PTB e DEM devem anunciar fusão em abril
A fusão entre o DEM e o PTB, cogitada até bem pouco tempo, apenas nos bastidores, tende a ser concretizada em breve. Depois de muitas conversas entre as lideranças, está cada vez mais avançado o processo entre as siglas. Na dianteira das negociações locais, o prefeito ACM Neto (DEM) e o deputado federal e ex-presidente nacional do PTB, Benito Gama, admitiram ontem os ajustes a fim de finalizarem a articulação. As legendas podem formar o terceiro maior partido no Congresso Nacional. A expectativa é que um relatório sobre o assunto, em âmbito nacional, seja concluído e o fato possa ser anunciado em maio deste ano. Há algum tempo têm surgido rumores a respeito do namoro entre os partidos na esfera nacional, movimento que já repercutiria na cercania do Poder Municipal.
O ex-dirigente Benito Gama fortaleceu a ideia nos últimos dias ao liderar as rodadas de conversas com os líderes de alguns estados. Segundo ele, para que o acordo seja finalizado faltam alguns ajustes, mas a questão caminha bem. “Está andando. Agora vamos concluir a conversa maior, que é a arrumação das coisas”, disse. Caso a fusão se configure, devem ser preservados o número 14 e o nome Partido Trabalhista Brasileiro.
“Caso realmente aconteça, será o fato político do ano, seremos a terceira maior força”, enfatizou Benito. Para reforçar o argumento, ele contabiliza a quantidade distribuída dentro de cada partido. “São 26 deputados federais do PTB e 21 do DEM, três senadores do PTB e cinco do DEM”, disse, citando a perspectiva de 47 parlamentares na Câmara e oito no Senado da República.
Considerado um dos maiores líderes do DEM no país, o prefeito ACM Neto demonstrou entusiasmo ao falar sobre a movimentação. “Sou a favor da fusão e venho trabalhando para isso desde o ano passado. Dos 27 estados, em 20 já está tudo acertado. Em sete temos conversado e as coisas estão avançando. Desde a semana passada equipes dos dois partidos estão trabalhando para que alguns problemas sejam superados”, declarou, ontem, ao site Bocão News. Apesar da perspectiva de avanço, Neto reconheceu que as diferenças de posicionamento político em alguns estados ainda atrapalham. “Estamos nos esforçando, talvez em algum estado a gente tenha mais dificuldade”, disse.
As especulações em torno das mudanças no DEM cresceram desde a última eleição. A cada pleito o partido tem saído menor, o que abriu a possibilidade de renovação. Antes de chegarem a um consenso, os democratas já teriam tentado discutir uma composição com o PSDB, aliado de longa data, com o Solidariedade e o PSC. Mas, os diálogos evoluíram mesmo com o PTB, onde houve demonstração de interesse mútuo. “Houve, digamos, um namoro e então começamos a conversar. A tendência é que dê certo”, acrescentou Benito. Neto, que tem sido um dos defensores do fortalecimento do partido, também sinalizou anseio ao mirar no aumento da bancada com a fusão. A esperança é que a junção entre os partidos atraia novos integrantes e alcance mais 50 cadeiras.
Hoje o DEM faz parte da base de oposição ao governo federal, por sua vez, o PTB prega uma postura independente. Na eleição presidencial, uma parte dos petebistas, entre eles Benito Gama, defendeu a aliança com o senador, então candidato a presidente da República, Aécio Neves. Tal movimento dividiu o partido. Na Bahia, por exemplo, o presidente estadual do PTB, prefeito de Sapeaçu, fez campanha a favor da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).
Junção pode trazer constrangimentos à aliança com Rui Costa
Apesar do lado positivo, a fusão também pode oferecer reveses políticas. Enquanto para o DEM, de bandeira oposicionista, os frutos podem ser grandes tendo em vista as eleições de 2016, para o PTB a negociação pode trazer problemas.
O partido. que irá completar 70 anos no dia 15 de abril, tem aliança em alguns estados com o PT, e esse é o caso da Bahia, onde a sigla petebista ajudou na eleição do governador Rui Costa (PT) e participa atualmente da gestão no estado. Com essa ligação, o partido foi agraciado com a indicação do presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder), José Lúcio Machado, em um dos maiores cargos da administração.
O deputado federal Benito Gama (PTB) minimiza a questão. Segundo o petebista, caso a fusão seja concretizada, ele irá sentar com o governador para conversar sobre o assunto. Questionado sobre uma possível retaliação, ele disse estar “acostumado” com os riscos e completou: “Não gosto de política com vetos”. O deputado disse que, “infelizmente, há possibilidade” de divergências em alguns estados. Consta que a aliança do PTB com o PT se estenderia pelo Nordeste, nos estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba. O presidente estadual do PTB, Jonival Lucas, não esconde a probabilidade de “incômodo”. “Caso haja a fusão, não nos sentiríamos tão confortáveis, tendo em vista que temos compromissos firmados com o governo do estado”.
Conforme Jonival, caso se configure, a questão deve ser bastante conversada com o governador. “Não estou participando da negociação. Está sendo uma decisão nacional. Vamos sentar pra ver como é que fica”, afirmou. Nos bastidores, consta que outras lideranças não desejariam um suposto rompimento com Rui neste momento. Seriam políticos do interior baiano, com atrelamento maior ao governo do estado.
No campo do DEM, alguns ainda tratam com cautela a ligação entre os partidos. O presidente estadual da sigla democrata, deputado federal José Carlos Aleluia, disse que “os ponteiros estão se acertando”. Indagado sobre a aproximação forte do PTB com o PT no estado, ele disse que essas diferenças podem ser resolvidas. “Cada dia é um dia. Não temos que antecipar problema e nem ficar olhando para o passado”, frisou. Aleluia rejeitou a possibilidade de, na hipótese da incorporação com o PTB, os democratas se tornarem aliados do PT. “Não. Esse é um princípio que não romperemos. O PT hoje não é apenas nosso adversário, mas é também adversário do País. São vistos como uma ameaça”, disparou.