Acordo entre China e EUA pode influenciar outros países
Na última quarta-feira (12), Estados Unidos e China assinaram um acordo visando à redução das emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Embora os especialistas ainda considerem ser cedo para fazer previsões acerca do cumprimento das metas e prazos, já é possível considerar o aperto de mãos entre os presidentes como um avança na preservação ambiental.
O dióxido de carbono é um dos gases que contribuem para o efeito estufa. Sua liberação vem da queima de combustíveis fósseis e também das intervenções humanas prejudiciais ao ecossistema, como queimadas e desmatamentos. Os principais responsáveis pela liberação de Co2 na atmosfera são as indústrias e os transportes.
Enquanto os chineses se comprometeram a reduzir a emissão de combustíveis fósseis em até 2030, os norte americanos se propuseram a fazê-lo até 2025. O acordo foi comemorado, já que, juntos, os países são responsáveis por 45% dos gases poluentes lançados na atmosfera.
Agora a grande preocupação é se China e Estados Unidos irão cumprir o acordo. Para o professor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, Thomas Heye, “trata-se de um avanço no sentido que estabelece metas, mas se vai ser cumprido mesmo só o tempo dirá. Podemos dizer que o acordo já assinala a intenção. Existe a possibilidade de China e Estados Unidos conseguirem firmar essas metas, mas, se tem vontade, conforme estão dizendo, a gente vai ter que ver a longo prazo”.
Heye atenta para as consequências do não cumprimento dos termos condicionados no texto. “Se há possibilidade. Se esse acordo não acontecer, as emissões de gases poluentes vão continuar aumentando e, pela lógica, a diminuição do aquecimento planetário não vai acontecer”, disse, lembrando que Estados Unidos e China são os países que mais poluem.
Queimadas e desmatamentos ajudam a liberar gases que contribuem para o efeito estufa
Para o coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Ricardo Bitelo, o anúncio feito pelos dois países significa um avanço, mas ainda existem lacunas que precisam de atenção para que não se substitua um problema por outro. “O fato de essa posição ter sido colocada antes da Conferência de Paris ajuda a criar um momento para que outros países se inspirem. Porém, eles são os dois maiores emissores e essa acordo tem essa capacidade de liberar outros países. A questão é que a gente ainda depende da posição desses outros países”, pontuou, ressaltando que a decisão dos dois países foi tardia. “Me parece um pouco tarde, mas o texto diz que essa queda é até 2030, então, entende-se que ela poderia ser antecipada. Esse é o nosso principal ponto de atenção”, esclarece.
Bitelo disse ainda que “a China tem grande seriedade naquilo a que se propõe, eles conseguem cumprir metas até antes do prazo. Então, quando a China diz que até 2030 vai ter essa redução, eu também acredito que pode vir antes”. A preocupação do coordenador, contudo, é sobre a forma como o país fará a redução da emissão de Co2 na atmosfera. “Existe a possibilidade da China reduzir a participação do carvão, mas aumentar a participação nuclear, que traz o risco de acidentes e também a necessidade de gerenciar o rejeito nuclear”, mensura.
Sobre os Estados Unidos, Ricardo atenta para os entraves políticos que o presidente democrata Barack Obama enfrenta em um Congresso majoritarimente republicano. A oposição, inclusive, teria criticado a postura de Obama dizendo que ele teria assinado um acordo para que seu sucessor cumprisse. “Eu acredito que, por mais que o acordo tenha sido feito, o seu cumprimento vai depender muito do comportamento do congresso norte americano, que está extremamente desfavorável ao Obama. Os Estados Unidos estão em uma trajetória de exploração do gás natural de xisto. A princípio essa opção tem menos emissões que o gás carbono, mas também tem seus efeitos colaterais na natureza. Então isso é um ponto controverso, onde emissões de xisto não estão sendo totalmente mensuradas”, analisa.
Para ele, China e Estados Unidos terão um desafio em comum: “Conseguir trilhar um caminho limpo de carbono, sem cair em outras opções prejudiciais”. Outro ponto levantado por Bitelo é quebrar a ideia de que a redução da emissão de combustíveis fósseis tem, necessariamente, um impacto negativo na economia. O coordenador ressalta que a pesquisa por energias limpas gera empregos e movimenta a economia do país.
Sobre o Brasil, Ricardo lembra que “nós temos todo o potencial para oferecermos uma das melhores propostas. Por mais que tenhamos a problemática do desmatamento acontecendo, é inegável que as emissões caíram muito nos últimos anos. O Brasil tem um potencial muito grande de energias renováveis que podem ajudar a nossa transição energética”.(JB)