Ambientalistas temem que lama atinja corais de Abrolhos
Com o rompimento de barragens da Samarco, em Mariana (MG), o temor de ambientalistas é que rejeitos de minério, ao chegar ao encontro do rio Doce com o mar, impactem nos recifes de corais de Abrolhos, um dos mais importantes ecossistemas do Brasil.
Acostumados com ações de proteção a golfinhos e tartarugas ameaçadas que vivem e se reproduzem apenas ali, eles passaram a última semana numa força-tarefa. O esforço é para reduzir possíveis impactos dos rejeitos nas mais de 500 espécies na área, entrada para o banco de Abrolhos.
Os recifes de corais – considerados “amazônias oceânicas” – estão bem mais próximos que o arquipélago, a 221 quilômetros do estuário. Não é possível dizer a que distância os resíduos serão levados, o que dependerá da posição de mar e vento.
Segundo boletim do Serviço Geológico do Brasil, no sábado, a chegada da água turva à barra está sendo reavaliada em razão da passagem por reservatórios de usinas hidrelétricas.
“Não sabemos a magnitude do impacto, já que não temos certeza sobre o que chegará. Se o padrão de impacto nas cabeceiras se mantiver, será um arraso na fauna e na flora”, prevê João Carlos Thomé, coordenador nacional do Tamar/ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
De acordo com Thomé, essa é uma das regiões com maior biodiversidade marinha do Brasil. “É o começo do banco de Abrolhos, e onde há ressurgências, com águas frias e ricas em nutrientes, com taxas de produtividade altíssimas”, explica.
Próximo à foz convivem jubartes, dourados, meros, raias-mantas. É ali o limite norte no Brasil das toninhas, golfinho mais ameaçado do país.
Ao A TARDE, o coordenador disse que recebeu, no final da tarde desta segunda-feira, 16, a informação de uma empresa contratada pela Samarco de que não há toxidade na massa que está se deslocando no rio.
“Os recifes de corais de Abrolhos começam no rio Doce. Não estamos falando do Parque Nacional de Abrolhos e sim dos recifes próximos à foz do rio. Neste local, a princípio, não tem como evitar o contato”, contou.
Correntes marítimas
De acordo com o coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Nilton Marcondes, o impacto direto nos recifes de corais de Abrolhos dependerá das condições climáticas na região. A foz do rio Doce em Regência (MG), segundo ele, é o limite sul do banco de Abrolhos.
“A tendência das correntes, nesta época do ano, é ir para o sul, em direção a Vitória. Se fosse no inverno, com muita frente fria, a tendência seria subir e ir de encontro aos corais. A probabilidade maior é que vá para o sul, mas temos que levar em consideração que o tempo está instável”, destacou Marcondes.
Caso seja levado para o norte e atinja os recifes de corais, poderá impactar com o aumento da turbidez no local. Essa mudança prejudicaria porque os recifes dependem da luz para realizar a fotossíntese.
Para o coordenador de monitoramento do Inema, Eduardo Topázio, é pouco provável que atinja a região de Abrolhos. Ele disse que deve alcançar a área costeira do Espírito Santo. “Sedimento não circula como água e o rio Doce não tem essa vazão tão forte para chegar tão longe e atingir Abrolhos, que está ao norte do rio”, afirmou.
Topázio ressaltou que é necessário monitorar. “A região de Abrolhos é mar territorial, de controle da União. Precisa ser feito um estudo mais aprofundado e monitorar. O resto é especulação”, frisou.(A Tarde)