Criadora do botão “curtir” recomenda não se preocupar tanto com as curtidas
Elas estão em praticamente todos os lugares da internet. As curtidas, sejam referenciadas por esse nome ou não, se espalharam pelas redes sociais a partir do Facebook e hoje é praticamente impossível imaginar a nossa vida online sem elas. Isso, contudo, traz algumas manias perigosas, como ansiedade por uma incessante necessidade por aprovação.
E quem afirma isso é Leah Pearlman, ex-funcionária do Facebook e responsável pela criação do botão “curtir”, que praticamente definiu a existência e o sucesso da rede social criada por Mark Zuckerberg. Ela conta que o botão surgiu quando a equipe de design pensava em como resolver um “problema de redundância” dentro da plataforma.
“Por exemplo, se você escrevia ‘Vamos casar!’ todos os comentários costumavam ser ‘Parabéns’, um atrás do outro”, contou a designer em entrevista a Vice. “Eu achava isso esteticamente feio, além do mais, toda vez que alguém dizia algo com mais sentimento, era difícil achar a postagem entre as outras redundantes.”
E foi visando resolver os dois problemas de uma só vez que Pearlman chegou a ideia do botão curtir. Ele veio depois de algumas tentativas, como um botão “incrível” e outro “amei”, que não pareciam ideias tão boas na época. “No final, fizemos um design e o Mark finalmente disse ‘Vai ser like com uma mão fazendo um joia, façam e vamos colocar logo no site’. Então ele tomou a decisão final”, comentou a criadora do like.
O mundo em busca de aprovação
O sucesso da nova ferramenta foi instantâneo e “50 comentários se tornaram 150 likes quase imediatamente”, comenta Pearlman. Contudo, isso criou um vício nos utilizadores das redes sociais: a incessante busca por aprovação, inclusive por parte da própria criadora do botão mais famoso da internet.
“Quando o Facebook mudou seus algoritmos, meus likes caíram e parecia que eu não estava recebendo oxigênio suficiente”, relata a ex-funcionária da rede social ao comentar sobre a queda de audiência das histórias em quadrinhos que ela postava no Facebook. “Então, mesmo podendo culpar o algoritmo, alguma coisa dentro de mim dizia ‘eles não gostam de mim, não sou boa o suficiente. Preciso começar a comprar propagandas!’”
Você se importa? Quem não se importa?
Assim, os likes facilitaram as interações online, mas contribuíram também para uma sensação de derrota a cada “insucesso”. “É uma benção porque se vou conseguir validação pública, faço o melhor trabalho possível e isso alimenta minha integridade”, afirma a designer. “Mas a maldição é que se não estou conseguindo atenção, posso surtar e sentir que não sou boa o suficiente.”
Não se importe com likes (a não ser que você queira)
“Se você está realmente preocupado em quantos likes está ganhando, então você não está realmente preocupado sobre estar preocupado com quantos likes está ganhando. Você só quer muitos likes”, aposta a ex-funcionária do Facebook. “E se esse for o seu caso, vai nessa. Deixe seu eu querer ser curtido.”
Contudo, Leah Pearman complementa a sua visão ao apostar que algo mais interessante deve surgir no futuro para substituir esse tipo de internet que temos atualmente. Além disso, ela acredita que a autovalidação tem muito mais poder do que a validação vinda de outras pessoas.
“A experiência de validação externa comparada com validação interna verdadeira nem se compara”, comenta. “Sabe, ficar realmente, profundamente satisfeita comigo mesma quando faço algo de que fico incrivelmente orgulhosa — um like no Facebook não se compara a isso”, finaliza a criadora da curtida.
- VICE/JULIAN MORGANS(Tecmundo)