Laboratórios de Salvador registram aumento na busca por testes de covid-19
A covid-19 voltou a preocupar depois de uma trégua e o aumento recente nos casos da doença levou a uma corrida aos pontos de testagens em Salvador, como laboratórios e farmácias. Em locais como o DNA Laboratório houve um crescimento de 208% na busca pelos exames entre os meses de abril e maio. No Jaime Cerqueira, na Pituba, a procura cresceu 35% somente entre a primeira semana de junho e o mês de maio. Os casos confirmados da doença também subiram no local, de 2% para 20%, no mesmo período.
Seguindo a tendência de alta, o Boletin Epidemiológico da Secretária Estadual de Saúde (Sesab), divulgado ontem, aponta que os primeiros sete dias de junho registraram um crescimento de 422% no número de casos ativos de covid-19, em comparação aos dados do mesmo período de maio. Somente ontem, foram notificados 1494 casos positivos da doença.
No DNA Laboratório, o percentual de positividade dos testes entre abril e maio ficou em 6,13%. A maioria do público que tem procurado as unidades dessa rede são mulheres (55%) e o PCR é o teste mais requisitado, com aumento de 200% em maio. O teste rápido cresceu a demanda em 13%. Para os dois tipos de teste, a recomendação é fazer a coleta após três dias do aparecimento dos primeiros sintomas.
O laboratório Jaime Cerqueira tem unidades em Feira de Santana, Santo Amaro, Ilhéus, Itabuna e Santo Antônio de Jesus, mas foi apenas em Salvador que houve registro de aumento na procura por testes e crescimento de casos confirmados. O diretor médico da instituição, Bruno Cerqueira, acredita que a mudança de cenário está relacionada ao receio dos pacientes de contaminar amigos e familiares.
“Esse crescimento surpreende porque tivemos um pico em janeiro, mas depois o número de testes caiu e, agora, estamos vendo um novo pico, não é igual ao de janeiro, mas é um aumento significativo se comparado ao mês anterior. Em grande parte, isso é reflexo do cuidado do paciente consigo e com os outros, e da maior circulação do vírus influenza, típico desse período do ano”.
Na prática, as pessoas estão ficando gripadas por conta da circulação do vírus influenza, comum no outono-inverno, e com medo que seja covid buscam os laboratórios. O exame mais procurado é do tipo RT-PCR, que também é o mais recomendado pelos especialistas pela precisão dos resultados.
Cerqueira frisou que não basta fazer o teste, é necessário acompanhamento médico. “A gente percebe que muitos pacientes vêm fazer o teste e somente depois procuram um médico. O processo precisa ser o inverso. É importante procurar um especialista primeiro, relatar os sintomas, depois fazer o teste e, caso positivo, seguir as orientações”, afirmou.
A atendente de call center Juliana Conceição, 25 anos, foi uma das pessoas que buscou teste em maio. “Estava com sintomas de gripe, dor de cabeça, cansaço e indisposição, nada grave, mas como são os mesmos de covid a gente nunca sabe. Fiz o teste e deu negativo. Estava vacinada. Já voltei ao trabalho”, contou.
Drogarias
Nas drogarias, um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias (Abrafarma) revelou que 28,33% dos testes para covid-19 feitos nesses estabelecimentos na Bahia deram positivo entre 23 e 29 de maio. O estado ficou na 7ª posição entre aqueles com maior percentual de confirmação.
Na rede Farmácias São Paulo a venda de testes rápidos cresceu 680%. A gerente farmacêutica Ananda Franklin contou que a maioria dos clientes à procura do produto apresenta sintomas gripais e busca o exame para saber se é coronavírus. O teste pode ser feito também na farmácia e o resultado saí em cerca de 10 minutos.
“A compra de testes rápidos na primeira semana de junho foi 680% maior que na primeira semana de maio. Em uma de nossas unidades foram feitos 36 testes presenciais na primeira semana de maio e 120 na primeira semana se junho”, disse.
Ela contou que os pacientes raramente avisam à farmácia quando o teste que levaram para casa confirma a covid. “Não existe essa orientação, então, não temos o resultado de quantos autotestes deram positivo, o que pode estar gerando subnotificação”, pondera.
Subnotificação
Desde 7 de março deste ano, os autotestes para detectar a covid-19 podem ser comprados nas farmácias da Bahia. De acordo com a Sesab, esse tipo de testagem tem plataformas próprias dos laboratórios para que o usuário faça a notificação. O comprador, no entanto, não é obrigado a informar o resultado aos laboratórios.
Após quatro dias sem atualizações sobre o número de novos casos na Bahia, devido a uma falha no sistema e-SUS e SivepGripe do Ministério da Saúde, entre os dias 3 e 6 de junho, o boletim que voltou a ser publicado ontem (07), mostrou que a Bahia registrou um aumento de 73% nos casos ativos de covid-19. Na quinta-feira (7), a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que 1494 pessoas estavam contaminadas. No dia 01 eram 860.
A Sesab não informou o número de testes realizados pelo Lacen na primeira semana de junho, mas reforçou que “o exame deve ser feito por pessoas que tiveram contato direto com quem teve diagnóstico positivo e por aquelas que apresentam sintomas”.
A reportagem procurou a Secretária de Saúde de Salvador, mas até a publicação desta matéria não houve resposta.
Falha no sistema
Em uma semana, a Bahia registrou aumento de 86% nos casos ativos de covid-19. Na quinta-feira (2), a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que 953 pessoas estavam contaminadas. No dia 26 de maio eram 512. Porém, uma falha no sistema e-SUS e SivepGripe, do Ministério da Saúde, impediu a atualização dos novos casos na Bahia e em outros estados nos quatro dias seguintes.
Em nota, o Ministério da Saúde havia informado que iniciou manutenção corretiva no servidor da pasta na sexta-feira (3), dia em que o problema começou, e que o serviço foi finalizado nesta segunda-feira (6). “Os sistemas já foram restabelecidos e os dados enviados pelos sistemas de informação dos estados e municípios já estão em processo de atualização”, dizia a nota.
A covid-19 já corresponde a 59,6% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) com identificação viral entre 1º e 28 de maio. O dado foi divulgado no Boletim InfoGripe Fiocruz, na semana passada, e mostra uma tendência de aumento pela terceira semana epidemiológica consecutiva. Entre 20 de março e 16 de abril, período com o menor porcentual, a covid-19 correspondia a 34,1%.
Entre 22 e 28 de maio, o porcentual da infecção do novo coronavírus entre os casos de SRAG era de 48%, enquanto que nas semanas anteriores, alternou de 41% a 37%. Segundo os especialistas, o crescimento nos casos de covid-19 está relacionado a flexibilização do uso de máscara, a diminuição do ritmo de vacinação e a circulação de variantes mais transmissíveis. Os médicos reforçam a importância da vacinação.
(Correio)
(Foto: SECOM)