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PP: o partido que tem uma coleção de escândalos

A divulgação da lista de políticos investigados por causa dos desvios na Petrobras revelou ao país graves suspeitas sobre figuras importantes, como os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE). Mas, numericamente, o partido mais atingido foi o PP. Nada menos que 32 nomes da sigla, vinte ainda com mandato no Congresso, passaram à condição de investigados.
Mesmo em tempos de corrupção desenfreada, o número assusta: 45% dos deputados federais e 60% dos senadores do PP estão na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Parte da explicação é clara. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, foi indicado pela sigla, e permaneceu na Petrobras entre 2003 e 2013, nos governos Lula e Dilma. Como aceitou fazer um acordo de delação premiada, entregou aos investigadores os nomes que sabia. Naturalmente, muitos deles são filiados ao PP. Isso não quer dizer que a legenda é a principal envolvida nos desvios da Petrobras. De qualquer forma, a reincidência impressiona.
O PP é neto da Arena, o partido de sustentação do regime militar. Naquele período, só havia uma alternativa: o oposicionista MDB. Por isso, desde sempre, o atual Partido Progressista serviu de abrigo para políticos interessados apenas em cargos, benesses do poder ou em brechas para desviar recursos públicos. É claro que, tanto naquela época quanto agora, também havia aqueles que aderiam à sigla por convicção ideológica e não se corromperam. Mas eles parecem nunca ter tomado as rédeas do partido.
A volta do pluripartidarismo causou cisões na antiga Arena, que se tornaria PDS. Na década de 1990, após a fusão do PDS com o Partido Democrata Cristão, nasceu o Partido Progressista Reformador (PPR), que mais tarde seria transformado em Partido Progressista Brasileiro (PPB), até virar o PP. Poucos oriundos do partido pró-ditadura ainda estão na ativa. Um deles é Paulo Maluf (SP), que não pode deixar o Brasil porque é procurado pela Interpol.
Se houvesse um mínimo de coerência ideológica na política brasileira, PP e PT estariam em campos opostos. Mas o Partido Progressista apoia o governo petista no plano federal há mais de uma década. Se não são programáticas, as razões da parceria certamente possuem relação com o esquema desvendado pela operação Lava Jato. São razões que passam por figuras como Paulo Roberto Costa, um dos criminosos confessos do esquema instalado para desviar recursos da Petrobras.
O indicado do PP se transformou em um intermediário dos pagamentos feitos a políticos da sigla. O objetivo final do loteamento era claro: o cargo na Petrobras significava poder sobre vastos recursos com parca fiscalização.
A lógica não era tão diferente da que regia o mensalão. O PP, como outros partidos, recebia sua parte na cota da corrupção e, em troca, mantinha o apoio ao governo. No mensalão, dois parlamentares do PP foram condenados: Pedro Henry (MT) e Pedro Corrêa (PE). Ambos ocupavam cargos de liderança na bancada do partido na Câmara – agora, reaparecem no escândalo do petrolão e integram o time dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal. É possível que o número de pepistas punidos seja, desta vez, muito maior.
Acostumado a ser coadjuvante do governo, o PP desperdiçou uma grande chance dez anos atrás. Quando Severino Cavalcanti (PE) presidiu a Câmara, em 2005, o partido caiu em desgraça. O enrolado Severino não completou um semestre no comando da Casa. Em 2012, como revelou VEJA, o então ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), ofereceu um “mensalinho” a parlamentares do PP que se mantivessem leais a seu grupo político. Na ocasião, Dilma encenou o já batido teatro de que foi o ministro quem pediu para deixar o cargo. Impune, Negromonte voltou aos noticiários na última semana por ser um dos nomes da lista de Janot.
Tantos filiados diferentes envolvidos em tantos casos de corrupção parecem ter tirado até mesmo o ímpeto de defesa do PP. Da lacônica resposta divulgada no sábado por Francisco Dornelles, vice-governador do Rio de Janeiro e presidente do PP na época dos fatos relatados pelo Ministério Público, não se extrai nenhuma parcela de indignação, surpresa ou repúdio. Apenas uma negação fria: “Todas as doações recebidas pelo PP e enviadas a candidatos do partido durante a gestão de Francisco Dornelles na presidência (2007-2013) tiveram como origem empresas domiciliadas no Brasil e legalmente aptas para fazer doações, as quais estão detalhadas no site do TSE”.
Em 2014, o Partido Progressista rachou na convenção que decidiria o posicionamento da sigla na eleição presidencial. Uma parcela expressiva dos votantes apoiava uma aliança com o tucano Aécio Neves. Mas uma manobra do presidente Ciro Nogueira assegurou o apoio à presidente Dilma Rousseff. Vê-se agora por que o esforço.
(Veja)

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