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O muro brasileiro

Marco central do século 20, a queda do Muro de Berlim,
recentemente comemorada em seu 25 aniversário, não suscitou o debate sobre
outros muros. Mundo afora, ainda existem pelo menos cinco grandes a cumprir
papel deplorável.

Aquele com que Israel oprime a Palestina é o que mais se
aproxima, em termos simbólicos, dos muros brasileiros. Lá, uma elite militar
entre as mais avançadas do planeta submete um povo a quem só restam as pedras.
Aqui, séculos após o fim formal da escravidão e da proclamação de uma República
cínica porque restrita, muros nos mantêm como um dos países mais injustos e
opressões sociais se misturam entre si para manter intactas as estruturas de
acumulação.
Nosso esforço para alcançar pelo menos a democracia
capitalista da Europa de décadas atrás é recorrentemente ameaçado. Passaram-se
26 anos do fim “oficial” da ditadura de empresários e militares, um/a civil foi
eleito/a pela oitava vez ininterrupta e consecutiva (uma delas no Colégio
Eleitoral), mas nossa democracia permanece contida pelo muro construído pelos
herdeiros do Brasil colônia.
Como estratégia de disputa política, esses herdeiros do
poder reverberam hidrofobicamente, através do enorme alcance dos conglomerados
da comunicação, os piores preconceitos. Mesmo a legítima reeleição de Dilma é
recorrentemente questionada de forma velada ou aberta.
Claro que a presidenta tem sua parcela de responsabilidade
nesse processo. Na campanha, apelou à emoção de um discurso classista. Porém,
depois de reeleita, não assumiu abertamente a defesa das igualdades sociais, de
forma a disputar na sociedade a hegemonia necessária à conquista de uma agenda
de transformações estruturais rumo à democracia efetiva. Recusa-se a quebrar
ovos.
A sequência de reformas necessariamente começaria pela
desconcentração da propriedade das empresas de comunicação e das concessões de
rádios e tevês – algo que Europa e EUA já fizeram -, e inclui-se entre as
pré-condições para uma efetiva democracia. Tanto quanto a revogabilidade dos mandatos
e o fim do financiamento empresarial das campanhas.
Dilma se recusa a encarar a tarefa de implodir esse nosso
muro. Mas, sem enfrentá-lo, todas as opressões sociais continuarão a ter o
papel dramático que têm. Todas as reformas no Congresso serão inviáveis. E não
se conseguirá verdadeiramente democratizar o Brasil.

Talvez a relutância da presidenta se explique. Afinal, se
der centralidade à pauta da democratização da comunicação, o PT perderia uma de
suas principais estratégias. O partido se vitimiza diante dos abusos dos
conglomerados de comunicação e, em momentos de crise, chantageia a esquerda
social com o argumento de que só a unidade em torno de um nome seu conseguiria
evitar retrocesso. Como de novo fez em 2014 e como já começa a fazer para 2018,
possivelmente tendo em mente o nome de Lula.(BLOG DO NOBLAT)

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