Aparelho reduz tempo para tratar atresia do arco dentário
O estreitamento do céu da boca ou palato (chamada de atresia do arco dentário superior) atinge 90% dos pacientes com fissura labiopalatina e cerca de 20% da população em geral. O problema pode afetar a função mastigatória e a estética facial e sorriso da pessoa. O tratamento com aparelhos convencionais faz a expansão da maxila de forma homogênea (na frente e atrás, ou só na frente do arco dentário), necessitando de cerca de um ano de intervenção.
No intuito de aprimorar este tipo de tratamento, pesquisadores e profissionais do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, em Bauru, desenvolveram um aparelho ortodôntico com design inédito que traz benefícios clínicos e reduz em 50% (de um ano para seis meses) o tempo da intervenção.
A nova tecnologia — chamada aparelho expansor maxilar diferencial — se distingue dos aparelhos convencionais porque permite produzir expansões distintas na região anterior e posterior do arco dentário. “O expansor diferencial possibilita controlar a quantidade de expansão tanto na parte posterior como na anterior, eliminando a necessidade do uso de dois aparelhos. Reduz ainda o aparecimento de efeitos colaterais, como sobre-expansão dos dentes molares e problemas gengivais”, explica a professora Daniela Garib, uma das inventoras do aparelho.
A inovação resultou em depósito de pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) em 2011 e, desde 2014, está sendo produzida, em caráter experimental, por indústria norte-americana de materiais dentários.
Resultados positivos
Para investigar os resultados com o novo aparelho, a ortodontista Rita de Cássia Moura Carvalho Lauris, chefe técnica da Divisão de Odontologia do Centrinho, em sua tese de doutorado, testou e avaliou os efeitos da expansão rápida diferencial da maxila em pacientes com fissuras labiopalatinas e estreitamento do palato.
A pesquisa apontou que o expansor com abertura diferencial produziu efeitos ortopédicos e dentários semelhantes aos expansores convencionais, mas evitando a expansão posterior excessiva e reduzindo o tempo de tratamento ortodôntico antes do procedimento de enxerto ósseo alveolar.
“Os pacientes com fissuras passam por uma reabilitação complexa. Além dos benefícios clínicos, reduzir o tempo de uma etapa do tratamento traz impactos sociais muito positivos. São menos retornos, redução de despesas com viagem e hospedagem, além de menos faltas às aulas das crianças e ao trabalho dos pais”, salienta a pesquisadora Rita Lauris. O trabalho foi orientado pela professora Daniela Garib, que também é coordenadora do Programa de Pós-Graduação do HRAC e docente da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP.
Além da participação das pesquisadoras Daniela Garib e Rita Lauris, o desenvolvimento desse novo aparelho contou com o trabalho dos técnicos de laboratório do Centrinho, Lourival Garcia e Vagner Pereira.
Reconhecimento científico
Os resultados com o expansor diferencial têm obtido importante reconhecimento científico, nacional e internacionalmente. A tese de Rita Lauris,Avaliação dos efeitos dentoesqueléticos da expansão rápida diferencial da maxila em pacientes com fissura labiopalatina completa e bilateral, acaba de ser contemplada com menção honrosa na quarta edição do “Prêmio Tese Destaque USP”, na grande área Multidisciplinar. “Essa menção honrosa traz um reconhecimento pelo nosso trabalho em equipe. Um aparelho que foi desenvolvido e testado aqui no Centrinho e que, pelos resultados favoráveis, irá trazer benefícios à nossa rotina de reabilitação da fissura labiopalatina”, comemora a autora.
Para a orientadora da tese, professora Daniela Garib, a conquista representa uma certificação da qualidade da pesquisa que se faz no Centrinho e do Programa de Pós-Graduação da instituição. “É um estímulo para os pesquisadores do Hospital, que têm grande potencial de gerar novos conhecimentos, evidências e benefícios à sociedade, cumprindo o papel da Universidade”, pontua.
“Essa menção destaca a vocação científica do Centrinho-USP, sua forte atuação em ensino e pesquisa e a busca constante de nossos pesquisadores por inovações e soluções que beneficiem os pacientes”, afirma a superintendente do Hospital, Regina Célia Bortoleto Amantini.
Os resultados obtidos com o novo aparelho foram publicados em respeitados periódicos científicos internacionais, como o Journal of Clinical Orthodontics, dos Estados Unidos, em 2014. A invenção da equipe do Centrinho-USP também foi vencedora da Olimpíada USP de Inovação 2011, na categoria “Tecnologias da Saúde e Biológicas”.(USP)