Enquanto questão política não se resolver, economia terá pouco espaço para avançar
A situação já era difícil. As medidas do ajuste fiscal não andavam no Congresso da maneira ideal. Algumas foram deixadas de lado. Outras tiveram o sentido alterado e viraram pautas-bomba. A relação entre o governo e o Congresso, que já era complicada, vai piorar com o processo de impeachment. Outros assuntos, como a economia, perderão espaço porque as articulações vão se concentrar em torno da questão política.
O governo vinha tendo muita dificuldade para administrar sua base. Dentro da própria coalizão havia divisões entre o PT e o PMDB. O partido do vice-presidente tem vários grupos dentro da bancada que nem sempre concordam. Há uma fragmentação. Neste momento, não é simples determinar quem, no Congresso, é governo ou oposição.
Cada lado vai ter que reorganizar suas forças. O governo está tentando criar pólos de atração. Nesse momento, se mobiliza para ouvir juristas e conversar com governadores. Quem quer a saída da presidente também está fazendo suas articulações. É isso o que vai dominar o trabalho legislativo nos próximos meses.
O ministro Joaquim Levy, em entrevista ao “Valor Econômico”, disse que o governo deve aproveitar o momento para se posicionar a favor de reformas mais profundas na economia. A idade mínima para aposentadoria poderia ser uma delas, defendeu. Na teoria, a ideia de Levy faz sentido. Se o governo mostrar que há um rumo, será mais fácil conquistar apoios. Mas na prática é diferente. É muito pouco provável que haja espaço para isso, no momento. A conversa a partir de agora vai ser sobre o processo do impeachment. O tempo agora será dedicado para entender quais serão os questionamentos legais, como será a tramitação e quem vai apoiar quem. O avanço das pautas econômicas será muito difícil.
A paralisia deve se agravar. Há uma série de perguntas sem respostas sobre o futuro da economia, na dependência de um rumo político. Empresas e consumidores, nesse cenário, acabam adiando decisões importantes.
De fato, quanto mais rápido caminhar o processo, melhor. O assunto será resolvido pelas instituições do país. Enquanto isso não acontecer, haverá pouco espaço para os avanços na economia. (Blog da Miriam Leitão)