Branda e prolongada
Passado o choque dos preços administrados, como da energia elétrica, a inflação vai começar a ceder. O aumento do desemprego vai diminuir a demanda por serviços, e os efeitos da alta do dólar sobre os preços ficarão mais suaves. Nesse contexto, o BC começará a cortar os juros no final do ano, dando um sinal positivo de que a pior fase do ajuste monetário ficou para trás. Esse é o cenário traçado pelo banco Citi, que estima o IPCA em 8% este ano e em 5,5% no ano que vem. Isso já seria suficiente para o início de um ciclo de corte na Selic.
— A economia já está devagar, e a inflação não vai ter força para se manter tão alta. Uma inflação em queda e uma sinalização do Banco Central de corte de juros vão ajudar a recuperar a confiança. Isso é o primeiro passo para que as empresas voltem a investir — disse.
O problema é que ainda assim não haverá uma recuperação forte, na visão do banco. Para este ano, a projeção é de queda de 1% no PIB, um tombo menor do que projeta a maior parte do mercado. Para o ano que vem, a estimativa é de crescimento de 0,7%. Depois disso, não passaremos de 2% ao ano.
— Ao contrário de 2009, quando tivemos uma desaceleração forte e uma recuperação rápida, agora teremos um cenário de recessão mais branda, porém, mais prolongada. Vamos crescer no máximo 2% em 2017 e 2018, mas temos que aprovar as reformas que reduzam custos — disse Hélio.
O executivo lembra que, nos últimos 10 anos, a participação do Brasil no comércio internacional caiu de 2,5% para 1,4%. Um dos caminhos para voltar a crescer é focar nas exportações, mas é preciso olhar menos para a América do Sul e buscar mercados “que façam a diferença”, como os Estados Unidos.
Cinco ajustes, sem reformas
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, enxerga cinco ajustes acontecendo no país. O primeiro, das contas públicas, com corte de gastos e aumento de impostos. O segundo, “parafiscal”, é a redução do crédito subsidiado pelo Tesouro. Há também a alta do dólar, para conter o déficit em conta-corrente; e a correção dos preços administrados, que ficaram congelados. Por fim, o aperto nos juros pelo Banco Central. “Ajustes não são reformas. Eles evitam uma crise maior, mas não dão competitividade”, disse Ilan em evento da Americas Society/Council of the Americas e Câmara Americana de Comércio (Amcham-Brasil), em São Paulo.
Três focos de atenção
No mesmo evento, Rafael Guedes, diretor-executivo da agência Fitch, alertou que o Brasil tem três fundamentos que destoam de outros países com a mesma classificação de risco. Há baixa expectativa de crescimento; forte déficit nominal e dívida bruta acima de 60% do PIB; e dificuldades políticas, com a queda de popularidade da presidente, escândalos de corrupção e fragmentação do Congresso. A nota brasileira está sob perspectiva negativa pela Fitch.
ANTECEDENTE. O economista Ignacio Crespo Rey, da Guide, diz que o mercado está de olho nos índices de confiança, que podem antecipar uma alta na bolsa.
VISÃO DE FORA. A consultoria Capital Economics acha que elevar a Selic acima de 13,75% trará mais perdas na atividade do que ganhos com a inflação.
PREÇO EM BAIXA. Expectativa é que a Opep mantenha o nível de produção de petróleo, hoje. Ações da Petrobras caíram 3,29% nos EUA, ontem.(Blog da Miriam Leitão)