Tucanos repetem o PT

Seria (será) a melhor maneira de oxigenar o ambiente político e oferecer novas e melhores alternativas ao país. Ocorre que não é possível, sem quebra das regras constitucionais, impô-la de imediato, a menos que o vice optasse pela renúncia.
Como não é possível obrigá-lo a tanto – renúncia é ato unilateral de vontade -, o jeito é absorvê-lo e trabalhar com os dados objetivos dessa realidade. Os que cercam Temer sustentam que essa transição, embora sem nenhum apelo popular, é necessária, pois, antes que o país mergulhe numa campanha eleitoral de tal porte, que o manteria paralisado, precisa de um interregno para que a economia possa sair da UTI.
A simples expectativa da queda do governo Dilma já estimula o mercado e melhora os índices da economia. Investidores de dentro e de fora querem a retomada da normalidade, ainda que provisória, de modo que a campanha sucessória não se dê em ambiente de terra arrasada e de extremismos políticos.
A missão de Temer é das mais difíceis. E se complica ainda mais quando se sabe que não terá em seu governo quadros de todos os partidos que o levaram ao cargo. Sobretudo do PSDB.
O partido promete apoiá-lo no Congresso, mas desautoriza seus integrantes a ocupar ministérios. É um apoio de meia-tigela, sem maiores garantias – e repete, de certa forma, o que fez o PT, em 1992, em relação a Itamar Franco.
Há mais esperteza que coerência – e compromisso cívico – em tal gesto. Ao empenhar-se na deposição do atual governo, o PSDB não ignora o fato do que virá na sequência – e da responsabilidade que tem no encadeamento dos fatos.
Se quer a derrubada da presidente, está inevitavelmente comprometido com o que daí ocorre: a ascensão do vice. Michel Temer não terá chances se não reunir em torno de si a mesma massa de apoio que o levou ao cargo. Negar esse apoio pode ser uma maneira oblíqua (e intencional) de levá-lo ao fracasso e, por essa via, à renúncia. Mas, aí, que se dane o país.
É a leitura inevitável.
Figuras de relevo do tucanato, como Armínio Fraga, Henrique Meireles e Marcos Lisboa, já declinaram do convite para integrar o ministério de Temer. Não o fariam se a cúpula do partido lhes garantisse apoio. Mas, bem ao contrário, figuras de projeção da legenda, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já se manifestaram contra a presença do partido no governo.
Não houve ainda – e não se sabe se haverá – manifestações de José Serra, Aécio Neves ou FHC quanto ao assunto. O silêncio, em casos como esse, tem eloquência própria. O que se constata é que o partido está de olho na sucessão – e não a descarta para antes de 2018. Por isso mesmo, não quer correr riscos.
Sabe que o país terá de se submeter a medidas impopulares, que poderão ter reflexo nas urnas. Temer, que promete encerrar sua carreira ao fim de seu mandato, quando terá 79 anos, tem as condições de arcar com o ônus da impopularidade, mas não com o do isolamento político – e a tanto o condenam os tucanos.
Com isso, o país corre o risco de ficar nas mãos do PMDB, coadjuvante do PT desde os governos de Lula. Não é essa a expectativa das ruas, que anseia pela volta à normalidade.
O ideal são eleições diretas – e só elas irão consumar a limpeza iniciada com o processo de impeachment. Mas, se é inevitável uma transição com Temer, que cada qual assuma sua parte. A única chance do futuro governo é dispor de figuras de peso, acima de querelas partidárias, apoiadas pelo conjunto das forças que o levaram ao poder.
Não terá tempo de consertar o país, mas terá de promover medidas cirúrgicas de emergência para que o paciente sobreviva e possa postular algum futuro. É disso que se trata.(Blog do Noblat)