ALBA apoia políticas de valorização para o futebol feminino na Bahia
Quem assiste Marta nas quatro linhas se rende ao bom futebol que levou a atleta da Seleção Brasileira a se tornar a maior artilheira da história das copas. Eleita seis vezes como melhor jogadora de futebol do mundo, a alagoana inspira as novas gerações. No entanto, assim como Cristiane e Formiga – colegas de elenco – Marta é um ponto fora da curva. A realidade do futebol feminino no Brasil causa frustração em muitas meninas que sonham em um dia viver profissionalmente do esporte.
Os desafios para incluir a mulher no futebol, assim como a dificuldade de patrocínio e apoio, e a inferioridade salarial em comparação aos homens, mobilizaram amantes do esporte a participarem da sessão especial para discutir as Políticas de Valorização do Futebol Feminino na Bahia, proposta pela deputada Olívia Santana (PC do B) e aprovada pela Comissão dos Direitos da Mulher, da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).
No encontro, realizado na manhã desta quinta-feira (27), no plenário do Parlamento baiano, a comunista destacou que a presença da mulher nos esportes se confunde com a luta por mais direitos e liberdade. A parlamentar foi enfática ao destacar o que considerou merecimento das jogadoras brasileiras ao profissionalismo. “Não é mais um assunto apenas de esporte, é um tema da sociedade. Não podemos ver o futebol feminino somente como lazer. Ele é um ofício, uma profissão”, afirmou Olívia, que preside a Comissão da Mulher.
A proponente apresentou números divulgados por institutos de pesquisa, que confirmaram a disparidade no que tange a remuneração dos atletas do futebol, evidenciando a superioridade econômica dos homens no esporte. De acordo com a Agência Brasil, 1% das jogadoras remuneradas tem o poder de cobrar salário igual ou maior de R$ 29 mil; 30% recebem entre R$ 7 mil e R$ 2 mil; e 67% tem salários até R$ 2 mil ou mesmo nada recebem.
Segundo um estudo feito pelo Sindicato Internacional dos Jogadores de Futebol, 49% das mulheres que praticam o esporte não recebem salários, e 87% encerrarão a carreira antes dos 25 anos, sendo assim, a jogadora Formiga, que já ultrapassou a linha dos 40 anos, pode ser percebida como um caso raro de longevidade na carreira.
Para Tainara Silva, atleta do Esporte Clube Vitória, o grande obstáculo para o talento da mulher tem sido o machismo tóxico impregnado na sociedade. “Há muito tempo o futebol feminino tem sido excluído da sociedade, devido a um preconceito a partir do machismo, pois no futebol a gente não percebe uma outra causa que justifique isso. Mas não devemos abaixar a cabeça, a gente pode chegar onde quiser, só não podemos desistir”, afirmou.
Um esforço por parte de delegações, políticos, empresários e atletas busca a transformação do cenário, e significativas conquistas dão esperança aos profissionais. A Conmebol, por exemplo, se enquadrou em um dos principais artigos nos estatutos da Fifa. O Artigo 23 do Estatuto aborda questões antidiscriminatórias: além da prevenção ao racismo, à homofobia e à intolerância religiosa, é necessário que clubes e federações impeçam a desigualdade de gênero. A entidade sul-americana deu prazo de dois anos para que seus membros se adaptassem, fazendo com que a mudança passasse a valer, efetivamente, no início de 2019.
Apenas recentemente (2018 e 2019), Bahia e Vitória constituíram times de futebol feminino profissional. Até então, o futebol feminino baiano somente atuava na categoria amadora, disputando apenas competições não profissionais. De um modo geral, a treinadora da Seleção Brasileira Feminina de Futebol 7, Dilma Mendes, considera que o futebol feminino tem dado passos lentos no Brasil. Segundo a camaçariense que já treinou outras modalidades do esporte, como Futsal e Futebol Society, os clubes só estão constituindo departamentos de futebol feminino por imposição.
“Muitos gestores desconhecem o valor do futebol feminino, e não investem o suficiente para um trabalho grandioso. Assim, a evolução é mínima. Temos exemplos de sucesso no esporte: Formiga é um deles, mas não podemos viver de conquistas individuais, precisamos de mais”, criticou.
Integrando a mesa, o secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Davidson Magalhães, apresentou um balanço das ações do Governo do Estado para o esporte, por meio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), e anunciou a preparação do Executivo para instalar o Programa de Iniciação Esportiva para o Futebol Feminino na Bahia. Segundo Magalhães, a novidade será resultado de uma parceria entre a Setre e a Secretaria de Política para Mulheres (SPM). “Esse trabalho do início é muito importante. As meninas precisam deste apoio, desta atenção para desenvolver. O Estado, na gestão do governador Rui Costa, assume essa responsabilidade de garantir condições para o crescimento desse esporte e, consequentemente, incentivo às nossas atletas”, afirmou.
Participaram do encontro ainda as deputadas Jusmari Oliveira (PSD) e Maria del Carmen Lula (PT), o superintendente dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), Vicente Neto; a apresentadora do TVE Esporte, Ayana Simões; o vice-presidente da Federação Bahiana de Futebol, Manfredo Lessa; amantes do esporte, treinadores e atletas do Esporte Clube Vitória e da equipe do São Francisco do Conde. A sessão foi um primeiro passo na luta por mais visibilidade e investimentos, sobretudo na base do futebol feminino, de onde devem ser iniciados os trabalhos. Uma audiência pública já foi aprovada pela Comissão Especial de Desporto, Paradesporto e Lazer, e terá data marcada após o recesso parlamentar do mês de julho.