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Colegiado da Saúde promove debate sobre Doenças Inflamatórias Intestinais

A Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa promoveu, nesta terça-feira (23), a audiência pública intitulada “Doenças Inflamatórias Intestinais em Alusão ao Maio Roxo”. A proposição foi do vice-presidente do colegiado, deputado José de Arimateia (Republicanos), que convidou especialistas médicos da área para discutir este tipo de enfermidade crônica, que vem aumentando muito nos últimos anos, sendo motivo de preocupação para os profissionais de saúde.

A primeira palestrante da reunião foi a médica da Sociedade de Gastroenterologia da Bahia (SGB), Jaciene Fontes, que fez uma apresentação bem didática, com números alarmantes sobre as doenças intestinais que costumam se manifestar normalmente a partir dos 50 anos de vida. “São 6 a 8 milhões de casos no mundo. Quando a gente fala do câncer de cólon, fala de uma doença que tem uma incidência de 19 a 35 casos por 100 mil habitantes. Retocolite Ulcerativa tem 214 novos casos por 100 mil habitantes e Doença de Crohn são 100 a 300 novos casos por 100 mil habitantes”, explicou. A gastroenterologista do Hospital Roberto Santos, que também integra o Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB), revelou que essas doenças envolvem custos indiretos, inclusive com gastos elevados na Previdência Social.

Jaciene Fontes alertou ainda que as doenças intestinais exigem um tempo médio absurdo de afastamento do trabalho, em torno de 314 dias a cada cinco anos. “Isso equivale dizer que, a cada cinco anos, a pessoa fica quase um ano afastada da atividade laboral profissional. Este paciente vai cair na história do ‘nem nem’. Nem consegue emprego por causa da doença e nem consegue se afastar pelo INSS”, salientou a médica, comentando também sobre os principais sintomas, os diversos métodos de diagnósticos, as formas de tratamentos das inflamações e as dificuldades com relação ao uso de medicamentos na rede pública. “Precisamos de uma assistência multidisciplinar, precisamos melhorar a assistência farmacêutica, a gente sabe que temos acesso aos medicamentos, que não faltam, mas eles demoram muito para chegar. Queremos discutir estratégias de tratamento que evitem gastos excessivos e desnecessários com a judicialização”, concluiu a palestrante em mensagem de encerramento aos espectadores.

“Aspectos Cirúrgicos da Doença Inflamatória”. Este foi o tema abordado em palestra pelo médico proctologista Rogério Medrado, que enumerou alguns pontos importantes das doenças intestinais e apontou quais as situações que tornam necessária a cirurgia em um paciente. Especialista em cirurgia do aparelho digestivo, Medrado fez questão de apresentar para a plateia, formada de parlamentares, imprensa, médicos, pacientes e representantes de associações, fotos chocantes mostrando partes do intestino com um processo bastante inflamatório. O caso em destaque foi o de uma jovem de 24 anos, estudante universitária, em plena vida, mas com muita secreção e sérios problemas na região anal. “Fiquei angustiado com o quadro clínico dela, pois caminhava para a morte. As coisas estavam muito difíceis. Esta paciente ficou 45 dias internada se preparando para a programação de uma cirurgia. Quando foi possível fazer, levamos sete horas na mesa de operação. Tiramos todo o intestino grosso, que estava destruído por um processo inflamatório. Dois dias depois, esta menina já estava pedindo pizza de atum com catupiry”, contou feliz o médico Rogério Medrado, arrancando aplausos dos assistentes. Ele comemora a transformação da jovem, que voltou a fazer o curso de Psicologia na Ufba, “ressignificando a vida”.

Quem também marcou presença na audiência foi Giceli Reis dos Santos, presidente da Associação dos Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, fundada em 2015 para lutar, na época, contra a falta de medicamentos específicos. Ela relatou os problemas enfrentados pelos pacientes em situações simples do cotidiano, como a utilização de banheiros em determinados espaços públicos, e informou que a entidade tem um grupo de apoio no aplicativo Telegram para orientar sobre exames, medicação e outras ações de interesse dos pacientes. “Fizemos ainda uma ficha de cadastro, com o preenchimento de um formulário virtual, com informações necessárias para a gente saber como está o tratamento na Bahia, fazendo um comparativo com um levantamento realizado em 2017 pela Associação Brasileira de Colite e Doença de Crohn (ABCD). Juntos somos visíveis”, afirmou Giceli Reis. Você sabe o que é Doença Inflamatória Intestinal? Esta pergunta, estampada nas camisas de várias pessoas que compareceram à audiência pública e interagiram com os palestrantes, tinha como resposta o acesso ao site do Maio Roxo (www.maioroxo.com.br). Foi a maneira encontrada por eles para dizerem à sociedade que necessitam de mais atenção e investimento de recursos no tratamento dessas doenças.

Representante da Secretaria Estadual de Saúde, a diretora de Assistência Farmacêutica Claudia Daniela Santos Souza disse que anotou todas as reivindicações solicitadas, avisou que muitas delas deverão ser respondidas posteriormente, e se posicionou quanto aos medicamentos, com denúncias de que, às vezes, demoram até dois meses para chegar aos pacientes. “Não é a primeira vez que este assunto vem à tona, em outros momentos a gente vem encaminhando para que a Vigilância Sanitária nos dê um retorno. Em relação aos medicamentos biológicos, de infusão, eles eram comprados anteriormente pelo Estado, mas há três anos o Ministério da Saúde resolveu centralizar, trazendo problemas”, apontou a gestora. Ela defendeu uma maior comunicação com as equipes médicas no sentido de ajustar essa questão tão fundamental para quem sofre com as doenças intestinais. Os deputados Luciano Araújo (SD), Hassan (PP), Ludmilla Fiscina (PV) e Alex da Piatã (PSD), presidente da Comissão de Saúde e Saneamento da ALBA, prestigiaram a sessão, realizada na Sala Deputado Eliel Martins. Alex da Piatã parabenizou o pastor Arimateia pela iniciativa e elogiou os palestrantes pelo conteúdo, que considerou “enriquecedor”, principalmente para a população carente que mais precisa do serviço público do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Foi muito importante esta audiência para ver a gravidade de um problema que está acometendo muitos baianos, que são as questões das inflamações intestinais. Nós trouxemos aqui profissionais que relataram dados preocupantes e as várias dificuldades que existem em todo o processo. Medicamentos caríssimos que, algumas vezes, precisam ser judicializados, falta de profissionais e até equipamentos essenciais para o tratamento. Vamos fazer um encaminhamento para que possa ser criado um centro de referência no Hospital Roberto Santos, aliás a única unidade que atende aos pacientes”, finalizou o deputado José de Arimateia, adiantando que será elaborado um documento, com a assinatura dos integrantes do colegiado, para ser entregue à secretária da Saúde, Roberta Santana.

ALBA

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