Itaparica: Exclusiva entrevista com o Secretário de Educação Municipal
O site Visão Cidade entrevistou o Secretário de Educação do Município de Itaparica o senhor Mateus Albergaria sobre temas de bastante relevância para a educação municipal e como tem se tratado o mesma nesta gestão por ser educação uma situação muito séria, fala também dos projetos a curto ,médio e longo prazo para Itaparica e deixa uma mensagem de otimismo e segurança de que a educação municipal mudara para melhor.
VC. Como foi encontrada a educação municipal?
R: Múltiplos foram os problemas encontrados na rede municipal no início desta gestão. Em termos de estrutura física, todas as escolas apresentam sérios problemas, como infiltrações, telhados quebrados, inexistência de portas, janelas e grades em muitas salas das unidades escolares e vegetação volumosa nos seus interiores. Muitas escolas não possuem refeitório, quadras esportivas, biblioteca, salas de informática ou multimídia, sala de professores ou possuem alguns desses espaços de forma precária, improvisada. O mundo tecnológico não alcançou as escolas de Itaparica ainda.
Com relação aos recursos humanos, encontramos na rede cerca de 120 professores concursados e 170 contratados. Estamos, neste momento, após consulta formal ao Tribunal de Contas, procedendo à formalização da convocação dos professores aprovados no concurso de 2016.
Sobre o transporte escolar, o município possui quatro ônibus próprios, sendo que um encontra-se em reparos e os outros estão há alguns anos sem a devida manutenção. Além disso, uma empresa foi contratada para servir 07 ônibus escolares que atendem tanto à rede municipal quanto às escolas estaduais.
VC. Quantas escolas têm o município no básico e no fundamental?
R: São 22 unidades escolares ao total, com 01 Creche, 01 Centro de Atenção Educacional Especializado. Apenas 04 escolas possuem Ensino Fundamental II, as demais são escolas que abrangem a educação infantil e o ensino fundamental I (aquele que vai até o 5º ano, antiga 4ª série)
VC. Quantas escolas já foram reformadas no município?
R:A última reforma aconteceu no ano de 2015. Neste momento, estamos em processo de finalização do processo licitatório para contratação de empresa responsável pelas reformas.
VC. Quantos alunos têm a rede municipal?
R: De acordo com o Censo Escolar finalizado em julho recente, temos 3.960 alunos matriculados na rede.
VC. A integração entre a educação, cultura e social quais são os ganhos para o município?
R: Não há possibilidade de pensarmos a educação tão somente como aquele esquema tradicional sala de aula-professor-aluno. São indissociáveis a arte, a educação e a cultura. Apesar de não termos como deixar de investir na vertente da tecnologia, é também necessário promover a valorização da cultura de um povo. Itaparica é um lugar riquíssimo em história, tradição, cultura e arte popular. Isso deve e merece ser resgatado e o melhor lugar para plantar essas sementes é a escola pública. Dessa maneira, asseguramos também o direito do povo à sua memória e estimulamos a sua autoestima. De outro lado, temos realizado parcerias importantes entre a educação, assistência social e saúde deste município, de maneira que reafirmamos nosso entendimento de que as políticas sociais não podem ser implementadas isoladamente. Estamos em busca de aperfeiçoar a intersetorialidade entre as ações. A escola sozinha não dará conta de todas as mazelas que afetam a população, por isso, a importância imensa do diálogo com as outras políticas públicas, uma vez que lidam com o mesmo público.
VC. A família e a escola, como tem sido essa integração para evitar a evasão escolar?
R: Ainda encontramos dificuldades de estabelecer uma relação mais aproximada com pais e familiares. A evasão escolar é um fenômeno preocupante, pois possui diversas causas (busca de trabalho para a sobrevivência, baixa autoestima, envolvimento com crime organizado, sedução do tráfico/uso/consumo de entorpecentes, etc…) e lamentavelmente não é o único. As escolas têm buscado estratégias para aproximação com pais, familiares e comunidade no sentido de estabelecer um diálogo e convencer a comunidade escolar “externa” de que educação ainda é o caminho. Alguns encontros já foram realizados com essa intenção. Isso traduz nossa preocupação com outro desafio: agregar a comunidade de maneira que todos possam olhar a escola como um espaço da e para a comunidade. Precisamos trazer as pessoas para se sentirem pertencentes àquela unidade escolar e criarmos o sentimento de responsabilidade também. Assim, teremos mais forças para combater problemas historicamente persistentes como o da evasão escolar, que muitas vezes, é apenas a conseqüência de outros que não foram solucionados em sua origem.
VC. A escola em tempo integral qual é a perspectiva para o município, quantas são as unidades escolares contempladas e quantos alunos?
R: Tem-se apenas 01 escola de tempo integral no município, a escola Antônio Carlos Magalhães, com 149 alunos e o CEIMI (única creche no município) com 96 estudantes. Cabe registrar que tivemos que devolver, infelizmente, em agosto, um pouco mais de R$ 500 mil (quinhentos mil reais) ao governo federal devido a um convênio para a construção de uma creche firmada em 2013 que não foi executado ao longo desses quatro anos. Havia ainda uma previsão de aporte de mais de R$ 1,5 milhão caso a obra fosse iniciada, o que garantiria a finalização da mesma. Enfim, retomando, em outras 04 unidades, temos turmas de 9º ano e duas turmas de 4º e 5º ano que são em período integral, resultando em 200 alunos. Ao todo, são 445 matriculados em tempo integral. A intenção é que a médio prazo, consigamos implementar gradativamente o ensino integral em toda a rede.
VC. O corpo docente como tem sido o desenvolvimento crescente no ganho de qualidade no ensino?
R: Neste ano de 2017, encontramos algumas, vou chamar de “turbulências”, relacionadas ao corpo docente da educação de Itaparica. Explico: primeiro, temos um quadro com minoria de concursados. Sabemos da importância dos profissionais contratados, mas, infelizmente, os vínculos que os mantêm são precários, no sentido de não garantirem uma segurança aos trabalhadores, nem assegurar outros direitos que estão previstos em lei. Pelo lado da Administração Pública, ter a maioria de contratados também não é interessante porque isso acaba por dificultar a realização de investimentos em capital humano e como os vínculos são temporários, em muitas ocasiões, os profissionais pedem desligamento porque encontram outras oportunidades mais promissoras. Isso gera instabilidade especialmente para a dinâmica do funcionamento da escola. Bom, voltando ao nosso caso, esperamos a resposta à nossa consulta formal ao Tribunal de Conta dos Municípios para nos cercarmos de toda dose de legalidade possível para não cometermos equívocos com relação ao concurso de 2016. Nesse meio tempo, ações foram ajuizadas e um número considerável de medidas liminares foram concedidas de maneira que tivemos que nomear muitos professores, o que resultou em mudanças constantes nas dinâmicas de salas de aula, com professores sendo substituídos em plena terceira unidade, apenas para exemplificar. Isso gera um certo impacto na relação ensino-aprendizagem. Não quero dizer com isso que esses profissionais tenham causado problemas, de maneira alguma. É perfeitamente compreensível a adoção das medidas. O que chamo a atenção é para a nossa necessidade premente de regularizar tal situação, o que já foi iniciado desde que tivemos o retorno do TCM a respeito.
Além disso, nos encontramos com notas do IDEB muito baixas, o que pode ser explicado por diversos fatores, dentre eles, a falta de investimento em formação continuada do corpo docente. Todos esses profissionais precisam se atualizar, freqüentemente, precisam buscar o que há de novo nesse universo pedagógico, pois a complexidade da educação imprime uma rapidez tamanha nas transformações dos paradigmas das relações ensino-aprendizagem . Por outro lado, a maioria dos nossos professores encontra-se devidamente habilitada para a área na qual leciona e isso é um ponto bastante positivo.
VC. O funcionalismo tem correspondido positivamente ao crescimento educacional do município?
R: Vejo que existem muitos profissionais comprometidos com a educação no município. Há muita boa vontade. Há, por sua vez também, um conjunto de técnicos qualificados para nos ajudarem nesta missão. Por outro lado, outros com muito potencial ainda não passaram ou não tiveram a formação adequada para a execução de tarefas e isso se revela como outro desafio à nossa proposta de implementar uma verdadeira política de gestão. Penso que devemos (e vamos fazer) investir na formação e na qualificação profissional desses que fazem a educação acontecer.
VC. As ações culturais do município estão sendo feitas e o seu resgate quais foram elas?
R: Como dito, Itaparica é um lugar riquíssimo em sua história. Chegamos à gestão com a idéia muito nítida da importância e da responsabilidade que temos de promover o resgate das ações culturais. Assim, temos dialogado com pessoas que têm interesse nesse tema e que buscam a Secretaria para ajudar ou para pedir colaboração em alguma atividade dessa natureza. Nesse sentido, temos o seguinte: realizamos o festival de quadrilha durante os festejos juninos – há um sentimento muito forte e evidente de identificação dos jovens da cidade com as quadrilhas junina; em parceria com a Biblioteca Estadual Juracy Magalhães, promovemos o Projeto 2 de Julho, com o intuito de resgatar o sentido desta data histórica para a Bahia e, consequentemente, para o Brasil; em agosto recentemente, as escolas realizaram as suas atividades pedagógicas relacionadas ao folclore brasileiro com apresentações diversas e criativas; levamos 100 (cem) alunos para assistirem pela primeira vez a uma peça de teatro em Salvador e estamos com vistas em outras mais; algumas turmas foram à Flipelô em Agosto deste ano e outras turmas estão agendadas para a Flica em Cachoeira. Estamos, neste momento, esboçando a participação da rede municipal no FITA, Festival de Música e Poesia de Itaparica, grande evento planejado pela Prefeitura Municipal de Itaparica e a Fundação Pedro Calmon para Outubro próximo.
VC. O que se espera da educação a curto, médio e longo prazo para o município?
R: Em curto prazo, intenta-se estruturar todas as unidades escolares com o necessário para funcionar regularmente. Em paralelo, precisamos realizar o reordenamento da rede municipal, identificando as reais demandas de cada unidade, especialmente no tocante a recursos humanos. A médio prazo, buscaremos a modernização tecnológica, através da climatização de todas as salas de aula, do uso da internet e de outros recursos multimídia, além da construção de outros espaços pedagógicos para realização de atividades diversas, envolvendo a arte e as suas linguagens. A longo prazo, temos como objetivo, a superação de todas das metas projetadas a nível de IDEB, bem como a implementação de projetos político-pedagógicos mais avançados que os convencionais.
VC. Qual a importância do FITA para educação de Itaparica, qual o leu legado?
R: O FITA será uma grande oportunidade para estudantes e profissionais da educação vivenciarem outras experiências de produção de conhecimento,mediadas pelas linguagens artísticas. Há uma intencionalidade por parte da organização do festival e também da gestão do município de não fazer um festival qualquer.O FITA terá um viés para que a dimensão pedagógica esteja presente.Isso será um diferencial e certamente ficará como um marco para a educação no município.
VC. Quem é o Secretário de Educação seus alvos e desafios? Deixe a sua mensagem.
R: Vejo que carecemos de uma visão de gestão de uma política pública e esse é o meu objetivo mais amplo: implementar uma gestão democrática e eficiente da política educacional no município de Itaparica. E, quando falo em gestão democrática e eficiente, falo também de princípios, notadamente, o republicano, aquele que preconiza a transparência das ações e da utilização racional dos recursos públicos. Esta é e será uma gestão marcada pela responsabilidade com a “ res publica”, no sentido mais preciso de sua origem etimológica, ou seja, “ a coisa pública”, entendida aqui como aquilo que é comum, ou seja diz respeito a qualquer cidadão, e que deve ser vista por todos.
Em paralelo, entendo que a educação pode ser mais que o clássico esquema sala de aula-aluno-professor. Devemos pensar na educação para além dos muros físicos e simbólicos das escolas, por isso, a educação precisa estar interligada com as outras políticas sociais, especialmente saúde e assistência social, devido ao perfil de público que lida. Vejo também que a educação carece de inovação para seduzir, de arte para transcender e tecnologia para se projetar para o mundo contemporâneo. Um dos grandes desafios destes tempos atuais é desfazer o clima de aridez que contamina, de uma maneira, geral, as escolas. Necessitamos resgatar a afetividade, a sensibilidade para as unidades escolares e, sobretudo, para o tecido humano que as ocupa. Precisamos mais que isso: precisamos colaborar para a emancipação dos sujeitos que estão sob nossas responsabilidades.
Visão Cidade