Ilusão do marketing político desencantou eleitores
Após o marketing criar um mundo que não existe, durante a campanha, o que se percebe hoje é o desencanto do eleitorado com a democracia. O mais impressionante da pesquisa Datafolha não foi a queda na popularidade da presidente, mas a descrença. Se o voto não fosse obrigatório, 58% dos participantes deixariam de votar.
Isso dói. A luta pela democracia foi longa. Durante a ditadura, foram muitas as manifestações pelo voto, pelas eleições diretas. Três décadas depois o desencanto atingiu a maioria das pessoas.
O momento exige reflexão sincera, não apenas da presidente como do país inteiro, sobre os limites das campanhas políticas. Será que todas as armas eleitorais são lícitas? Acompanhamos a mistificação dos assuntos — como um candidato acusar o outro de planejar o fim do Bolsa-Família — sem que os tribunais eleitorais fizessem quase nada. Só no final da campanha, o TSE pediu que os candidatos se comportassem.
O marketing criou um mundo que não existe, e as pessoas se desencantaram quando a realidade chegou.
A baixa popularidade é um problema da presidente Dilma, uma consequência dos erros dela, cujo preço está sendo pago por nós.
A culpa não é de ninguém mais. As decisões que a presidente tomou levaram à perda de popularidade. Ao longo do primeiro mandato, ela foi muito alertada sobre seus erros.
Até março de 2013, a reprovação estava em 7%. A situação se complicou, vieram as manifestações de junho e cresceu o grupo de pessoas que avaliavam o governo como ruim ou péssimo.
Veio a campanha, e a presidente adotou o marketing do ilusionismo. Dizia que estava tudo bem e que o futuro seria melhor. Não reconheceu os problemas mesmo quando perguntada sobre eles. Não propôs soluções.
O governo acusava de pessimista quem avisava sobre os erros; seguiu a estratégia de culpar o mensageiro.
Dilma dizia, na campanha, que ajuste era coisa de tucano. Acusou os adversários de estarem preparando um tarifaço. No mandato passado, deixou a inflação perto do teto da meta, controlou preços e precisou, em 2015, corrigir os desequilíbrios que ela mesma criou.
Aquelas decisões do primeiro mandato, que provocaram tantas distorções, foram tomadas para manter a popularidade. Mas agora têm o efeito contrário. Hoje, a inflação está perigosamente alta; o PIB caminha para o terreno negativo, o desemprego vai se elevando e as contas estão desorganizadas. Nesse período, a reprovação ao governo foi de 7% para 65%. É o pior número desde o governo Collor.
O momento deve servir para uma análise dos erros. (Blog da Míriam Leitão)