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Congresso contra Executivo

As ameaças que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão fazendo ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, são repetições da estratégia que já foi adotada pelo senador Fernando Collor, que também está na lista de investigados, contra o antecessor de Janot, Roberto Gurgel.Desqualificar o Procurador é uma defesa barata, e ameaçar boicotar sua eventual candidatura à recondução ao cargo, e até mesmo usar os poderes do Senado para destituí-lo, são abusos de poder em causa própria que não podem ter o apoio da sociedade.
A defesa da corporação sempre foi o que de melhor o Eduardo Cunha soube fazer desde antes de sua campanha para a presidência da Câmara. Ele é visto como o protetor dos parlamentares, aquele que vai dar autonomia à Câmara. Dizer que a culpa é do Executivo, e que o Palácio do Planalto quer jogar a crise no colo do Congresso é sua posição de defesa, assim como desqualificar o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.
O grande problema para a aliança governista é que nessa linha, o Congresso continua contra o Palácio do Planalto. O fato de Eduardo Cunha ontem na CPI ter dito que Janot fez política não tem a menor importância, por que quem vai decidir isso é o Supremo Tribunal Federal, e as investigações mostrarão quem tem culpa no cartório.
Mas enquanto ele tiver que atacar o Executivo para se defender, o Palácio do Planalto está com um problema. A briga entre o PMDB e o governo permanecerá, a crise vai se estender enquanto as investigações prosseguirem, e vão demorar bastante, numa visão otimista até o fim deste ano no mínimo.
O PT, que fez elogios a Cunha através de seu líder Sibá Machado, vai ficar entre a cruz e a caldeirinha. O elogio ontem foi até certo ponto, pois teve que discordar de Cunha quanto à responsabilidade ser “do outro lado da rua”, isto é, do Palácio do Planalto. Fiel defensor do PT, mas um político nada brilhante, Sibá Machado terá dificuldades de se equilibrar nessa linha tênue que separa sua fidelidade ao partido da solidariedade com os aliados acusados na Operação Lava-Jato.
Já Eduardo Cunha trafega com tranqüilidade por essas águas turvas, pois já percebeu que para se defender tem que defender sua corporação e atacar o Executivo. Está longe a fórmula que pacifique o PMDB e o Palácio do Planalto.
O próprio presidente do Congresso, Renan Calheiros, segue a mesma linha. Fez o acordo para a aprovação da nova tabela do Imposto de Renda diretamente com o ministro da Fazenda Joaquim Levy e logo em seguida criticou o governo, dizendo que ele “envelheceu” e que o acordo foi feito graças ao Congresso.
A aliança partidária está sob crítica permanente do PMDB, que quer mais espaço nas decisões e não sossegará enquanto não obtiver. Mas se se convencer de que o governo realmente envelheceu com menos de três meses, o PMDB se afastará cada vez mais.
Tanto Renan Calheiros quanto Eduardo Cunha precisam fechar acordos dentro do Congresso, e não com o governo. Por que se não tiverem o apoio da corporação, acabarão sendo pressionados para renunciar às presidências que exercem. Na verdade, esta deveria ser a atitude correta dos investigados, e alguns deputados já deixaram as comissões em que atuavam justamente por não encontrarem ambiente para continuar atuando enquanto estão sob o crivo da Justiça.
A linha de defesa que escolheram, afirmando que a lista do procurador Janot tem conotações políticas, faz com que se protejam com o apoio do Congresso, e o PT é que vai ficar com dificuldades para tratar do assunto. O senador Renan Calheiros deu uma demonstração de força ao conseguir que o veto da presidente Dilma ao aumento de 6,5% da tabela do Imposto de Renda não fosse derrubado.
A oposição, mais os dissidentes da base aliada, tiveram mais votos no plenário do que os governistas, mas não o suficiente para derrubar o veto. Isso significa que o governo continua em minoria no Congresso, e dependendo cada vez mais da boa vontade de Calheiros e Cunha, o que é uma situação no mínimo desconfortável para o Palácio do Planalto.( Blog do Merval)

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