É irracional a maneira como tratamos a água e o esgoto
Temos que pensar seriamente sobre saneamento e água no Brasil. Desde o início do ano era claro que o clima seria diferente em 2014. Mas com a proximidade do processo eleitoral, os governos federal e de São Paulo deixaram de tomar as medidas certas.
No primeiro caso, uma campanha de redução do consumo de energia elétrica diminuiria o uso das usinas térmicas, que gera luz mais cara, diferença que será paga pelos consumidores nos próximos anos.
Em São Paulo, o governo deveria ter decretado o racionamento de água, que já funciona na prática. O Chico Pinheiro conta que no apartamento dele em São Paulo há um aviso na portaria com os horários em que a água está disponível: apenas em uma parte do dia. Conversei semana passada com o governador reeleito Geraldo Alckmin e ele continua a negar o racionamento. A medida oficial tomada pelo governo foi dar desconto a quem economiza. Mas não há multa para quem consome mais. Revogou-se a lei econômica: um produto escasso ficou mais barato.
Os dois, Alckmin e a presidente Dilma, se encontraram na segunda-feira para discutir os projetos para garantir abastecimento de água em São Paulo. O governador me disse que o estado já isentou a água e o esgoto de impostos regionais, mas que a união continua cobrando contribuições sobre o consumo. A empresa estadual responsável pelo abastecimento recolhe R$ 600 mi ao ano dos consumidores e os envia em tributos à União. Há redução de impostos de carros, mas continua a tributação da água.
O Brasil trata mal a água. Quando ela cai do céu, não aproveitamos. As grandes cidades brasileiras não têm sistemas de captação da água da chuva, que é escoada para a rede de esgoto. Mais do que isso, jogamos esgoto na água dos rios que usamos para consumo humano. Enquanto isso, a descarga usa a água que passou pelo processo de tratamento.
É irracional a maneira como tratamos a água e o esgoto no Brasil.
Por Míriam Leitão