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Velha senhora

A inflação permanece rondando a economia brasileira. Alta demais, por tempo demais. No governo Dilma esta é a 13ª vez que o IPCA fica acima do teto da meta. A alta de setembro, de 0,57%, foi puxada por alimentos que, depois de três meses de tranquilidade, voltaram a pressionar. Reduzem-se as chances de que o ano termine com a inflação abaixo do limite máximo da meta.
As previsões de bancos e consultorias eram de um número menor para setembro. O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, esperava alta de 0,48%, em linha com projeções de outros especialistas, mas sabia, de véspera, que os vilões seriam as categorias “Alimentação e Bebidas” e “Transportes”. Esta última acelerou de 0,33% em agosto para 0,63% em setembro, com as passagens aéreas decolando 17,85%. O primeiro grupo, de alimentos e bebidas, subiu 0,78% principalmente pelo aumento da carne, que apenas em setembro encareceu 3,17%. Vai acumular alta de 20% no ano, de acordo com Cunha.
O próximo presidente do Brasil, não importando quem vença, vai receber o IPCA no teto. Em outubro, a taxa deve ficar, segundo Cunha, em 0,50%, um pouquinho menos do que o mesmo mês do ano passado. Mas em novembro, após as eleições, o governo deve reajustar a gasolina. O ministro Guido Mantega já disse que o combustível subirá. Isso pode fazer com que o índice de novembro supere 0,80%, levando a novo estouro da meta. Em dezembro, a taxa mensal vai ficar menor do que a do ano passado, que foi de 0,92%. Mesmo assim, o risco de não terminar o ano em 6,5% ou menos é grande.
Há um simbolismo no sistema de metas de inflação: acima de 6,5%, o Banco Central tem que escrever uma carta pública justificando o resultado. Mas, com carta ou sem carta, o fato é que o índice tem estado muito acima do que deveria estar sem que haja qualquer crise que explique o desempenho. O Brasil não está crescendo, não há um choque em área alguma. Mesmo alimentos, que subiram agora, não repetiram este ano a disparada do começo de 2013, quando o acumulado em 12 meses neste item ficou todo o primeiro semestre em torno de 14%, o que para muitos analistas foi um dos estopins dos movimentos de rua de junho.
Este ano, as grandes safras americanas de milho, trigo e soja reduziram a cotação de vários alimentos. Cereais e feijões vão ficar negativos, ou seja, ajudam o índice. Óleo de soja também terá queda. Água e esgoto — com a decisão estranha do governo de São Paulo de dar desconto para quem consome menos, mas não punir quem consumiu mais —, vai entrar também ajudando a reduzir a taxa.
Com toda essa ajuda e a economia estagnada, se o índice tiver resultados próximos de 0,65% nos dois últimos meses de 2014, calcula Luiz Roberto Cunha, o ano termina com a inflação no teto.
— Ou seja, o próximo governo vai ter muito trabalho com a inflação —, avisa o professor.
Alguns preços estão com alta forte em 2014 ou há vários anos. No setor de serviços, a carestia fica sempre em 8% ou mais. Energia teve queda de 15% em 2013 e vai fechar 2014 com alta de 15%. A carne bovina terminará o ano com um aumento de 20%. Um dos componentes do IPCA que tende a ficar sempre elevado é o salário de empregados domésticos. Desde 2005, sobe acima de 10%. Este ano a alta será de 11%, mas isso faz parte da valorização do trabalhador. Não terá reversão.
Sempre haverá aumentos por razões estruturais ou conjunturais de alguns grupos de preços. Por isso a taxa precisa ficar perto do centro da meta para acomodar as maiores variações. Quando o governo deixa a inflação próxima ao teto, qualquer evento, como foi a alta da carne em setembro, faz o índice estourar o limite. 
Por Míriam Leitão e Marcelo Loureiro

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