Em energia, as candidaturas têm telhado de vidro, mas só uma reconhece
No debate sobre energia, as duas candidaturas têm telhado de vidro. O PSDB foi o responsável pelo apagão de 2001, inesquecível, quando tivemos racionamento, e o PT colocou as empresas com problemas financeiros que serão pagos por nós, consequência da mudança de regras no setor.
Representante do PSDB, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, reconhece sem constrangimentos o erro que levou à crise de 2001, um ano seco. A escassez de chuva não é o suficiente para uma crise dessas proporções, também houve falta de planejamento. Adriano fala que a crise foi bem gerida, e que ao custo de R$ 21 bi foi mais barata do que está sendo a atual.
Essa é uma diferença entre ele e Mauricio Tolmasquim, da Empresa de Pesquisa Energética, indicado pela campanha do PT e que não reconhece a crise atual. Todos que conversam com o setor ouvem sobre a bola de neve que se formou a partir da MP 579, que endividou distribuidoras e ajudou a elevar o preço da energia no mercado à vista, onde também as geradoras têm ido comprar energia para honrar contratos de fornecimento, já que não têm conseguido produzir o total acordado porque falta água nos lagos das usinas. Adriano fala, citando o TCU, que a crise atual terá custo entre R$ 60 bi e R$ 100 bi; fontes do setor apontam para um custo mínimo de R$ 66 bi para reorganizar o setor depois das intervenções feitas pelo governo Dilma.
Quando falaram sobre o futuro, os dois prometeram diversificação da fonte. O PSDB quer dar mais previsibilidade na formação de preços, intervir menos e ter mais diálogo com o setor. O PT destaca os investimentos no pré-sal, que será financiador da educação.
Mas sobre o futuro não falaram tanto, até porque brigaram muito acerca do passado recente e remoto. Não me parece que seja uma questão de que o tempo torna mais fácil admitir erros do passado do que os do presente. Na época do apagão, em 2001, o governo FHC admitiu que havia errado e criou o comitê gestor da crise. Não foi um ano eleitoral como 2014, em que a crise tem sido empurrada com a barriga. O presidente Fernando Henrique foi à TV admitir o erro e contar como funcionaria o comitê, uma estratégia transparente que contou com a participação de especialistas que tomaram o controle do problema. É o que deve ser feito em situações assim.
Por Míriam Leitão