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Os pré-candidatos à Presidência e seus obstáculos até a campanha

A cerca de oito meses das eleições, o Brasil tem pelo menos 14 pré-candidatos à Presidência. As projeções indicam uma disputa com muitos candidatos e, até o momento, tão aberta que dificulta até mesmo definir os nomes que estarão nas urnas.

No entanto, todos os que aparecem nas pesquisas de intenção de votos ou que já se lançaram como pré-candidatos têm importantes obstáculos a superar até o início da campanha, marcada para começar em agosto.

Pendências na Justiça, disputas partidárias internas, tempo escasso de propaganda no rádio e na televisão, alta rejeição ou falta de popularidade e impedimento para participar em debates são alguns dos desafios que os postulantes à Presidência e seus respectivos partidos ainda precisam driblar até agosto.

Apesar de a Justiça Eleitoral ainda não ter divulgado o calendário oficial das eleições do próximo ano, marcada para 7 de outubro, partidos trabalham com prazos para atrair políticos, firmar alianças e lançar seus candidatos na tentativa de aumentar suas chances eleitorais.

Mudança na legislação feita em 2015 reduziu de um ano para seis meses o prazo para filiação partidária de quem quer disputar a eleição. Em março, contudo, será aberta uma janela de 30 dias para a troca de partido de políticos que queiram se candidatar sem o risco da perda do mandato em curso.

Muitas bancadas apostam nessa janela para aumentar o número de representantes na Câmara e, assim, elevar o tempo de televisão e participar de debates.

Do total do tempo de propaganda, 90% será distribuído proporcionalmente ao número de deputados federais de cada legenda e o restante será distribuído igualitariamente. Para participar de debates na televisão, por sua vez, o candidato precisa estar filiado a um partido com mais de cinco deputados federais.

A BBC Brasil listou obstáculos dos principais pré-candidatos e partidos que já anunciaram a intenção de lançar um nome à Presidência da República.

Lula (PT)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera os cenários para a eleição presidencial em 2018, mas pode ter a candidatura barrada caso a segunda instância da Justiça federal mantenha por unanimidade a condenação por corrupção – o julgamento do recurso foi marcado para janeiro.

Se condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF-4), Lula pode também ser preso – ainda que a prisão após condenação em segunda instância seja um tema cuja discussão tem dividido os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Se concorrer, Lula pode usar a campanha como estratégia de defesa das acusações que pesam contra ele. A defesa de Lula, que tenta reverter a condenação sob o argumento de que o ex-presidente é inocente e que não há provas contra ele, traça estratégias jurídicas para mantê-lo na disputa por meio de diferentes recursos.

Mesmo que seja absolvido no caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente ainda responde a outras quatro ações na Justiça, sob acusação de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça.

Além das pendências judiciais, Lula também tem rejeição alta – segundo pesquisa Datafolha realizada entre 29 e 30 de novembro, 39% disseram não votar nele de jeito nenhum. Na frente dele está somente o presidente Michel Temer, que não deve disputar a campanha presidencial, com 71%.

Ainda assim, muitos integrantes da cúpula do PT veem em Lula a única opção para a disputa presidencial. Um plano B seria o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que já declarou ser uma “grande deselegância com Lula” se colocar como opção do partido para 2018.

O PT enfrenta dificuldades para se coligar e deve participar das eleições sem partidos aliados. O PCdoB, um dos mais fiéis aliados dos petistas, por exemplo, anunciou que pretende disputar a eleição com a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila.

Lula nasceu em Pernambuco, mas construiu sua carreira política em São Paulo, incialmente como sindicalista.

Em 1986, foi eleito deputado federal por São Paulo para participar da Assembleia Nacional Constituinte. Foi eleito presidente em 2003, depois de ter disputado as presidenciais outras três vezes. Comandou o Brasil por dois mandatos e elegeu a sucessora, Dilma Rousseff, em 2010.

Jair Bolsonaro (PSC)

Segundo colocado nas pesquisas de intenção de votos, o deputado federal Jair Bolsonaro ainda precisa trocar de partido para participar da presidencial ou disputar dentro do PSC com Paulo Rabello de Castro, lançado candidato pela legenda em novembro.

“Mudamos o nome do partido, colocamos cinco pessoas dele na Executiva, fizemos tudo o que ele pediu. Antes era um noivado, agora ele está casado com o partido”, diz Adilson Oliveira, presidente do PEN.

Segundo ele, Bolsonaro já assinou a ficha de filiação com data de 10 de março de 2018, quando já poderia trocar de partido sem o risco de perder o mandato de deputado.

Oliveira lista os obstáculos que o Patriota e Bolsonaro vão precisar enfrentar. Primeiro, a legenda precisa aumentar a bancada, que hoje tem três deputados. O presidente do PEN diz que, em março, a filiação de Bolsonaro e do filho Eduardo já garantiriam ao deputado o direito de participar de debates, mas que haverá mais nomes migrando para o Patriota.

Recursos de campanha também são vistos como um desafio e Oliveira aposta na divulgação do número de uma conta para arrecadar doações junto a apoiadores pela internet. O pouco tempo de propaganda oficial – 10 segundos se o Patriota não se coligar – seria, segundo o presidente do partido, contornado pelas redes sociais e pela produção espontânea de conteúdo de simpatizantes.

Para Oliveira, Bolsonaro vai precisar mostrar a uma parcela do eleitorado que não é agressivo nem radical e que domina diferentes temas.

Bolsonaro, militar da reserva e professor de educação física, é deputado federal desde 1991 – tem sete mandatos por cinco partidos diferentes.

Geraldo Alckmin e João Dória (PSDB)

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiu neste mês a presidência do PSDB para tentar apaziguar o partido, que se dividiu entre ficar ou sair da base do governo Temer.

Alckmin, contudo, não é o único nome tucano para a eleição presidencial.

O prefeito de São Paulo, João Dória, ainda tenta se viabilizar dentro do PSDB. Mas muitos tucanos acreditam que ele “queimou a largada” ao fazer um giro pelo Brasil na tentativa de aumentar sua popularidade – ele ainda é considerado desconhecido no país e não conseguiu alavancar seu nome nas pesquisas. O ex-senador e atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, por sua vez, pressiona o PSDB para participar de prévias com Alckmin.

Além das disputas internas, Alckmin assume um PSDB desgastado pelas denúncias de corrupção contra integrantes do partido, em especial as que pesam contra o senador Aécio Neves, que disputou as eleições presidenciais em 2014. Alckmin também foi acusado de receber R$ 10 milhões em quantias não declaradas da Odebrecht, o que nega.

O governador também não sabe se e quando contará com o apoio do DEM, aliado de fiel de eleições anteriores. Coligada, a chapa PSDB-DEM teria, por exemplo, mais tempo de propaganda.

Alckmin já disputou as eleições presidenciais em 2006, quando perdeu para Lula no segundo turno.

Formado em Medicina, começou a carreira política como vereador e, depois, prefeito de Pindamonhangaba (SP). Em 1994, foi eleito vice-governador de São Paulo e acabou assumindo o governo com o agravamento da saúde de Mário Covas em 2001. Perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo em 2008, mas voltou como governador em 2010 e foi reeleito em 2014.

Marina Silva (Rede)

Com duas eleições presidenciais no currículo, Marina Silva lançou oficialmente a candidatura em 2 de dezembro. A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, contudo, deve ter somente 12 segundos de propaganda e dificilmente a Rede vai se coligar com outros partidos para aumentar o tempo na televisão e no rádio.

Por isso, o primeiro obstáculo do partido é aumentar a bancada na Câmara antes do registro da candidatura para que Marina participe dos debates – a Rede, atualmente, conta com apenas quatro deputados federais.

Marina enfrenta uma rejeição de 24%, segundo o último Datafolha. Vai precisar também responder a críticas de ser omissa em momentos em que muitos aguardavam um posicionamento ou opiniões firmes sobre temas centrais ou disputas política e de ter declarado voto a Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014.

Avessa a embates e a ataques, a própria candidata avalia que será uma campanha extremamente agressiva.

Marina disputou as duas últimas eleições presidenciais, uma pelo PV e outra pelo PSB. Ela começou a carreira política no PT.

Ciro Gomes (PDT)

A candidatura do ex-ministro e ex-governador do Ceará é considerada “irreversível” pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. À BBC Brasil, Lupi disse que o partido marcou para 8 de março um evento para confirmar o nome de Ciro como pré-candidato à Presidência.

A falta de aliados para fortalecer a candidatura numa coligação formal é um obstáculo a ser enfrentado. O PDT negocia alianças com o PSB e o PC do B. “São conversas que ainda estão em construção”, diz Lupi.

O estilo franco e impulsivo que há anos rende a Ciro a fama de “destemperado” pode ser um empecilho. “Todo mundo já teve uma palavra maldita ou foi mal interpretado”, pondera Lupi.

Ciro enfrenta uma rejeição de cerca de 22% do eleitorado, que segundo o Datafolha diz não votar nele de jeito nenhum, e não decolou. A depender do cenário ele tem de 6% a 10% das intenções de voto.

Ciro Gomes já foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal, governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco (Fazenda) e Lula (Integração Nacional).

Ele já passou por sete partidos em 37 anos de vida pública. Ciro já concorreu à Presidência duas vezes, em 1998 e em 2002.

Manuela D’Ávila (PCdoB)

Ao anunciar a ex-deputada federal e atual deputada estadual no Rio Grande do Sul como pré-candidata, o PCdoB praticamente acabou com a possibilidade de o partido ser vice numa eventual chapa encabeçada por Lula.

Ao perderem o aliado, petistas classificaram a decisão do PCdoB como “erro histórico”.

Manuela, de 36 anos, terá cerca de 20 segundos no tempo de propaganda e poderá participar de debates. Apesar de ter sido deputada federal por dois mandatos e líder do PCdoB da Câmara, Manuela não é um nome conhecido em todo o país. Conforme apontou o Datafolha, ela é conhecida por 24% do eleitorado.

Entre os obstáculos, provavelmente, também estará a dificuldade de desassociar a imagem do partido à do PT – em especial porque o PCdoB foi contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e muitos de seus filiados defendem Lula das acusações que pesam contra ele na Justiça.

Manuela é jornalista de formação e foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre, eleita aos 23 anos. Em 2006, foi para a Câmara dos Deputados, onde ficou por dois mandatos. Concorreu à prefeitura da capital gaúcha duas vezes, sem sucesso. É deputada estadual desde 2014.

Álvaro Dias (Podemos)

O ex-tucano ganhou fama no Senado por ser um ferrenho crítico da gestão petista e integrante ativo de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito).

Ele trocou de partido para ser candidato à Presidência, mas ainda enfrenta o desafio de se tornar um nome mais conhecido nacionalmente capaz de conseguir mais que os 4% de votos que as pesquisas indicam para ele.

Segundo o Datafolha, o senador é conhecido por 44% dos entrevistados, mas apenas 9% disseram que o conhecem muito bem.

O Podemos é o ex-PTN e as projeções indicam que deve ter 12 segundos no rádio e na televisão.

Álvaro Dias cursou História e está no quarto mandato consecutivo de senador. Já foi vereador, deputado estadual, deputado federal e governador do Paraná. É de uma tradicional família de políticos do Paraná.

João Almoêdo (Novo)

O ex-banqueiro João Amoêdo se afastou da presidência do partido que ele próprio ajudou a criar em 2015 para ser lançado pré-candidato à Presidência. Pelas regras do Novo, candidatos não podem exercer funções partidárias nos últimos 15 meses antes da eleição.

Amoêdo não é um nome que desfruta de popularidade e tem viajado o país para fazer palestras na tentativa de se tornar mais conhecido.

Novato em eleições gerais, o partido de Amoêdo conta com o apoio de profissionais liberais, de economistas que ocuparam cargos importantes no governo de FHC, como Gustavo Franco, e tem entre seus quadros o ex-treinador de vôlei Bernardinho. A legenda ainda tenta atrair tucanos descontentes que estão deixando o partido.

A maioria deles, contudo, são neófitos das urnas.

Formado em Engenharia Civil e Administração, Amôedo começou a carreira profissional trabalhando para bancos. Atualmente é sócio do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças.

PSOL

O PSOL conta com cinco pré-candidatos, sendo que um deles ainda não se filiou. Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, é citado pelo deputado federal Chico Alencar (RJ) como um dos possíveis nomes da legenda para disputar a Presidência.

Além deles, o partido conta com os economistas Plínio de Arruda Sampaio Jr e Nildo Ouriques, Hamilton Assis, militante do movimento negro, e Sônia Guajajara, líder indígena.

Para Chico Alencar, é mais fácil o partido se coligar com movimentos da sociedade civil-organizada que com partidos políticos. “Há um descrédito muito grande, as pessoas estão com nojo dos partidos”, diz Alencar.

Além disso, o partido avalia que o grande desafio será cumprir a cláusula de barreira que exige para 2018 1,5% dos votos em nove Estados para que as legendas continuem recebendo fundo partidário e tendo acesso à inserções no rádio e na televisão.

O PSOL terá cerca de 13 segundos de propaganda eleitoral, mas vai conseguir participar dos debates por ter uma bancada com seis deputados.

Paulo Rabello de Castro (PSC)

Recém-filiado ao PSC, o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, foi lançado candidato em novembro.

Nome desconhecido de grande parte do eleitorado, Rabello de Castro contabiliza apenas 1% nas pesquisas de intenção de voto. Além de incrementar a popularidade do candidato, o PSC pode precisar conter uma migração em massa de sua bancada para outras legendas.

Antes de assumir o BNDES, ele havia sido indicado por Michel Temer para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Formado em economia e em direito, é fundador da primeira empresa brasileira de classificação de riscos de crédito do país.

Henrique Meirelles (PSD)

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, busca o apoio do PMDB de Michel Temer para se viabilizar como candidato. Ele ainda corteja partidos do centrão como PP e PR para uma possível candidatura.

Mas a popularidade de Meirelles ainda é um obstáculo a superar. O ministro, apontou o Datafolha, é conhecido por 48% do eleitorado, mas só 9% o conhece muito bem.

Com cerca de 2% nas pesquisas de intenção de votos, ele estabeleceu uma meta de 5% a ser alcançada em março para confirmar ou não sua candidatura.

Para se lançar oficialmente, ele teria que se desincompatibilizar do cargo.

A trajetória profissional de Meirelles está ligada à área financeira internacional. Antes de ser presidente do Banco Central, entre 2003 e 2011, no governo Lula, foi o principal executivo do BankBoston. Antes de assumir a Fazenda, Meirelles atuou por quatro anos como presidente do conselho de administração da J&F Investimentos, holding criada pela família Batista e controladora da JBS.

Estão cotados também para participar da disputa os nomes do senador Cristovam Buarque (PPS), que foi candidato presidencial em 2006, e o do filho do ex-presidente João Goulart, João Vicente Goulart (PPL).(BBC)

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