CPI do HSBC: “Poder econômico pressiona senador a não investigar”
Responsável pelo vazamento de dados que originou o que ficou conhecido como Swissleaks, o engenheiro francês Hervé Falciani foi ouvido no último dia 25 de agosto por senadores brasileiros por meio de teleconferência na CPI do HSBC. Se disse disposto a compartilhar seu banco de dados com os parlamentares brasileiros e a colaborar nas investigações a respeito de suposta evasão de divisas. Nada disso, entretanto, parece convencer os senadores de seguir adiante na investigação.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), renova suas críticas sobre parte dos membros da CPI que, segundo ele, trabalham contra a investigação e o estariam fazendo supostamente sob influência do poder econômico. “Existe uma pressão do poder econômico sobre os membros da CPI e existe um esvaziamento proposital da CPI”, diz o senador, que na última semana concluiu sua coleta de assinaturas para renovação da CPI, cujo prazo de funcionamento termina no dia 21 de setembro.
Falciani afirmou que outros bancos também atuam para facilitar a evasão de divisas no Brasil e no mundo. Segundo ele, bancos atuariam de forma ativa nesta equação, oferecendo a clientes de grosso calibre financeiro serviços dessa natureza, facilitando processos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Acrescentou ainda que parte desses montante é empregado no crime organizado. Daí a necessidade de mais tempo para que Falciani possa colaborar e seus dados possam ser analisados e investigados.A renovação do prazo de funcionamento da CPI é fundamental a partir da fala de Falciani. Ao colocar seu banco de dados a disposição da CPI, o engenheiro francês fez revelações surpreendentes. Disse que há muito mais contas de brasileiros na instituição e o número de beneficiários é bem maior do que os mais de 8 mil de que se tem notícia. Declarou ser capaz de apontar operadores e laranjas que atuam em nome de milionários.
A CPI foi formada no Senado justamente a partir dos vazamentos de Falciani, que revelaram uma movimentação de mais de US$ 100 bilhões na filial suíça do HSBC. Parte desse montante, US$ 7 bilhões distribuídos em 5.549 contas, abertas por mais de 8 mil clientes brasileiros. Falciani disse aos senadores ainda que, apesar das revelações que fez, nunca foi procurado pelo governo brasileiro para tratar do tema, os senadores foram o primeiro contato governamental brasileiro que teve.
Mesmo diante de tantas possibilidades oferecidas pelo delator, os senadores não parecem ver motivos para seguir com a CPI. As reuniões são cada vez mais raras e bem distante das sessões semanais que outras CPI atualmente em funcionamento no Congresso fazem. Randolfe diz que teve mais dificuldade em renovar a CPI agora do que quando da coleta de assinaturas para a instalação da mesma. Nem o presidente da CPI, senador Paulo Rocha (PT-PA), colocou seu autógrafo no requerimento de renovação.
Outros senadores tentam desqualificar Falcioni fazendo pairar sobre ele um manto de suspeição de que o francês estaria obtendo vantagens financeiras em troca dos vazamentos que fez, quando trabalhou na filial suíça do HSBC. Há também a crítica de que os dados apresentados por Falcioni são obtidos mediante um crime, ele tomou posse dos dados bancários de forma ilegal. O vice-presidente da CPI argumenta rebatendo a crítica.
“Se partíssemos desse pressuposto, seria inaceitável qualquer delação premiada da Operação Lava Jato. Então não teríamos Lava Jato hoje”, compara ele numa referência à operação que investiga fraudes em licitações da Petrobras. “Está havendo um movimento para desmoralizar a principal testemunha da CPI e, por conseguinte, desmoralizar a CPI”, diz Randolfe. “Investigar contas de brasileiros na agência do HSBC na Suíça cada vez mais está sendo um palavrão a ser pronunciado aqui no Congresso”.(IG)