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Energia nova e têxteis crescem mesmo com a crise

No momento em que o país passa por uma crise inédita, alguns setores estão colhendo boas notícias. É o que acontece com o segmento de energia limpa, que cresce há seis anos, e com a indústria têxtil, que vai dando sinais de recuperação. No meu programa da GloboNews, conversei com Élbia Gannoun, presidente da ABEEólica, e Flávio Roscoe, presidente do Sindimalhas, o Sindicato da Indústria Têxtil de Minas Gerais. Os dois apontam que as oportunidades abertas pela crise precisam ser aproveitadas.
Élbia lembra que o Brasil tem pouca capacidade de pensar no longo prazo. Nos últimos anos, o país passou por momentos de escassez de energia. Ficou mais urgente a necessidade de diversificar a matriz elétrica. O segmento de energia limpa aproveitou o momento. Élbia trouxe o gráfico, abaixo, com o crescimento da capacidade instalada da energia eólica. Ele foi exponencial. O país tem hoje 9 gigawatts (GW) de capacidade instalada, 10 vezes mais do que registrava em 2010. É o equivalente a uma usina hidrelétrica de Belo Monte. Em 2019, a expectativa é que o potencial instalado chegue a 18,7 GW.
Hoje, com os reservatórios em baixa, os ventos garantem 40% da energia gerada no Nordeste. É uma fonte limpa e que foi ficando mais barata nos últimos anos. Hoje, é a segunda mais competitiva, só atrás das grandes hidrelétricas. Élbia conta que, com a quantidade de recursos renováveis no Brasil, a solar, a eólica e a biomassa devem ser cada vez mais as fontes que darão segurança ao sistema elétrico. Nesses tempos de escassez, o país usou a todo o vapor as usinas térmicas, de produção cara e que poluem muito. Elas vão perder espaço na matriz. O governo espera substituir 15 GW nos próximos anos. É um setor que passa ao largo da crise. Em capacidade instalada, o Brasil está atrás apenas da China, EUA e Alemanha. Élbia espera chegar ao terceiro lugar em breve. A pior incidência de sol no Brasil, conta, é superior a melhor no território alemão; o mesmo vale para o vento.
A indústria têxtil vai se recuperando com a virada no câmbio, explica Roscoe. Se o dólar se mantiver nesse patamar, ficará mais clara a competitividade do setor. O presidente da Sindimalhas conta que muitas empresas continuaram investindo nos tempos de crise, mesmo com o dólar baixo enfraquecendo a indústria.
O setor têxtil nacional tem uma das melhores produtividades do mundo, segundo Roscoe. Perguntei se a crise foi bem utilizada, ele respondeu que sim, mas que ela poderia ser mais curta. A produção têxtil vinha caindo nos últimos anos; em 2015, recuou 14,5%. Mesmo assim, o país tem o maior parque instalado do ocidente. A expectativa é que, com a recuperação do câmbio, a produção têxtil subirá 9% em 2016. Após a queda de 10% em 2015, o faturamento ficará estável (-1,8%) em R$ 127 bi. O Sindimalhas espera que o setor mantenha empregos em 2016, mesmo com a queda do PIB brasileiro, que os bancos estimam em -4% neste ano. Como a capacidade instalada é grande, disz Roscoe, quando a demanda se recupera o crescimento do setor é rápido. Ele disse que a indústria nacional está voltando a vestir mais os brasileiros e o mundo.
A substituição de importações e o aumento das vendas ao exterior foi um movimento de mercado, sem intervenções. Não foram barreiras comerciais que fizeram a produção têxtil se recuperar.
A crise atrapalha, é claro. O Brasil foi novamente rebaixado nesta semana e está fora do mercado de dívida de qualidade. Élbia conta que o setor cresce apesar da conjuntura. Como os investimentos são de longo prazo, a expectativa é que essa dinâmica continue nos próximos anos. O custo do crédito ficou mais caro, admite. Mas o ganho de competitividade da energia eólica supera o aumento do custo com o financiamento. O setor de energia limpa se sente confortável. Inclusive, cerca de 80% dos fornecedores da produção de energia eólica são nacionais.
No caso dos têxteis, Roscoe lembra que são 200 milhões de brasileiros comprando roupas. Se a crise por aqui provocar uma queda muito significativa na demanda, maior que o crescimento das exportações, pode haver impacto na recuperação das indústrias. Mas não é o que ele vislumbra.
Há oportunidades na crise. O Brasil tem que aproveitá-las para fazer reformas e, aí sim, ficar cada vez mais competitivo no cenário internacional. Nesse momento, o foco tem que ser o longo prazo. O país precisa investir olhando para o horizonte.
O programa na GloboNews será reprisado nesta sexta-feira, às 16h30, no sábado e no domingo. Veja aqui uma parte.
Abaixo, o gráfico da capacidade instalada da produção de energia eólica no Brasil:

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