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“Os Segredos de 1962: Itaparica se Divide Enquanto Salinas e Vera Cruz Alcançam a Emancipação!”

A história da Cidade de Itaparica difere significativamente da história da Ilha de Itaparica, e muitas pessoas têm dificuldade em separar essas duas questões distintas: Cidade e Ilha. A Ilha de Itaparica possui uma história e trajetória próprias, que abrangem atualmente os territórios das cidades de Vera Cruz e Itaparica. Com uma área de 246 km², a maior parte da ilha (211 km²) pertence ao município de Vera Cruz, representando cerca de 87% do seu território. O restante, correspondendo a 13%, é ocupado pelo município de Itaparica.

A história da Ilha de Itaparica é composta por fatos e acontecimentos que englobam todo o território insular, incluindo lutas, guerras e elementos culturais como as ruínas da Igreja de Nosso Senhor da Vera Cruz, a Igreja de Santo António dos Velasquez, as Ruínas do Engenho do Ingá-cu, a Matriz do Santíssimo Sacramento e a Igreja de Nossa Senhora da Piedade. Essa história também é permeada pelas memórias e ancestralidades que enriquecem o território.

Por outro lado, a história da cidade de Itaparica é marcada por outros elementos, incluindo o território de Salinas, que por muitos anos fez parte da cidade de Itaparica, embora esse fato tenha sido invisibilizado em muitas narrativas. Itaparica era uma cidade grande, com um território extenso e diversas atividades econômicas. E a cidade de Itaparica, não era somente a Ilha.
No ano de 1763, um marco histórico ocorreu na Ilha de Itaparica, quando ela era a maior ilha da colônia e chamou a atenção da Coroa Portuguesa, sendo incorporada aos seus domínios devido ao seu desenvolvimento econômico. A ilha se destacava pelos renomados estaleiros, que se tornaram um centro de construções navais para a colônia.

Foi também na Ilha de Itaparica que a primeira embarcação da Marinha de Guerra do Brasil teve sua quilha montada. Além disso, a ilha contava com a presença de cinco destilarias de aguardente e nove fábricas de cal, durante meados do século XIX, tornando-se um importante território para o Brasil.

Nos séculos XVII e XVIII, a atividade econômica predominante na ilha era a pesca da baleia. A Ilha de Itaparica foi o local onde se iniciou no Brasil a pesca desses cetáceos, que eram caçados por sua carne, óleo, barbatanas e outros produtos. O óleo de baleia era especialmente relevante na época, sendo usado para iluminação, lubrificação e fabricação de produtos farmacêuticos. A ilha se tornou o principal centro de produção desse óleo no Brasil.

Os séculos XVII e XVIII, a atividade econômica predominante na ilha era a pesca da baleia, especialmente. Foi na Ilha de Itaparica que iniciou-se no Brasil a pesca das baleias. As baleias eram caçadas por sua carne, óleo, barbatanas e outros produtos. A carne de baleia era consumida fresca, salgada ou defumada. O óleo de baleia era usado para iluminação, lubrificação e fabricação de produtos farmacêuticos.

O óleo de baleia era um produto muito importante no Brasil colonial, e a Ilha de Itaparica era o principal local do Brasil na produção desse material. Ele era também usado para iluminar as casas e nas construções que eram feitas de barro, pedras e óleo de baleia. Tal era a importância da Ilha de Itaparica neste período de caça às baleias, que a ilha era chamada de Arraial da Ponta das Baleias. Na Ilha existiam diversas Fábricas de Baleias.

Outro marco importante para a Ilha de Itaparica foi a participação da Ilha de Itaparica como um todo na Independência da Bahia, um conflito armado ocorrido no Brasil entre 1822 e 1823, envolvendo as forças leais a Portugal e as forças brasileiras. A Ilha de Itaparica foi um importante palco de batalha, e Maria Felipa, João das Botas e outros personagens desempenharam um papel relevante na luta pela independência.

A heroína Maria Felipa de Oliveira, que nasceu em Gameleira, na Ilha de Itaparica, era uma mulher negra livre que se tornou um símbolo da resistência baiana. Durante a Independência da Bahia, Maria Felipa liderou um grupo de mulheres itaparicanas, oriundas de diversas partes da Ilha, que atacaram as tropas portuguesas. Nota-se claramente neste pequeno resumo histórico a importância da Ilha de Itaparica e como sua história e resistência contribuíram para a configuração da Bahia e a história do Brasil.

O primeiro governador da Bahia no período republicano, Virgílio Damásio, era itaparicano, e em 31 de outubro de 1890, ele elevou sua amada “Vila de Itaparica” à condição de cidade, conferindo-lhe oficialmente o nome de Cidade de Itaparica. Fazia parte da Cidade de Itaparica a Região de Salinas da Margarida desde 1911 e toda a Ilha de Itaparica. Durante 72 anos, toda a Região de Salinas da Margarida e da Ilha de Itaparica faziam parte de uma única cidade: a cidade de Itaparica. Somente por volta da década de 40 que começam os rumores das divisões territoriais da Ilha de Itaparica e da Região de Salinas da Margarida.

A emancipação política de Vera Cruz e Salinas da Margarida não foi uma tarefa fácil, nem aceitável por todos. Salinas desejava se emancipar, buscando se libertar dos grilhões itaparicanos, enquanto Mar Grande não suportava mais o abandono dos gestores de Itaparica. Mas qual seria a solução? A solução seria a emancipação dos distritos, permitindo que cada um seguisse seu próprio caminho e história. E assim, não só a Cidade de Itaparica foi dividida, como a Ilha também.Não se pode negar que a Ilha de Itaparica é maior que a cidade de Itaparica e Vera Cruz.

Foi em 27 de julho de 1962 que o Sr. Manoel Dias de Albuquerque redigiu a Proposta de Emancipação de Salinas e a apresentou ao deputado estadual Padre Luís Soares Palmeira, que levou o projeto para votação na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Além do Padre Palmeira, autor do projeto emancipacionista, outros deputados, como Mário Padre, Aloisio Rocha, Bião de Cerqueira e Juarez de Sousa, também assinaram o documento.

Nesse processo, o distrito de Salinas, que pertencia a Itaparica, foi emancipado da cidade de Itaparica através do decreto da lei Estadual nº 1755, de 27/07/1962, sancionado pelo Governador Juracy Magalhães e pelo Desembargador Adalicio Nogueira, conforme consta no Diário Oficial do Estado, edição de 31 de julho de 1962, criando assim a cidade de Salinas da Margarida, desmembrando-a da cidade de Itaparica. Salinas já estava livre, não interessava mais a Itaparica, uma vez que a indústria do sal nessa região havia falido.

A proposta era simplesmente emancipar Salinas e livrar-se da região da Ilha de Itaparica não habitada. E assim, neste mesmo ano, no movimento de emancipação de Mar Grande, na Ilha de Itaparica (Vera Cruz ainda não existia como cidade), iniciado por volta de 1947, o Coronel Eloy e outros políticos da região foram os responsáveis pela luta política para a criação de Vera Cruz. No entanto, diversos questionamentos ainda pairam pela Ilha de Itaparica. Por que ocorreu a divisão da forma como temos hoje? Por que o território da Cidade de Itaparica ficou menor do que o território da Cidade de Vera Cruz? O que realmente aconteceu?

O projeto de divisão política do município de Itaparica e da Ilha de Itaparica tramitou durante quinze anos na Câmara Estadual dos Deputados da Bahia, causando idas e vindas sem sucesso. O motivo? Nenhuma proposta de divisão, ou não era aceita, ou não era aprovada. Itaparica exigia ficar com a parte urbanizada da Ilha e também com a orla de Ponta de Areia, quanto as outras regiões da Ilha, nada interessava aos itaparicanos.

A região que hoje chamamos de Gameleira até Mar Grande não era tão povoada e não possuía nenhum atrativo para os itaparicanos na década de 60. Nessa parte da Ilha, viviam alguns pescadores e havia pouquíssimas casas de veraneio, uma vez que toda a urbanização estava concentrada na sede do município de Itaparica. Escolas, hospitais, bancos, comércio e toda a administração da Ilha estavam em Itaparica. Os bairros que hoje fazem parte do município de Vera Cruz não existiam, assim como a BA 001 (que liga Bom Despacho a Nazaré das Farinhas) e a Ponte João das Botas (Ponte do Funil) também não existia. Toda a região que foi transformada em Vera Cruz era um conjunto de grandes fazendas com pequenos vilarejos, sem urbanização, calçamentos, escolas, postos de saúde e farmácias. Isso fez com que, na época (1960), Itaparica não se interessasse por essa parte da Ilha. Não existia os condôminos e tão pouco estradas. Era um parte da Ilha que naquela época não valia muito.

Havia também a possibilidade de Jiribatuba se emancipar e se tornar uma cidade, mas o projeto não foi aprovado. E se fosse, a Ilha de Itaparica seria então dividida em três cidades. Somente nesse período (1960 a 1970), mais de 4 mil cidades foram criadas no Brasil, e dentre essas cidades nasceram Salinas da Margarida e Vera Cruz.
A questão central era que Salinas não fazia parte da Ilha de Itaparica, e o que estava em jogo naquele momento era a divisão da Ilha de Itaparica em duas cidades. Essa divisão da Ilha em dois municípios foi chamada de “mutilação” pelo escritor Ubaldo Osório (1979). Desde o período em que o projeto tramitava pela Câmara dos Vereadores da Cidade de Itaparica, isso já causava alvoroço e preocupações em relação à forma como o território da Ilha de Itaparica seria dividido. A emancipação do território de Salinas foi muito bem acolhida, pois Salinas estava distante da sede de Itaparica, sendo acessível apenas por barcos, navios e canoas, além de ser um distrito fora da Ilha.

No entanto, a divisão da Ilha de Itaparica em si não era vista com bons olhos. Ao pensar na divisão do território da Ilha, a única preocupação dos itaparicanos era que a cidade de Itaparica ficasse com todo o território urbanizado (a parte histórica e naquele período desenvolvida), e assim ocorreu. No projeto de divisão da cidade de Itaparica, desmembrou-se Salinas e Vera Cruz (Mar Grande) e a Cidade de Itaparica ficou com a sede e os distritos de Amoreira, Misericórdia e Porto dos Santos.

Na proposta de emancipação e divisão da Ilha de Itaparica, o distrito de Mar Grande não poderia ser deixado de fora da criação de Vera Cruz, uma vez que seria a sede do novo município e era terra do Coronel Eloy pai da emancipação de Vera Cruz. O litoral da Ilha, de Mar Grande a Cacha Pregos, era um território com pouquíssimas moradias e muitas fazendas.

Na verdade, tínhamos um grande pantanal, que foi aterrado para a construção da BA 001, fato que pode ser observado na estrada elevada. A BA 001 foi construída somente na década de 70.
Durante o processo de divisão territorial, surgiram diversas críticas em relação à forma como a cidade de Itaparica foi afetada e dividida. Muitos moradores e pessoas envolvidas na tramitação do projeto expressaram sua insatisfação com a emancipação, uma vez que isso resultou em prejuízos significativos para a cidade de Itaparica que ficou com a menor parte territorial da Ilha, o que representou uma faixa territorial consideravelmente reduzida em comparação à nova cidade que seria criada na ilha, denominada Vera Cruz. A nova cidade de Vera Cruz era vista como uma cidade sem nenhuma estrutura ou possibilidade de crescimento futuro, devido à falta de urbanização e baixo povoamento na década de 60. Para os itaparicanos, Vera Cruz estava fadada a não crescer e prosperar, e existiam rumores de que tal emancipação não fosse durar muito tempo, pois durante décadas Vera Cruz dependia de Itaparica para muitas atividades administrativas, incluindo escolas de ensino médio, hospitais, bancos e outras atividades.

É importante destacar que, para os itaparicanos na década de 60, a emancipação representava uma oportunidade de desenvolvimento e autonomia política da região. Itaparica poderia seguir prosperando, sendo o centro da Ilha e de toda a atividade administrativa da região. No entanto, a realidade da divisão territorial acabou sendo decepcionante e prejudicial para a cidade de Itaparica ao longo da história e dos anos, pois diversas atividades econômicas que eram centralizadas na região que hoje é Itaparica foram falindo. Ficando a cidade de Itaparica um lugar tipicamente histórico e sem investimentos que potencializassem o turismo e até mesmo a economia local.

Em 1962, após longas disputas e batalhas políticas, o projeto foi apresentado e levado à votação na Câmara dos Vereadores da cidade de Itaparica. Salinas já estava emancipada e agora chegou a vez de Vera Cruz. Foram cinco votos a favor da emancipação (divisão) e um contra. A população de Mar Grande comemorou a emancipação política, tendo a primeira sede da prefeitura no bairro do Jaburu. E assim, a lei 1773, de 31 de julho de 1962, que criou o município de Vera Cruz, foi publicada, desmembrando do município de Itaparica e tendo os seguintes limites:

  • Com o município de Itaparica: Começa no marco do Porto da Misericórdia, segue em linha reta até a nascente do Riacho da Gameleira e, em seguida, segue pelo riacho até a sua foz no Oceano.
  • Com a Baía de Todos os Santos: Começa na foz do Riacho da Gameleira, segue pela orla do mar até Barra Falsa, em frente à Ponta do Garcez.
  • Com o Oceano Atlântico: Começa na Barra do Pote e segue pela orla do mar até a Barra Falsa, em frente à Ponta do Garcez.
  • Com o município de Jaguaripe: Começa na Barra Falsa, em frente à Ponta do Garcez, segue pelo canal entre a Ilha de Itaparica e as ilhas das Carapebas e São Gonçalo, e pelo canal entre a Ilha de Motarandiba e o Continente, incluindo o grupo de ilhas do Cal, Olho Amarelo, Malacaia e Saraíba, até confrontar a Enseada Grande.
  • Com o município de Salinas da Margarida: Começa no canal entre a Enseada Grande e as Ilhas Carapitubas, até o Porto da Misericórdia, inclusive a ilha de Canas.

Por: Professor Silvano Sulzarty

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