A mentira venceu a esperança
O Brasil é um país dividido. Dividido em sua percepção de futuro e de desenvolvimento. As eleições presidenciais demonstram isso de forma cabal e irrefutável. De um lado, pessoas que acreditam na possibilidade do crescimento a partir do trabalho e do desenvolvimento e de outro lado, parte da população que se contenta com políticas sociais que as favorece financeiramente e dão a tênue ilusão de progresso social.
Paulo Freire, pensador e educador brasileiro, trata como ingenuidade a crença na possibilidade das classes dominantes promoverem educação que permita aos dominados a compreensão das verdadeiras injustiças sociais que os cercam. Certamente, quando manifestou este pensamento, Freire o dirigia à classe dominante que permeava o cenário social no qual ele estava inserido. Entretanto, a história e dinâmica e neste movimento promove a mudança das classes dominantes.
O que vivenciamos hoje no Brasil é a ascensão de dominadores que se utilizam da ignorância – não confundam com falta de estudo – de grande parte da população para manter-se no poder. É claro que, a falta de oportunidades educacionais adequadas, onde a reflexão substitua o adestramento, é um fator importante de dominação. Mesmo indivíduos academicamente educados são insensíveis a realidade de desmando que os cercam e preferem apostar na manutenção de lideranças comprometidas com fatos extremante desabonadores do ponto de vista ético e administrativo.
Durante o processo eleitoral, assistimos a um festival de mentiras, manipulações e chantagens. Ações que, em sua grande maioria, visavam atingir ao brasileiro pobre, sem educação e, o mais grave, sem condição de reflexão crítica do que ocorre a seu redor. Artifícios típicos de governos totalitários e imbuídos do desejo de perpetuação no poder a todo custo. Destaca-se neste universo de lama às graves acusações imputadas à própria presidente da República como sabedora das ações que implicam no desvio de 10 bilhões de reais da Petrobras. Mesmo neste cenário a presidente tenta e consegue ser reeleita. Fica clara a falta de reflexão sobre fatos que atingem o país como todo em detrimento ao bem estar pessoal.
Particularmente, creio que o governo que ai está não será o que encontraremos em um ano. Face ao vulto dos escândalos, a gravidade dos fatos e a contundência das acusações, a sociedade brasileira não se manterá impassível. Ainda que, no momento da eleição, a mentira tenha vencido a esperança, o confronto entre a razão e os fatos não pode ser ignorado.
As graves acusações que pairam sobre a cabeça da atual presidente da República e de seus principais assessores devem ser investigadas e, se comprovadas, resultarão na cassação do mandato adquirido sob a égide do medo e da chantagem. Quem sabe neste momento, fique claro para muitos dos que foram às urnas votar em prol deste projeto de poder que a democracia exige reflexão sobre os atos e retidão de julgamento.
Neste momento, metade do Brasil encontra-se a pensar nas palavras de Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ater vergonha de ser honesto” .
Por Jorge Andrade