Ciências exatas podem ser ensinadas com humanidades; conheça o conceito STEAM
A apresentação da Lego começa no British Educational Training and Technology (BETT) Show e cada participante ganha um pacote com seis peças do brinquedo. O desafio é montar um pato. A brincadeira já ganhou até uma página na plataforma Tumblr, que registrou 195 diferentes patinhos. A verdade, anuncia o palestrante, é que há milhões de formas de se encaixar as peças, a depender somente da criatividade de quem as manuseia. O uso de brincadeiras e de experimentos para tratar de conteúdos matemáticos, como análise combinatória, é uma tendência para tornar o aprendizado de exatas mais prazeroso nas escolas. A BETT Show reúne diversas empresas e educadores para discutir e apresentar as tendências em tecnologia educacional.
Em inglês, o campo do conhecimento composto por ciências, tecnologia, engenharia e matemática possui uma sigla STEM [science, technology, engineering, and mathematics]. Seria o equivalante ao conhecido no Brasil como “exatas”. Assim como no Brasil, em que a matemática concentra os piores indicadores de aprendizado – levantamento recente mostra que só 7,3% dos estudantes deixam a escola com aprendizado adequado – em países desenvolvidos como o Reino Unido, a área de exatas também não está entre as preferidas dos estudantes.
“A nossa intenção é levar entusiasmo para os estudantes. Eles constroem, fazem modelos, resolvem problemas. As peças podem ser usadas de diferentes maneiras. Isso possibilita os estudantes desenvolverem a capacidade de lidar com os desafios do futuro. Os empregos não serão os mesmos em 20 anos, eles precisarão de habilidades como colaboração, dignidade, capacidade de resolver problemas e lidar com diferentes situações. Essas habilidades têm que ser treinadas na escola”, diz a gerente de Conteúdo e Projetos da Lego Education, Michaela Halt.
As peças podem ser usadas por estudantes a partir dos 6 anos. Não há idade limite. Em 1998, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) usou peças de Lego para criar robôs e trabalhar programação. Isso logo foi adotado também por escolas. Até mesmo questões mais simples podem ser intrigantes, como o desafio do pato. Em 1958, a Lego divulgou que são possíveis 103 milhões de combinações com seis peças. Recentemente, em um vídeo de 2015, um professor de matemática, Soren Eilers, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, recalculou e estimou em 915 milhões as combinações, provando que a brincadeira interessa também aos adultos.
Interdisciplinariedade
A ideia de unir as áreas exatas em uma só sigla tem uma motivo: a tendência dos sistemas de ensino, incluindo o brasileiro, que atualmente discute uma Base Nacional Comum Curricular, é que STEM seja trabalhado cada vez mais de forma integrada e interdisciplinar. “Você precisa de matemática para resolver um problema de engenharia, precisa de habilidades que se sobrepõem. Por isso também é importante trabalhar em equipes”, diz Michaela.
Para enfatizar ainda mais a interdisciplinaridade, há dez anos a sigla STEM foi acrescida de artes, tornando-se STEAM. “STEM trata-se de como você pode fazer coisas e STEAM, que adiciona as humanidades, diz o porquê de você fazer essas coisas. Engloba linguagens, música, artes e educação física”, explica a fundadora e CEO do STEAM Education, Georgette Yakman. Ela iniciou um movimento que foi seguido por outras companhias.
A ideia é oferecer às escolas maneiras de desenvolver valores juntamente com os conteúdos. Um exemplo dado por Georgette é pedir que os estudantes façam grupos e distribuir para cada um um canudo com um peça de plástico que muda de cor quando exposta ao sol. Os estudantes do mesmo grupo recebem a mesma cor. Em seguida, o professor pede para que eles façam um arco-íris. “Eles geralmente escolhem sentar em uma mesma mesa com amigos. Mas, para ter uma boa carreira, para ter uma empresa que funcione bem, é preciso balancear. Questões como essa são apontadas pelos professores enquanto os estudantes desenvolvem projetos e resolvem desafios diversos”, explica.
Infância
Para a gerente de vendas em educação da Learning Resourses, Louise Benstead, é importante que as crianças tenham contato com o pensamento científico desde cedo, por meio de brincadeiras. “Os jogos oferecem um problema e dão às crianças um cenário em que têm que planejar uma solução. Têm que construir um modelo, testar se funciona, se não funcionar, buscar outra solução, em grupos”, explica. “
O Learning Resourses desenvolve materiais lúdicos para serem usados em sala de aula. Um dos jogos envolve fazer com que um bichinho de pelúcia desça uma rampa de madeira em uma skate de forma segura. As crianças podem mudar a textura do piso da rampa e criar estratégias para que ele não caia do skate.
O BETT Show ocorre em Londres. Trata-se de um dos grandes eventos mundiais de educação e tecnologia, onde diversas empresas e educadores se reúnem para discutir educação e apresentar as tendências de mercado. Conta também com a participação de políticos e ministros da Educação de diversos países.
(Agência Brasil)