DiDi, o app chinês que quer superar o Uber no Brasil
Qual é o aplicativo de transporte de passageiros mais usado no mundo? Muita gente vai responder Uber, mas os responsáveis pelo DiDi afirmam que são eles – com uma média de 30 milhões de corridas diárias.
A empresa chinesa está apostando agora no mercado latino-americano, como parte de sua estratégia de expansão internacional.
A DiDi Chuxing opera desde 2018 no Brasil e no México, e há algumas semanas anunciou o lançamento de seus serviços no Chile e na Colômbia.
Fundada em 2012 por Cheng Wei, ex-gerente de vendas do Alibaba, a companhia começou a operar como um serviço para reservar táxis, uma vez que até 2016 carros particulares não podiam oferecer transporte de passageiros na China.
Inicialmente chamada DiDi Dache, a empresa se juntou em 2015 a uma grande plataforma de transporte no gigante asiático, a Kuadi Dache, para criar a DiDi Kuaidi, que mais tarde se tornou DiDi Chuxing.
Essa união permitiu que a nova plataforma tivesse acesso a mais de 95% do mercado chinês e competisse com o Uber, que entrou no país em 2014.
Em 2016, a empresa chinesa comprou por US$ 7 bilhões a filial da sua rival americana na China, criando uma companhia avaliada na época em US$ 35 bilhões.
O que a DiDi está fazendo na América Latina?
A América Latina é considerada uma das regiões com maior crescimento de internet móvel no mundo.
Para aplicativos de transporte, como o DiDi, isso faz com que o continente seja uma área com grande potencial.
Além disso, a América Latina é atualmente a região onde sua concorrente Uber, presente em mais de 200 cidades em 15 países da região, cresce mais rapidamente, conforme informou a empresa americana à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
A companhia conta com mais de 30 milhões de usuários e mais de 1 milhão de motoristas parceiros, sendo seus principais mercados Brasil e México.
Em paralelo, em 2018, a DiDi adquiriu o 99, a plataforma de transporte mais utilizada no Brasil, e iniciou suas operações no México.
O 99, sua subsidiária, possui 18 milhões de usuários em 1 mil cidades no Brasil.
A empresa chinesa está presente hoje em 32 cidades do México, o que permite alcançar mais da metade da população do país.
Entrada no Chile e na Colômbia
Em comunicado à imprensa, em junho do mês passado, Mi Yang, chefe das operações do DiDi para as Américas Central e do Sul, destacou a importância do Chile e da Colômbia para a empresa.
“Estamos muito empolgados por começar a servir o Chile e a Colômbia, dois importantes centros de crescimento e inovação na região”, declarou Yang.
Por enquanto, a plataforma digital está presente apenas na capital colombiana, Bogotá, e nas cidades chilenas de Santiago e Valparaíso.
Eles também planejam operar um serviço de táxi na Colômbia, o que ajudará a competir com outros aplicativos de transporte no país, como Uber, EasyTaxi e Beat.
Em comunicado enviado pelo Uber à BBC News Mundo, a plataforma americana afirma que a expansão da DiDi é bem-vinda.
“A concorrência é sempre bem-vinda. Nos ajuda a crescer e a concentrar nossos esforços em melhorar a experiência de viagem tanto para usuários quanto para motoristas parceiros.”
Neste mês, o aplicativo de transporte realizou suas primeiras discussões com os sindicatos de taxistas para estabelecer uma aliança colaborativa em Santiago e melhorar os serviços de mobilidade na cidade.
Operação fora da lei?
O DiDi não é o primeiro aplicativo de transporte a estabelecer operações no Chile e na Colômbia. No entanto, seus serviços – assim como os oferecidos por seus concorrentes – ainda precisam ser regulamentados e enfrentam a oposição dos sindicatos de taxistas, que os consideram uma concorrência desleal.
Em julho, o Senado chileno aprovou a chamada “Lei Uber” que regulamenta essas plataformas.
Antes de ser implementada, a lei terá de ser analisada por comissões especializadas e passar por um processo de consulta pública que termina no fim de agosto.
A legislação exige que as plataformas sejam estabelecidas no país e ofereçam seguro de responsabilidade civil e de vida a seus usuários, entre outras coisas.
Na Colômbia, no entanto, ainda não foi aprovada nenhuma legislação que regule os aplicativos de transporte de passageiros.
Em dezembro do ano passado, a ministra dos Transportes, Ángela María Orozco, declarou que se as autoridades surpreendessem motoristas de veículos particulares prestando serviço público, eles poderiam ficar sem habilitação por até 25 anos.
No entanto, as plataformas de transporte são tratadas como qualquer outra empresa, já que o país respeita a neutralidade da internet. Isso significa que as autoridades não podem interferir nas operações das plataformas digitais.
Após uma greve de taxistas na Colômbia em julho deste ano, o Ministério dos Transportes anunciou a criação de mesas de diálogo para determinar como esses serviços deveriam ser regulamentados.
Problemas de segurança?
Alguns motoristas parceiros da DiDi denunciaram a suposta falta de regras rígidas de segurança.
Isai Gerardo Soto López, que dirige para o aplicativo no México, contou à BBC News Mundo que a plataforma tinha alguns inconvenientes que poderiam colocá-lo em risco como motorista.
Soto López explica que às vezes não consegue ver o nome do passageiro, já que eles não são obrigados a fornecer essa informação para criar o cadastro.
“Você não sabe quem vai pegar, apesar de o usuário saber qual é meu nome, meu carro e minha placa, então a reciprocidade existe”, diz Soto López.
Diante das reclamações, a DiDi Chuxing afirmou em comunicado à BBC News Mundo que a segurança de seus motoristas e usuários é uma prioridade para a plataforma.
“Antes de um passageiro solicitar uma corrida, ele precisa autenticar sua conta com seu número de identidade, que é verificado por um terceiro provedor”, diz a plataforma chinesa.
“Continuamos pesquisando e investindo em tecnologia e recursos para melhorar a segurança das nossas plataformas.”
Outros motoristas da DiDi entrevistados pela BBC News Mundo ressaltaram que os pré-requisitos exigidos pela plataforma em relação aos veículos que podem oferecer o serviço – como o ano de fabricação – são menos rígidos que os do Uber.
O primeiro ‘superaplicativo’ da América Latina?
No início de junho, a plataforma chinesa anunciou em comunicado à imprensa o lançamento de seus novos serviços financeiros no Brasil e no México.
A DiDi vai trabalhar com instituições financeiras para oferecer cartões de banco aos motoristas para que eles possam receber os pagamentos por seus serviços.
Eles vão poder usar o cartão para sacar dinheiro e fazer compras em determinadas lojas locais.
Em uma conferência recente, Zheng Bu, responsável pelos Negócios Internacionais de Tecnologia da DiDi Chuxing, disse que esses serviços vão ajudar um grande número de motoristas.
“No Brasil, por exemplo, há muitas pessoas que podem dirigir, mas não podem ser motoristas da DiDi porque não têm contas bancárias”, afirmou Bu.
“Então, agora estamos oferecendo a eles serviços financeiros.”
De acordo com Jeffrey Towson, professor de investimentos da Universidade de Pequim, essa decisão é parte da estratégia da DiDi Chuxing de se tornar um aplicativo completo.
“Na Ásia, o objetivo é ser um ‘superaplicativo’, porque eles não querem oferecer um serviço só”, disse Towson.
“Acredito que a DiDi tem uma visão mais ampla da mobilidade do que o Uber.”
“Superaplicativo” é um termo usado para descrever plataformas como o WeChat, que é uma mistura de Whatsapp, Facebook e Paypal.
Com seus novos serviços financeiros, a DiDi Chuxing parece que está tentando desempenhar esse novo papel na América Latina.(BBC)