Estudo brasileiro poderá tornar óleo de soja mais saudável
Um dos fatores que conferiram ao azeite de oliva a fama de “gordura do bem” foi sua alta concentração de ácido oleico (até 84% do total de ácidos graxos do produto). Também conhecido como ômega 9, trata-se de um ácido graxo monoinsaturado ao qual têm sido atribuídas propriedades anti-inflamatórias e a capacidade de reduzir o colesterol ruim (LDL).
No óleo de soja, esse nutriente também está presente, mas em quantidades mais modestas – em média 23% do total de ácidos graxos do produto. Mas esse número poderá se tornar significativamente maior no futuro, se depender dos esforços de pesquisadores da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).
“Aumentar o teor de ácido oleico no óleo de soja seria interessante não apenas para o consumo humano como também para a produção de biodiesel. Por esse motivo, nosso projeto busca marcadores genéticos que possibilitem, por meio da seleção genômica, modificar o perfil de ácidos graxos do óleo de soja”, disse Regina Priolli, professora da Unisanta.
A investigação conta com apoio da FAPESP e é conduzida no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN). Resultados recentes foram apresentados em Campos do Jordão durante a terceira edição da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST).
Como explicou Priolli, além do ácido oleico, outros quatro ácidos graxos são encontrados no óleo de soja. O ácido palmítico (11% em média) e o ácido esteárico (4%) são gorduras saturadas – consideradas ruins para o sistema cardiovascular. Já o ácido linoleico ou ômega 6 (54%) e o ácido linolênico ou ômega 3 pertencem ao grupo das gorduras poli-insaturadas – também consideradas boas para a saúde – e estão associados às características de sabor do óleo de soja.
“Por meio de melhoramento genético poderíamos, por exemplo, diminuir o teor de ácido palmítico e aumentar o de ácido oleico. Mas é preciso encontrar uma proporção ideal, pois teores desbalanceados destes ácidos graxos fariam com que o óleo endurecesse em temperaturas baixas”, disse.
Mapeamento genômico
Com o objetivo de encontrar as regiões do genoma da soja que controlam a produção dos cinco ácidos graxos encontrados na planta, o grupo coordenado por Priolli conduziu um estudo de associação do genoma (GWAS, na sigla em inglês).
Para isso, o grupo buscou em bancos de germoplasma – plataformas dedicadas à conservação do patrimônio genético das espécies – do Brasil e do exterior material de 96 diferentes acessos (linhagens), com teor total de óleo que variava de 10% a 30%.
“Para esse tipo de análise precisamos ter o material genético mais diverso possível. Por esse motivo, também trouxemos 56 acessos do exterior. Acesso é cada indivíduo de uma espécie registrado no banco de germoplasma. Pode ser uma cultivar selecionada ou uma linhagem não melhorada”, explicou Priolli.
Essas plantas foram cultivadas durante dois anos na Esalq-USP, durante o pós-doutorado de Priolli. Após a colheita, os pesquisadores analisaram o teor de óleo e o perfil de ácidos graxos de cada um dos 96 acessos por um método conhecido como cromatografia gasosa.
O passo seguinte foi comparar os dados obtidos no campo com dados de marcadores moleculares do tipo polimorfismo de base única (SNPs, na sigla em inglês).
Essa análise revelou 54 SNPs associados à síntese de ácido palmítico, 14 SNPs para ácido oleico, 2 SNPs para ácido linoleico e 2 SNPs associados ao teor total de óleo no grão.
“Após esse mapeamento, comparamos os resultados com dados de bancos genômicos públicos de soja. O objetivo era ver se os marcadores que encontramos estavam perto de algum gene ou já tinham alguma associação descrita com o ácido oleico”, disse Priolli.
De acordo com a pesquisadora, o projeto busca, além de alterar o perfil de ácidos graxos, aumentar o teor total de óleo encontrado no grão de soja. Contudo, as técnicas de melhoramento convencionais mostraram que, quando se aumenta o teor de óleo no grão (que em média é 20%), ocorre diminuição na quantidade de proteína (40% em média), o que não é desejável.
“A soja é uma das principais fontes de proteína e óleo vegetal do mundo. A correlação negativa entre esses dois nutrientes no grão dificulta o aumento simultâneo de ambos. Por esse motivo, elevar a qualidade do óleo modulando a composição de ácidos graxos pode ser a saída para o melhoramento da soja”, afirmou Priolli.
Fonte: Agência FAPESP, disponível no site do Jornal Dia de Campo