Rio de Contas, colhe primeira safra de azeitonas do nordeste
cidade de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, na Bahia, colhe a primeira safra de azeitonas do nordeste do Brasil. Após cerca de 10 anos, quando as primeiras mudas foram levadas para a região, os 500 pés de oliveiras devem render cerca de 5 toneladas do fruto [cada um tem, mais ou menos, 10 quilos].
A colheita é uma surpresa para os donos da fazenda. “É uma linda surpresa. São dez anos de muita fé e de uma improbabilidade…”, conta o produtor rural Didier Chinchila.
Ter azeitonas, que vem de um clima mediterrâneo, no coração do Brasil, na Chapada Diamantina, no coração da Bahia, não faz sentido, mas tem
A ideia começou com ele, empresário francês que sempre foi apaixonado pelo Brasil. “Eu tinha 20 e poucos anos quando cheguei aqui, nos anos 70, ano 79, e era outro mundo. Muito charmoso”, disse Didier Chinchila. Após deixar a empresa em que trabalhava como executivo, ele começou a passear pelo Brasil. Em uma dessas andanças, chegou até a Chapada Diamantina.
“Senti um clima diferente, que me lembrava muito as regiões do sul da França…Uma sensação física que eu não estava no Brasil tropical, úmido, da costa, do dendê. Eu estava em um outro mundo, que é a Chapada Diamantina”, relembra o empresário.
O vento, a luz, a chuva do verão, era bem típico de um clima mediterrâneo
Daí, desse típico clima mediterrâneo, veio a ideia de cultivar oliveiras. As primeiras mudas chegaram em 2008, através de uma parceria com a Embrapa Semiárido de Pernambuco. “A Embrapa de Petrolina tinha um programa financiado pela Codevasf para aclimatação de plantas temperadas no semiárido. E ele [um professor do projeto] tinha um estoque de umas 20 variedades de oliveiras. Então, a gente fez esse programa e plantamos aqui”, conta.
Didier Chinchila montou uma cooperativa com familiares e amigos franceses, que decidiram investir no projeto, pois cultivar oliveiras envolve custos altos e investimento em conjunto.
“A gente sentiu que esse clima é muito especial, essa terra é muito especial para o cultivo de oliveiras”, conta o produtor Luc Morron.
É verdade que ninguém acreditou muito, mas seguimos e sabíamos naquela época que iria levar uns anos de qualquer jeito
As oliveiras são árvores que levam 8 a 15 anos para aprofundar as raízes, maturar e frutificar. Dos 7 mil hectares comprados pela cooperativa, apenas três hectares foram cultivados com oliveiras. Um espaço equivalente a três campos de futebol, que eles fizeram uma plantação experimental. Nos últimos dez anos, algumas plantas morreram. Outras chegaram a dar alguns frutos, mas há quatro semanas veio a surpresa: as oliveiras ficaram cheia de azeitonas.
A colheita este ano está sendo improvisada. Os funcionários da fazenda que acompanham o projeto desde o início também estão surpresos. As oliveiras estão tão carregadas que os galhos tendem a ficar para baixo, quase despencar.
A fazenda fica a quase 1.200 metros de altitude, em uma região onde estão os maiores picos da Bahia: o Itobira, o Pico das Almas, e o Barbado.
Além de cultivar as azeitonas, os donos da fazenda cultivam manga, maracujá e a tangerina. Frutas que também passaram a ser cultivadas também por outros produtores da região. A fruticultura tem se expandido por essa área da Chapada Diamantina, onde a temperatura pode chegar a 4 ºC no inverno.
O professor e pesquisador da Empraba, Orlando Passos, um dos mais respeitados cientistas do país, acredita que essa região da Bahia tem um microclima ideal para o cultivo das frutas de mesa.
“O que caracteriza a Chapada Diamantina é exatamente a altitude elevada. Vai de 1.100 metros a 1.400. Além disso, há uma amplitude térmica que é uma diferença da temperatura mais alta com a mais baixa. Isso faz com que a fruta, tangerina e laranja, fiquem mais coloridas. A fruta começa a ficar colorida exatamente quando a temperatura baixa. Esse microclima vale a pena se avaliar espécies como oliveiras”, conta o pesquisador. Sobre o cultivo de oliveiras, Orlando Passos é cauteloso.
De um modo geral, quando você conclui sobre uma variedade de uma região, você tem pelo menos três safras para bater o martelo
Segundo Cristian Rodrigo Lima, engenheiro agrônomo, foi preciso melhorar o solo para que as oliveiras dessem frutos.
“O que nós já fizemos aqui foi tentar melhorar um pouco o solo, que é bastante ácido, com bastante alumínio. Então, a gente está corrigindo este solo, que é um trabalho não tão rápido, requer tempo, e a gente vem fazendo algumas práticas agrícolas como a poda de formação, que é abertura da copa, para deixar tirar os galhos ladrões, e fazer a planta parecer uma taça. Em 2017, logo após as chuvas, em abril, maio, a gente também deu um estresse hídrico nas plantas, não fizemos poda, e o frio contribui para a floração que ocorre sempre no mês de julho e agosto”, disse.
As oliveiras são conhecidas no mundo inteiro como árvores da eternidade. Em outras partes do mundo, existem algumas com mais de dois mil anos. Além disso, têm uma forte ligação religiosa. Na bíblia, foi citada pela primeira vez, no livro do gênesis, quando a pomba voltou para a arca de noé, com um ramo de oliveira. Também, segundo a bíblia, era no monte das oliveiras que Jesus costumava se recolher para pensar.
Para o futuro, o produtor Didier Chinchila sonha alto. “Investir nesse plantio para produzir, o ano que vem, o azeite. O primeiro azeite da Bahia, azeite de oliva e não de dendê. Isso é símbolo de um potencial de desenvolvimento dessa região que precisa ser trabalhada com inteligência e com os poderes públicos”, revela.