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Nenhum dos candidatos fala da realidade econômica

Volto à miséria intelectual do debate econômico em curso. Economistas do PSDB dizem que o mundo já voltou a crescer e o Brasil virou patinho feio. Economistas do PT dizem que mudou a matriz econômica brasileira e estamos no início de um novo ciclo de desenvolvimento econômico. São duas formas delirantes de populismo econômico e não há vivalma capaz de acordar para a realidade econômica.
Há um ano, Lawrence Summers alertou em reunião do FMI para a hipótese de mergulho global numa “estagnação secular”. A última vez em que um economista sério alertou para essa possibilidade foi em 1938 – Alvin Hansen, então Presidente da “American Economic Association”, alertava para os riscos de queda no crescimento demográfico, excesso de poupança e limites ao endividamento das famílias. Mas logo veio a Segunda Guerra, o “baby boom” do pós-guerra e o tema sumiu do mapa intelectual por gerações.
Depois da crise de 2008 e diante da experiência de duas décadas de estagnação da economia japonesa, o tema voltou à baila nas análises de Larry Summers e outros economistas heterodoxos, como Paul Krugman.
A hipótese de recuperação mundial em curso tem sido não apenas desmentida pelos fatos mas torna-se a cada dia mais improvável quando economistas sérios retomam a toada da estagnação secular: há enorme probabilidade da economia mundial ter entrado num período longo de crescimento muito baixo, envelhecimento da população no Primeiro Mundo e limites estreitos à capacidade de endividamento das novas gerações.
Entre outras consequências, surge uma situação descrita por Keynes como “armadilha da liquidez”. Juros baixos ou negativos não ajudam a ressuscitar os investimentos privados.
No caso brasileiro, a incorporação de vastas massas ao consumo via crédito público e subsídios ou transferências de renda ajuda a dar a impressão de que a crise global é apenas “marolinha”. Forçar a redução dos juros é igualmente inócuo. A desaceleração da China e a queda nos preços das commodities tornam o quadro mais angustiante.
A revolução das tecnologias de informação e comunicação (TICs) contribui para reduzir o custo do investimento (a quantidade de capital necessária para gerar um dado resultado). A poupança tende a empoçar e o investimento não aumenta mesmo que os juros sejam zero.
Até aqui nenhum candidato soube explicar porque a redução dos juros no Brasil não levou à retomada dos investimentos privados, enquanto o investimento público encontrou limites num ambiente de desconfiança crescente entre os investidores. As relações dessa situação paradoxal com a possível estagnação secular em escala global são ignoradas solenemente.
Talvez seja complexo demais discutir a estagnação global numa hora em que as paixões são decisivas para decidir uma eleição. Um debate mais informado, no entanto, seria útil para quem precisa enxergar alguns palmos além das urnas eletrônicas e dos debates televisivos das eleições presidenciais.
(Exame)

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