Política

Sem espaço para o novo

No fim de semana, ouvi de um observador arguto e longevo da política brasileira: “Quando vejo no Fantástico um goleador pedir música, logo penso com meus botões: mais um que poderá se lançar candidato a presidente ou a qualquer coisa”.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) observou outro dia que a caça ao candidato novo é mais um sinal evidente da falência da política. Faltou acrescentar: do tipo da política feita por ele e por todos os investigados suspeitos de corrupção. Aécio sabe disso. Ou sabia.

A política não é má. É indispensável para construir consensos que possam beneficiar a sociedade. Ela se torna má quando se volta contra os interesses da sociedade. Ou quando os políticos se valem dela unicamente em seu próprio benefício.

A caça ao candidato novo à sucessão do presidente Michel Temer irá até o último dia permitido pela legislação, ali por volta de junho próximo. Não se descarte a hipótese de um novo candidato substituir um velho em meio à campanha. É possível, sim.

João Doria (PSDB), prefeito de São Paulo, envelheceu rapidamente e jogou a toalha. O candidato do seu partido deverá ser o velho Alckmin, quatro vezes governador de São Paulo, uma vez candidato derrotado a presidente da República.

Alckmin é autor de um prodígio: no segundo turno da eleição de 2006 contra Lula teve menos votos do que no primeiro. Deve ter aprendido com os erros que cometeu. Foi vítima de traições dentro do seu próprio partido.

Doria, agora, aspira suceder Alckmin. Que aspira assumir a presidência nacional do PSDB com a esperança de uni-lo em torno de sua candidatura. O PSDB não parece aspirar a grande coisa. Rachado está e assim irá para as eleições de 2018.

Luciano Huck seria o novo. Mas uma vez que desistiu de concorrer à vaga de Temer como anunciou, hoje, em artigo na Folha de S. Paulo, passará à História como o candidato que saiu do páreo às primeiras informações de que poderia vencê-lo.

A deserção de Huck aumentará a pressão para que o ex-ministro Joaquim Barbosa vista a máscara do novo e tente seduzir a parcela crescente do eleitorado cansado das mesmas caras. Mas Barbosa hesita em abrir mão de uma vida confortável.

De resto, não basta ser novo para que se abram as portas do êxito. Novo com partido pequeno não irá a lugar algum. Numa campanha curta como a próxima, com pouco dinheiro em jogo, o tempo de propaganda na televisão continuará fazendo a diferença.

Como o novo se tornará conhecido em pouco tempo? Como suas ideias se tornarão conhecidas? Se eleito, de que maneira imagina que poderá governar com uma base de apoio rarefeita no Congresso? O novo somente pelo novo não garante nada. Nem pode garantir.

Diz-se que Fernando Collor e Lula foram o novo nas eleições de 1989, e Collor chegou lá. Mas Collor era filho de político, fora deputado federal, prefeito de Maceió e governador de Alagoas. E aquela foi uma eleição só para presidente. Uma eleição solteira.

O novo, ali, era Lula que disputou com Collor o segundo turno. Foi o novo em 1994 e 1998 – e perdeu para o Plano Real que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Lula ganhou em 2002 quando o Real dava sinais de ir à pique e ele, Lula, já não era tão novo.

Trump não foi o novo nos Estados Unidos. Fez política durante muitos anos antes de se eleger. Na França, Macron foi o novo não por causa de sua idade, mas em razão de suas propostas. Havia sido ministro antes e ocupara outros cargos na administração pública.

Sem que se reforme o sistema político brasileiro, não haverá lugar para o novo. A não ser que os partidários do deputado Jair Bolsonaro queiram acreditar que ele é o novo. Nada mais velho do que Bolsonaro. (Blog do Noblat)

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