Aberta a sucessão de Temer
Comprar com sucesso apoio de deputado e senador não é para qualquer um. Não basta dispor de recursos, é preciso ser hábil, ter gosto e jeito. Uma abordagem mal feita pode por tudo a perder.
A chave do êxito é escolher a melhor moeda de troca. E o momento certo para fechar o negócio. É coisa para perito na arte. Michel Temer é perito. Deu-se bem até aqui. Reze para não ser denunciado outra vez.
José Sarney, o primeiro presidente depois do fim da ditadura de 64, era um expert no assunto. Mas como subiu a rampa do Palácio do Planalto por erros da junta médica que cuidou do presidente eleito Tancredo Neves, foi bem-sucedido só em parte.
O PMDB de Uysses Guimarães mandou no governo mais do que ele, mesmo no fugaz período do Plano Cruzado que congelou preços e salários e beatificou Sarney.
Seu mandato original era de seis anos. Para que não lhe capassem dois, Sarney pediu socorro ao ministro do Exército, que ameaçou o Congresso com uma nova intervenção militar. Sarney ficou cinco anos.
Por arrogância e falta de experiência, Fernando Collor ficou menos tempo. Foi um amador. Quando estava às vésperas de cair, contou com amigos para lhe comprarem votos. Já não havia mais votos à venda. Sobrou dinheiro.
Itamar Franco, presidente-tampão como Temer, não precisou comprar. Ganhou de presente o Plano Real que o PSDB havia guardado para eleger um dos seus na sucessão seguinte.
Itamar fez de Fernando Henrique Cardoso ministro da Fazenda contra a vontade dele, feliz com a vida glamorosa de ministro das Relações Exteriores. Imaginava se eleger deputado, se tanto. O Real elegeu-o presidente, e derrotou Lula em 1994.
Jorrou dinheiro no Congresso para comprar apoio à emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique. Ele jura que jamais soube disso. Nem que viu uma foto do poderoso Sérgio Motta, seu ministro das Comunicações, dentro do plenário da Câmara acompanhado de uma mala.
Nunca se provou que soubesse do toma lá dá cá. Da mesma forma como nunca se provou que Lula soubesse do mensalão.
Só pelo apoio do Partido Liberal de Valdemar Costa Neto à eleição de Lula em 2002, o PT pagou pouco mais de R$ 6 milhões. Ao lado do seu futuro vice, o empresário José Alencar, Lula testemunhou a compra concluída em um apartamento da Asa Sul, de Brasília.
Costa Neto, depois, foi condenado e preso como um dos mensaleiros do PT. Da cadeia, obrigou Dilma a respeitar suas vontades e, agora solto, obriga Temer.
Na eleição de 2006, empregados do comitê de Lula à reeleição compraram um falso dossiê que incriminava Serra, candidato ao governo de São Paulo, e Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República. Lula venceu.
A ser verdade o que vários delatores já disseram à Lava Jato, rolou muito dinheiro para eleger e reeleger Dilma, para mantê-la no cargo e finalmente tirá-la com o impeachment que beneficiou Temer.
Por que Temer apanha mais que os presidentes anteriores? Ora, ele faz às claras o que os outros se empenharam em esconder. De resto, por falta de sorte ou displicência, Temer acabou gravado ouvindo e dizendo coisas que não deviria ter ouvido ou dito.
O presidente mais impopular do mundo escapou de duas denúncias de corrupção porque soube deter a sangria da economia. Mas seu governo acabou.
A temporada de caça ao próximo presidente foi aberta na semana passada. (Blog do Noblat)