Renúncia e novas eleições é o caminho para o Bahia
O Vitória alcançou com méritos a primeira divisão, mostrando que organização é fundamental, pois no início do ano viveu grave crise, que conseguiu superar. Já o Bahia, dominado por uma diretoria incompetente, vai amargar mais um ano na zona cinzenta e feia (igual ao seu novo uniforme) da segunda divisão: jogos medíocres aos sábados, torcida desmotivada, as belas bandeiras tricolores, que faziam uma das mais emocionantes festas em estádios brasileiros, enroladas ou sem vibração. A Fonte Nova vai ser a casa do Vitória aos domingos, recebendo os demais protagonistas da turma da elite, da qual o Bahia continuará expulso. É notório que o rubro-negro quer marchar para assumir a hegemonia do futebol baiano. Nunca, na vida do velho Esquadrão de Aço, um fracasso foi tão humilhante e vexatório.
Manda a verdade que se diga que, desde a administração Pernet, o tricolor vem decepcionando gradualmente a sua torcida. As glórias do passado cederam à mediocridade de gente como Marcelo Guimarães pai, Petrônio Barradas e Marcelo Guimarães filho, este o mais desastroso de todos. Foi preciso uma intervenção, comandada pela torcida, para expulsar o usurpador, mas nem essa medida extrema adiantou, pois logo o Bahia cairia para a segunda divisão, durante o infeliz mandato-tampão de Fernando Schmidt.
Durante todo esse longo período persistiu a tradição de ineficiência e acomodamento : títulos poucos e medíocres, contratações ineficazes e onerosas, administrações fracassadas. De longa data, o tricolor passou a ser presa fácil para o seu maior rival, que, na calamitosa administração de Marcelo filho, impôs 5 a 1 e 7 a 3 a um Bahia desarvorado. Outro Marcelo, este o Santana, seguiu o mesmo triste caminho, e entregou seis preciosos pontos ao adversário, começando por perder de 4 a 1 no Barradão. Outro absurdo, a prenunciar o pior. Nenhuma reação visível da diretoria acomodada. O técnico permaneceu.
É preciso dizer com todas as letras que o fracasso do Bahia não foi obra de nenhuma “fatalidade”. Simplesmente, resultou da falta de planejamento adequado e, sobretudo, da teimosia do presidente Marcelo Santana que, contra o insistente alerta da torcida, contratou e manteve à frente da equipe um técnico perdedor, Sérgio Soares.
Formou-se uma inexplicável parceria de vontades solidárias no desastre, que logo se desenhou na Copa do Nordeste, quando Soares escalou (e o presidente aceitou) o imaturo goleiro Jean, que tomou, contra o Ceará, um frango histórico entre as pernas. Ainda acreditei que havia entre ambos o propósito de valorizarem a chamada “prata da casa”, mas logo percebi que isto era pura propaganda, quando o presidente não vacilou em vender a melhor cria das divisões de base, Bruno Paulista, seguindo a velha linha das administrações anteriores, de transformar o Bahia em mero fornecedor de matérias primas para equipes mais poderosas.
Eis o que condena o Bahia a ser sempre um time apenas mediano, e não o poderoso esquadrão a que normalmente estaria destinado, pela força e pela paixão da sua excepcional torcida, invariavelmente mal canalizada para consolidar a grandeza do clube. As cenas de desespero transmitidas pela TV no final do campeonato foram inesquecíveis. Um torcedor vi que não conseguia sentar-se, diante do empate com o fraco ABC: o homem andava de um lado para outro como um louco até o fim, desvairado. Era o símbolo personificado da angústia, que, aliás, a todos afundou, na derrota para o Santa.
Ao lado de tudo isto, é impossível desconhecer que a propalada “democracia tricolor”, que teria surgido com a eleição da nova diretoria, nunca se impôs de fato. Ninguém conhece a constituição da equipe administrativa, pois as decisões somente são conhecidas do público como emanadas de preferências exclusivas de Marcelo Santana, inclusive a política de contratações, por demais infelizes.
O Bahia foi, durante todo o campeonato, um time defeituoso, mal servido de goleiros, laterais e zagueiros. A direção contratou demais, contratou mal e gastou muito, mais uma vez com resultados pífios. Por outro lado, nunca explicou as prevenções contra um jogador admirado pela torcida e de nível internacional como Pitoni, excluindo da equipe não só pelo perdedor Sérgio Soares, como pelo eterno substituto Charles Fabian, um treinador ineficaz, mas cheio de ideias presunçosas. Ambos escalaram pessimamente, enchendo a equipe dos chamados “armandinhos” ou “enceradeiras”, jogadores do meio de campo (alguns saídos da base, sem amadurecimento para a relevância do campeonato), e que rodavam, rodavam, jogando para os lados, sem nada produzir.
Todas as promessas de soerguimento do clube formuladas pelos eleitos desabaram com o vexame do fim do campeonato. A verdade é que a situação interna do Esquadrão é uma incógnita, pois o que aparece é o desastre da desqualificação e a sua permanência na zona do rebotalho. Homem de comunicação, Marcelo Santana comunica pouco e comunica mal. E a torcida só se inteira das decisões e contratações quando consumadas, sem avaliações prévias.
Em suma, é pelo conjunto desses fatos que estou convencido de que o presidente e seus desconhecidos auxiliares de direção perderam autoridade para continuar à frente do clube. O terrível incômodo e a frustração da atual situação do tricolor, subsequentes à perda de confiança da torcida, que se considera traída por ter sido colocada diante de promessas vazias, são muito grandes, para que se possa contemporizar. Com o intuito de que o destino do Bahia seja reorganizado, de acordo com a grandeza da sua história, é imperioso que haja a renúncia coletiva da diretoria e a imediata convocação de novas eleições. A agonia da torcida é hoje muito dolorosa e profunda, sofrendo com a ascensão do rival e diante do futuro incerto e comprometido. Eleições urgentes, senhores! (TB)