?

O Bahia será o quinto clube de Rogério Ceni, que já passou por São Paulo, Fortaleza, Flamengo e Cruzeiro. Ao longo da carreira, o técnico acumulou títulos expressivos, como Campeonato Brasileiro, Série B, Copa do Nordeste e Campeonato Cearense.

Por outro lado, o comandante também viu seu nome envolvido com polêmicas, com algumas desavenças se tornando públicas. Questionado sobre esses episódios, o treinador deu uma leve alfinetada e disse se dar bem “com quem gosta de trabalhar”.

“Eu sou um cara extremamente profissional, minha carreira fala por si só, sou um cara que gosta daqueles que trabalham todos os dias, que querem evoluir, se desenvolver. O que traz às vezes o descontentamento de um jogador é ele não estar participando diretamente. São 29, 30 jogadores de linha e só 10 vão jogar, 5 vão entrar. É difícil manter um grupo em qualquer lugar. Eu não tenho problemas, trato todos muito bem, quando acaba o treino todos ali são meus parceiros. Eu venho aqui sempre pra fazer o melhor pra quem me contratou”, falou.

“Falam: ‘Ah, você discutiu…’ É natural. Não tenho problema. Isso é produtivo e faz com que todos cresçam. Não tenho problema de relacionamentos, me dou bem com a grande maioria, principalmente com os que gostam bastante de trabalhar”, seguiu.

No Bahia, Ceni fez um primeiro contato mais descontraído com os jogadores. Ao encontrar Jacaré, por exemplo, relembrou os dias em que trabalharam juntos no Fortaleza – e ainda brincou com a cor do cabelo do camisa 29. A ideia era fazer o grupo ‘se soltar’, como ele mesmo explicou. O técnico elogiou o grupo e ressaltou o comprometimento dos atletas.

“Vejo um grupo tímido, um pouco mais calado, mas focado e concentrado. Mas eu acho que vai se soltar, tentei brincar com eles. O atleta fica ansioso para dar resposta dentro do campo. Se conseguir essa vitória, se solta mais. Gostei do comprometimento que vi. É importante para mim, para a carreira deles e para o que o Bahia pretende construir”, disse.

“Eu vejo jogadores com disposição, vontade de crescer, vencer. Um pouco retraídos devido ao momento, que é compreensível. Fui dormir ontem 3h30 montando treino. Vejo um elenco comprometido. Tenho certeza que o que posso fazer é dar uma ideia, caminho. Mas quem vai fazer a diferença são eles. Eles têm capacidade para reverter essa situação”.

O primeiro compromisso de Rogério Ceni no comando do Bahia será nesta quinta-feira (14), quando o time visita o Coritiba no Couto Pereira, às 20h, pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Veja outros trechos da entrevista coletiva:

Primeiras impressões do elenco

“Hoje trabalhei com o grupo, gostei da atitude de todos no campo. Venho aqui para trabalhar na minha função, como treinador, e não fiz nenhuma exigência. Fui bem recebido. Primeiro, estou na Bahia. Segundo, estou em Salvador. Terceiro, oportunidade de vestir a camisa do Bahia. E quarto, um grupo do tamanho do Grupo City, que talvez seja o mais profissional que eu possa escolher para trabalhar. São motivos suficientes para estar aqui”.

Contrato até 2025

“É um risco, mas quem vive sem riscos não pode ficar num grande clube, com torcida, que coloca 30, 40 mil torcedores a cada jogo. É o pacote que existe na carreira de treinador. 16 jogos dão direção, continuidade de projeto, de continuidade do Bahia com o Grupo City. Ficando na Série A, dar seguimento nesse projeto. O Bahia é um clube que, se conseguir se sustentar esse ano na Série A, tem muita força para chegar entre os dez primeiros clubes do Brasil no próximo ano. Mas temos que simplificar o momento, priorizar o Bahia. O Grupo City vai se beneficiar o longo prazo. Temos que ir atrás do resultado, tempo curto, cada hora é importante para a gente, para preparar esse time, e vamos tentar achar. Com algumas mudanças, pois se continua na mesmice os resultados em tese tendem a ser os mesmos. Vejo muita coisa boa aqui, legado que foi deixado, time de intensidade alta, jogadores comprometidos, é o mais legal. O que importa agora é que a bola tem que entrar, temos que fazer por onde”.

Quando vai ver o Bahia dominante?

“Honestamente, prefiro me preocupar com esse ano, o mais importante. É possível, com os atletas que temos, ter um jogo mais dominante, muitas vezes o Bahia teve mais controle de jogo. Dou exemplo de jogos que assisti, Corinthians, Bahia era para ter saído vencedor. Assim como poderia ter saído perdedor contra o São Paulo, onde foi pressionado. Precisamos encontrar uma maneira eficiente que traga resultados. Cinco vitórias em 22 partidas, e em 16 temos que conseguir mais vitórias. Mas tem muitos jogos que o Bahia merecia ganhar e eu nem estar aqui, e o Renato ter ficado, tinha relação muito boa com os atletas”.

Cauly

“Um jogador específico, mérito do scout que o trouxe. Até antes não se falava. Uma pena não poder usufruir dele nesse momento. Vamos encontrar uma maneira, até de forma diferente, para continuar sendo competitivo. Em breve, em três ou quatro jogos vamos poder contar com ele. É um meia talentoso, pode fazer várias funções”.

Evolução como técnico

“Quero entregar ao torcedor do Bahia no mínimo a alegria de estar aqui ano que vem e estar disputando a mesma competição e com resultados bem melhores. A gente vai aprendendo na vida, toda experiência de vida, títulos e derrotas, traz mais conhecimento. Ou então não vale a pena. Sempre temos que melhorar, evoluir a cada dia e que eu possa ser melhor no Bahia do que eu fui trabalhando no São Paulo”.

Goleiros

“Eu só tive um treinamento, um contato mais direto. O Marcos Felipe vinha acompanhando mais os jogos, joguei contra na época dele no Fluminense. Danilo conheço muito de ter enfrentado como goleiro, ótimo profissional, menino nota 10, já está no terço final de sua carreira. Adriel e Claus tive o primeiro contato. Vamos trabalhar, vamos dar continuidade do trabalho. Goleiro tendo melhores notas e sendo destaque tem duas coisas: um pouco preocupante porque a coisa não está muito bem, mas mostra que tem capacidade. Danilo é um cara muito focado, sério, mesmo não jogando, tem a sua importância, seu valor. Veio de lesão”.

O que trabalhar?

“Ser um time mais ajustado, compacto, tentar diminuir os contra-ataques. Time de transição que tem jogadores de velocidade e perde a bola de maneira rápida não fica pronto para se defender. Evoluir os trabalhos de defesa todos os dias e torcer para a bola entrar. Futebol não é ciência exata, não se explica, a bola tem que entrar. Temos que fazer de tudo para facilitar, e jogador tem que ter tranquilidade, público apoiar até o final. Vaias são parte do jogo, mas que apoiem até o final porque é esse grupo que pode manter o Bahia na primeira divisão”.

Variação tática

“Primeiro estou com um dia só aqui. A grande maioria dos jogadores eu conheço. Alguns jogadores estão retornando de lesão e eu não vi. Vou tentar montar a minha primeira equipe da maneira que acho que tenhamos trocas, mudanças para o segundo tempo que possam manter um sistema de jogo. Não dá para treinar mais de um sistema de jogo em três dias”.

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